por Marcelo Seabra
Parece óbvio que, se viagens no tempo pudessem ser realizadas, elas logo seriam usadas para fins escusos. Alguém iria querer levar vantagem. Isso não foi um problema para Doc Brown e Marty McFly? Pois não demoraria a baixarem uma lei proibindo essa prática. E, claro, haveria quem desobedecesse a essa lei, já que o que é proibido é ainda mais divertido, como traficar bebidas alcoólicas na década de 30 nos Estados Unidos. É desse ponto que parte Looper: Assassinos do Futuro (2012), já em cartaz nos cinemas.
Com todo jeito de adaptação de quadrinhos – e não é – e sem ninguém que possa ser chamado de herói, o longa nos apresenta a Joe, um assassino que vive no ano de 2042. Sua função, como vários outros, é simplesmente ir para um campo fora da cidade, aguardar e apertar o gatilho. Sua vítima vai aparecer na sua frente, devidamente amarrada, pronta para o abate. Essas pessoas são enviadas de 30 anos no futuro, quando é impossível sumir com uma pessoa e não ser incriminado. Por isso, o grande vilão de 2072 envia seus desafetos de volta para os Loopers eliminarem. Assim, a pessoa some, os problemas são resolvidos e os assassinos são bem remunerados.
O problema é saber que, quando seus serviços não forem mais necessários, é você quem entrará na dança: seu eu do futuro será enviado de volta e caberá a você mesmo matá-lo (ou seria se matar?) e fechar o seu Loop. Assim, o Looper sabe que viverá apenas mais 30 anos, tendo que aproveitar ao máximo a riqueza que acumulou e o tempo que lhe resta. Esse universo intrincado daria um arco muito bacana nas mãos de uma boa dupla de roteirista e desenhista, ou até uma série mais duradoura. Algo como Estrada para a Perdição (Road to Perdition, 2002), adaptação de uma graphic novel em que torcemos para o menos imoral dos personagens, sendo que ninguém é nada perto de bom.
Como sempre acontece em tramas que envolvem viagens temporais, questões complicadas são levantadas. O tal efeito borboleta está sempre rondando: se algo é alterado no passado, todo o futuro sofrerá consequências. Ao invés de se perder tempo com explicações, Willis se resume a mencionar que as memórias ficam nubladas nos momentos de ajustes e que isso é a última coisa com que devem se preocupar. Na trilogia De Volta para o Futuro, aprendemos com Doc Brown que dois corpos da mesma pessoa não devem ocupar a mesma época, as conseqüências seriam desastrosas. Aqui, isso não é problema, e os diálogos mais interessantes são travados entre as duas versões de Joe.
A exemplo de Primer (2008), um construto faz a pessoa viajar nas linhas temporais, mas isso não é o foco. Não se perde tempo explicando o funcionamento, o mecanismo é prático e é isso o que importa. E o ritmo de ação desenfreada não se mantém durante toda a exibição, desacelerando bastante do meio em diante. O que não é demérito de forma alguma, pelo contrário: traz um outro ritmo, que vem acompanhado de outros conflitos e de um clima ao gênero de A Testemunha (Witness, 1985).
Ao contrário de outras grandes estreias do cinemão americano, Looper oferece um pouco mais do que tiros e explosões. Uma boa história que é bem desenvolvida, atuações competentes (além dos dois protagonistas, ainda Emily Blunt, Paul Dano e Jeff Daniels), belas imagens e um final condizente com o que acompanhamos pelas duas horas anteriores. Mérito do diretor e roteirista Rian Johnson e incentivo suficiente para que se confira seus trabalhos anteriores, A Ponta de um Crime (Brick, 2005) e Vigaristas (Brothers Bloom, 2008).
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