por Marcelo Seabra
Criado por James Patterson, o detetive e psicólogo Alex Cross é protagonista de uma longa lista de livros e já ganhou duas adaptações ao cinema, chegando este ano à terceira. Anteriormente vivido por Morgan Freeman, Cross agora é Tyler Perry em A Sombra do Inimigo (Alex Cross, 2012), longa que pretende começar uma nova franquia com o personagem mais jovem. A próxima aventura já está em desenvolvimento, mas esta nova é tão mal escrita e cheia de furos que a expectativa para outras não é das melhores.
O que havia sido feito em Beijos Que Matam (Kiss the Girls, 1997) e Na Teia da Aranha (Along Came a Spider, 2001) se repete: não é propriamente a adaptação de um livro específico de Patterson, mas uma mistura da trama principal de um com elementos de outros. A colcha de retalhos que resulta disso é frequentemente digna de risos, o que não é muito interessante quando se trata de um policial sobre um serial killer com gosto por tortura e assassinato. Ter um comediante conhecido por se vestir de mulher no papel principal não ajuda, mas Tyler Perry nem é o pior dos problemas. Ele sai de seu terreno habitual e deixa de lado momentaneamente sua amada Madea, personagem de uma série de filmes, programas de TV e peças criada e vivida por ele mesmo. Ao tentar dar um ar sereno a Cross, Perry evita mostrar emoções e praticamente não abre a boca para falar, o que torna necessário o uso de legendas até para nativos da língua inglesa.
O antagonista também deve ser uma figura forte para tornar a disputa interessante, e cabe a Matthew Fox (acima) viver o psicopata conhecido como Picasso. Lembrado pelas séries Party of Five e Lost, Fox passou um bom tempo na academia, raspou o cabelo e aprendeu todas as expressões faciais de um homicida exagerado, compondo um tipo bem careteiro e raso. Edward Burns (de Solteiros com Filhos, 2011) vive o parceiro e amigo de Cross, um policial que se acha muito bonito, o que podemos deduzir pelas expressões que o ator sustenta. Completando o elenco, temos participações menores de Giancarlo Esposito (da série Breaking Bad), Jean Reno (de Assalto ao Carro Blindado, de 2009), John C. McGinley (o Dr. Cox de Scrubs) e Cicely Tyson (de Histórias Cruzadas, 2011). Ninguém em um momento muito memorável, é importante ressaltar.
Alex Cross é um personagem cuidadosamente construído por Patterson livro a livro, com 20 histórias publicadas, e tem vendas expressivas para o mercado literário. Merecia, no mínimo, um diretor melhor que Rob Cohen, conhecido por bobagens às vezes divertidas, como Velozes e Furiosos (The Fast and the Furious, 2001), e na maioria apenas ruins, como Sociedade Secreta (The Skulls, 2000), Triplo X (Triple X, 2002) e Stealth (2005). Marc Moss, o roteirista, só trabalhou em Na Teia da Aranha, que já não é nenhuma beleza, e não tem mais nenhum trabalho na área, enquanto Kerry Williamson, sua dupla, estreia na função. Patterson devia ter aproveitado seu crédito como produtor para trazer gente mais capacitada, com uma bagagem boa. É por exemplos como esse que entendemos aqueles escritores que relutam tanto para venderem os direitos sobre suas obras.
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