O balanço da TV em 2012

por Rodrigo Seabra

As séries de TV norte-americanas fecharam mais um ano bem positivo em 2012. Os veículos de mídia especializados em acompanhar e noticiar as séries já divulgaram suas listas de destaques do ano, com poucas alterações em relação ao período anterior, apenas talvez não tão unânimes e com um pouco mais de diversidade e mais menções, mas ainda bastante consistentes no que diz respeito aos principais nomes.

Sem elaborar uma lista própria nem ordenar exatamente quem vem em cada posição do ranking, O Pipoqueiro dá uma revisada nas opiniões dos veículos mais respeitáveis e mostra as séries apontadas como melhores (e piores) do ano que passou. Pra quem se lembra do texto anterior, a respeito de como foi a televisão norte-americana em 2011, as novidades não são muitas, já que o ano não foi favorável a séries estreantes – basta ver que a novata com maior audiência da TV aberta americana foi a fraca Revolution – mas ainda uma excelente safra para séries veteranas.

Por exemplo, as excepcionais Breaking Bad e Homeland se sagraram mais uma vez como as melhores coisas da TV em 2012. A primeira continuou apostando na alta qualidade que vem trazendo desde seu início. Prestes a concluir sua trajetória, em 2013, a quinta temporada fecha o cerco em torno do protagonista Walter White, que adota de vez a postura de criminoso cruel e esquece que um dia foi um pacato professor de química que somente buscava estabilidade para a família. Já Homeland brindou os espectadores com uma segunda temporada eletrizante, ainda que unanimemente denunciada por alguns deslizes narrativos em sua metade final, o que não diminui o impacto da grande série. Todo o elenco principal de ambas as séries merece as indicações que já conquistou e as acolhidas que terá nas premiações que veremos este ano.

As duas vitoriosas foram obrigadas a abrir espaço para a também veterana Mad Men, que ficou de fora das listas de 2011 por não ter tido episódios exibidos naquele ano, mas voltou com mais uma excelente leva de episódios no ano passado. Na quinta temporada, Don Draper e Roger Sterling deram um passo pro lado e deixaram as personagens femininas da série mostrarem diversos aspectos da emancipação trazida pelos anos 1960.

Entre outras menções que não desmerecem um punhado de outras séries de alto gabarito, está a inglesa Downton Abbey (ao lado), que foi descoberta em 2012 pelos americanos (especialmente os mais velhos e os hipsters) e desencadeou uma certa moda, sem desbancar as líderes, mas sendo bastante lembrada entre as melhores produções do ano. Também Game of Thrones, apesar de ter tido uma temporada mais fraca que a primeira, ganhou posições entre as melhores. Uma certa zebra acabou sendo The Walking Dead, que conquistou elogios e uma audiência espetacular em uma terceira temporada bastante forte, depois de amargar muitas críticas. É de se salientar que, mais uma vez, os dramas da TV a cabo deram um banho nas séries da TV aberta americana, com a sempre honrosa exceção de The Good Wife, mais uma vez considerada a melhor entre os canais abertos, seguida de perto por Parenthood.

O ano foi particularmente bom no ramo das comédias. Louie continuou na dianteira, mais uma vez elevada à condição de melhor série cômica da televisão no ano passado. Infelizmente, não a veremos na lista de melhores de 2013, porque seu manda-chuva, o hilário Louis C.K., anunciou que precisava de um descanso, e os episódios inéditos só voltam em 2014.

Na segunda posição, aí sim, uma novidade que chegou com tudo: a estreante Girls, da HBO, foi certamente a meia-hora mais falada de 2012, muito apontada pelos veículos especializados como o grande destaque entre as estreias do ano (talvez o único…). Ocasionalmente odiada por conta de suas personagens ultra-problemáticas e da falta de um humor escancarado, a série de Lena Durham (ao lado) ganhou elogios pela forma realista como retrata as mimadas e confusas jovens adultas da classe média nova-iorquina.

Community, a segunda colocada do ano anterior, teve mais uma temporada exemplar carregada de criatividade e mereceu menções elogiosas de praticamente todos os veículos especializados. Mas a verdade é que muitas comédias fecham o ano em um empate técnico de alta qualidade que favorece os fãs de boas risadas. Mais uma vez, temos grandes representantes nesse segmento, como Parks and Recreation, Happy Endings, 30 Rock, Apartment 23, Suburgatory e a louca animação Archer. Em tempo: desde sua primeira temporada, Modern Family continua não fazendo a lista de ninguém como “a melhor comédia da TV”, como querem nos fazer engolir algumas premiações por aí.

No quesito “piores do ano” – por que sempre é tão mais fácil apontá-los? – destacaram-se duas bobagens sem tamanho que foram rapidamente canceladas, com razão. A pretensa comédia Work It! trazia como grande atrativo homens se vestindo de mulher. Não precisa dizer mais, precisa? Aliás, quando fica claro que a segunda pretensa comédia trazia o eterno sem-graça Rob Schneider casado com uma mexicana e lidando com a família dela, também não é necessário muito esforço para entender o fracasso colossal de ¡Rob!. O lado ruim do ano culmina com a renovação da péssima comédia de estereótipos 2 Broke Girls para a segunda temporada. A inexplicável boa audiência da série da bela e engessada Kat Dennings (ao lado) só se justifica por dois fatores importantes: o da esquerda e o da direita.

Os demais comentários positivos do ano passado vão para séries que se recuperaram bem de temporadas terríveis, como Dexter e The Office; para aquelas que continuaram apresentando um bom trabalho nem sempre premiado e citado, mas sempre digno da maior consideração, como Boardwalk Empire e Bob’s Burgers; e para as séries que cresceram em sua proposta e devem ser exaltadas por isso, como American Horror Story e a comédia New Girl.

 A TV nunca esteve tão bem servida e, por isso, fica até difícil para a maioria dos fãs de séries se atualizarem com tanta programação de qualidade. Mas siga as recomendações acima e as aguardadas novidades que são prometidas para este ano (muitas continuações, e ainda The Following, House of Cards, Da Vinci’s Demons e o retorno de Arrested Development e de Michael J. Fox a um papel fixo, inspirado em si mesmo) e boa TV não faltará em 2013.

Homeland segue como uma das melhores séries da TV

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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