Bom policial com bons policiais

por Marcelo Seabra

Em cartaz nos cinemas, Marcados para Morrer (End of Watch, 2012) traz uma história ficcional que busca mostrar a realidade de policiais trabalhando em um distrito violento de Los Angeles. Tirando um exagero ou outro, o longa é bem sucedido em sua missão e, ao contrário de diversas produções recentes, é protagonizado por personagens decentes que realmente trabalham duro para proteger os cidadãos. Por isso, deve agradar, além do público em geral, aos próprios policiais, que frequentemente são mostrados como seres piores que os bandidos que prendem.

Um sujeito como David Ayer não pode ter seu próximo trabalho recebido com apenas boas expectativas. Ele faz questão de ser lembrado por Dia de Treinamento (Training Day, 2001), longa elogiado que deu a Denzel Washington um Oscar de melhor ator. Mas, ao mesmo tempo, ele escreveu e dirigiu Tempos de Violência (Harsh Times, 2005), uma bomba que nunca chega a lugar nenhum e dá raiva em que assiste. Entre as duas funções, ele participou de produções divertidas e esquecíveis como Velozes e Furiosos (The Fast and the Furious, 2001) e SWAT (2003) e de outras aborrecidas e até ruins, caso de A Face Oculta da Lei (Dark Blue, 2002) e Os Reis da Rua (Street Kings, 2008).

Em Marcados para Morrer, Ayer escreve e dirige e conta com Jake Gyllenhaal (de Contra o Tempo, 2011) e Michael Peña (de O Poder e a Lei, 2011) como parceiros que patrulham as ruas pelo departamento de polícia de Los Angeles. O roteiro é muito competente ao construir a relação dos dois, fica muito claro que eles fariam o necessário um pelo outro, como supostamente acontece na vida real. Acompanhamos a rotina da dupla ao longo do que parecem ser meses, já que o tempo vai passando. Enquanto isso, os personagens vão ganhando mais profundidade, sempre enfrentando os riscos da profissão. Eles devem ser os mais motivados e azarados policiais do departamento, já que um dia na vida deles parece ser mais movimentado que a carreira inteira de muitos.

Como o título nacional mal atribuído entrega, algumas ações de rotina dos dois vão colocá-los em rota de colisão com um importante cartel mexicano. Até que se chegue no terço final, há tiroteios, incêndios e mortes, movimentando bem a exibição. As imagens “profissionais” são mescladas com a câmera de Taylor (Gyllenhaal), que alega estar fazendo um curso de cinema e tem um projeto relacionado ao seu dia a dia. Nada de filmagens encontradas, que tudo indica ser uma moda ultrapassada. É apenas um recurso usado por Ayer para dar um ar mais verídico à produção, além de servir para Taylor provocar um colega com quem tem atritos usuais.

Além de um roteiro bem amarrado e uma direção segura de Ayer, Marcados para Morrer é muito beneficiado por seus atores. Peña e Gyllenhaal dividem a responsabilidade com equilíbrio, ambos com ótima presença em cena e uma química interessante e necessária aos papéis. As garotas que os acompanham, Natalie Martinez (de Corrida Mortal, 2008) e Anna Kendrick (de 50%, 2011), cumprem a pequena tarefa que lhes cabe, assim como os outros policiais que aparecem, nada abaixo da média. Como o próprio filme.

Momento de descontração em meio a rotina violenta

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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