por Marcelo Seabra
A máfia funciona mais ou menos como o governo de um país. Essa parece ser a ideia que fica após uma sessão de O Homem da Máfia (Killing Them Softly, 2012), nova parceria entre o diretor e roteirista Andrew Dominik e Brad Pitt, mesma dupla de O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford (2007). O ator mais uma vez mostra ser versátil e esperto o suficiente para não ficar preso à sua própria imagem, enquanto Dominik comprova ser um grande contador de histórias, seja em um faroeste histórico ou em um policial contemporâneo. E usar Johnny Cash e Velvet Underground na trilha só conta pontos a favor.
Pitt tem ótimas atuações em sua carreira, o que não significa que não tenha certos maneirismos que são repetidos com frequência. Mesmo assim, ele confere a seu Jackie Cogan o ar necessário: um sujeito razoavelmente inteligente e violento na mesma medida, que consegue circular bem tanto entre advogados importantes quanto entre a escória do pior nível. Ele é o sujeito que você vai querer contratar se precisar matar alguém ou, resumindo de um jeito simplista, se tiver um problema complicado para resolver. Ao mesmo tempo em que tenta ser solidário e companheiro, ele é prático e objetivo, e um tanto frio. Cogan prefere matar de forma suave, sem envolvimento emocional, como o título original indica, o que manteria seu profissionalismo.
O contexto em que a história é ambientada fica claro logo de cara: o ano é 2008, pouco antes da vitória de Obama nos Estados Unidos. A necessidade de Dominik de reforçar constantemente a situação econômica ruim e a falta de esperança no modelo vigente dos americanos cansa, ele poderia ter confiado um pouco mais na capacidade do público de entender isso mais sutilmente. Mas nada que deponha contra, e os discursos e matérias jornalísticas usados para dar um ar de realidade são até interessantes para criarem esse contraponto entre criminosos e políticos, algo muito familiar para o brasileiro. É desanimador saber que aquela confiança depositada em Obama não foi totalmente retribuída, já que a saúde do país não melhorou muito.
Apesar de alguns diálogos serem mais longos do que o necessário, o que torna alguns trechos um pouco cansativos, a construção dos personagens é rica e o desenrolar das situações é simples, e talvez por isso mesmo bem verossímil. Dominik se baseou em um livro de 1974, Cogan’s Trade, do falecido George V. Higgins. O autor descrevia bem o que estava acontecendo sem ser didático além da conta, o que situa sem ser desnecessariamente expositivo ou repetitivo. A linguagem utilizada é própria do submundo, e Pitt e seus colegas de cenas mantêm essa agilidade, trazendo a trama para dias mais próximos dos que vivemos, mesmo que com ar setentista. A época muda, mas os desafios e as armadilhas são os mesmos.
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