Mais um trabalho equivocado de Robert De Niro

por Marcelo Seabra

Depois do elogiado Enterrado Vivo (Buried, 2010), era inevitável que o diretor Rodrigo Cortés e o roteirista Chris Sparling fossem cercados de expectativa sobre seus próximos trabalhos. Sparling escreveu ATM (ou Armadilha, de 2012) e mostrou que não vai sempre acertar o alvo. Cortés, com o novo Poder Paranormal (Red Lights, 2012), comprova que tem estilo na condução de um filme, mas poderia contar com um bom roteirista. A exemplo de M. Night Shyamalan, ele perde a mão quando a história precisa se resolver e joga para cima tudo de bom que havia criado até então.

Como também acontece em A Colheita do Mal (The Reaping, 2007), O Último Exorcismo (The Last Exorcism, 2011) e O Despertar (Awakening, 2011), os protagonistas aqui são profissionais especializados em revelar fraudes de supostos paranormais. Sempre se constata que há vários impostores nesse “mercado”, dando esperanças e enganando pessoas em situação frágil, de luto ou algo similar. E os filmes sempre enfocam uma possibilidade de que as manifestações do além sejam reais, levando para um clímax em que a verdade aparecerá. Às vezes, de forma satisfatória, como nos casos acima, mas só às vezes.

Sigourney Weaver, a eterna Tenente Ripley, vive a Professora Margaret Matheson, que divide seu tempo entre dar aulas e investigar lugares considerados assombrados e outros fenômenos não explicados. Seu auxiliar, o físico Tom Buckley (Cillian Murphy, o Espantalho da trilogia Batman), a acompanha em ambos os trabalhos dando o suporte necessário e dirigindo o carro nas viagens. Como atrai mais popularidade acreditar no sobrenatural que o contrário, o departamento deles na faculdade não anda bem das pernas, ao contrário da concorrência representada pelo professor de Toby Jones (de Capitão América, 2011).

Paralelamente, conhecemos Simon Silver (Robert De Niro, de Sem Limites, 2011), um médium cego que, depois de causar sensação com suas demonstrações públicas (e bem remuneradas) de dons sobrenaturais na década de 70, sumiu por 30 anos. Da mesma forma repentina, ele reaparece e retoma o circuito de shows, mobilizando milhares de pessoas e embolsando uma boa grana. Buckley começa a ficar cada vez mais curioso sobre Silver, mas algo do passado faz com que Margaret sempre recuse a proposta de investigá-lo. O filme começa a desandar quando Silver passa a ter mais destaque na trama, mostrando os buracos na concepção do personagem.

Para situar o leitor, tomemos para comparação O Ilusionista (The Ilusionist, 2006). Como pode um filme se construir sobre um mistério que em momento algum é explicado? Isso, sim, é uma fraude. No caso de Poder Paranormal, há uma resolução, ela só não é satisfatória, o que dá na mesma. Ou seja: o motivo de o filme existir cai por terra pela fragilidade de suas revelações, que deveriam deixar o espectador no mínimo intrigado, surpreso ou embasbacado. Uma coisa é um filme, em sua simplicidade ou engenho, te enganar e continuar fazendo sentido. Outra, é ele se enfraquecer à medida que se desenvolve. E Cortés faz a boa opção de não apelar para sustos juvenis, mas erra ao enquadrar personagens e situações de que não se tinha mais o que tirar, buscando gerar tensão de nada.

Outra triste constatação que se reafirma é a facilidade com que um ator do porte de Robert De Niro, responsável por excelentes momentos do cinema, vem se unindo a projetos duvidosos e até fadados ao fracasso. Tudo no piloto automático, sem exigir qualquer esforço. Com cinco trabalhos em um mesmo ano e cometendo atrocidades como Noite de Ano Novo, de 2011, dá vontade de ajudar o ator a arrumar mais empregos, porque as contas a pagar devem estar se multiplicando. Desde o início dos anos 2000, tem ficado cada vez mais difícil achar algo de bom ligado a ele, em meio a coisas como Showtime (2002), O Enviado (2004), O Amigo Oculto (2005), Fora de Controle (2008) ou Homens em Fúria (2010) e a saga da família Focker. Com Desafio no Bronx (1993) e O Bom Pastor (2006) no currículo de diretor, ele deveria se dedicar mais à função.

Uma bola fora não é o suficiente para deixar Cortés de lado. Da minha parte, ele continua sendo digno de confiança – OK, Sparling também. Seria uma tentativa de buscar alguma garantia de sucesso repetir a parceria, e é louvável que eles tenham se aventurado a novos rumos. Mas o caminho certo continua enevoado para ambos.

O diretor e roteirista Cortés levou seu elenco ao Festival de Sundance em janeiro

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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