Liam Neeson vai no mano a mano com lobos

por Marcelo Seabra

Há alguns anos, mais especificamente em 2002, Joe Carnahan chamou a atenção com um filme escrito e dirigido por ele, uma pérola policial chamada Narc. O mais interessante era o fato de o filme ser bem simples, sem efeitos visuais ou qualquer perfumaria que tiraria o foco do que realmente importava: a história. Em 2011, com A Perseguição (The Grey), ele parece ter voltado à boa forma se atendo ao básico. Os personagens são interessantes, suas ações fazem sentido e a tensão segue em um crescendo até um final bem satisfatório.

Depois de trazer de volta à vida o Esquadrão Classe A (The A-Team, 2010), Carnahan buscou uma história mais simples e chamou novamente Liam Neeson, o chefe do time A, para ser seu protagonista. Neeson, cada vez mais se jogando em papéis de herói de ação, ganha aqui seu melhor papel desde que começou a se aventurar nesse filão. Ele é durão, faz o tipo misterioso, mas acabamos conhecendo-o melhor e ele deixa transparecer um certo sentimentalismo, mostrando que não é o típico machão raso do cinema pipoca.

Ottway, o tal sujeito vivido por Neeson, é contratado pela companhia para matar os lobos que podem trazer problemas. Ele acompanha um grupo que trabalha com extração de petróleo no Alasca e deve protegê-los dos animais que espreitam, só esperando um vacilo. Ao pegarem um avião com o tempo bem ruim, as coisas começam a dar errado e apenas sete sobrevivem à queda. Mal sabiam eles que a luta estaria só no começo: um frio intenso castigando, perdidos no meio do nada e já não se via mais o avião em meio à neve, dificultando um resgate hipotético. Para melhorar, eles logo se vêem cercados por lobos cinzentos (daí o título original).

A parte mais interessante do filme começa quando os sete tentam se organizar. Ottway, por conhecer mais os animais e parecer saber lidar melhor com aquela situação, assume a liderança, não sem um membro do grupo ficar contra. Eles começam, então, a se conhecer, a bolar planos de sobrevivência, a adotar certos cuidados e a fugir. Cada personalidade começa a aflorar, umas mais que outras, e as relações entre eles se intensificam. Afinal, a sobrevivência de um pode depender do outro, e são várias as formas de morrer.

A Perseguição é baseado num conto de Ian Mackenzie Jeffers (roteirista de Sentença de Morte, 2007), Ghost Walker, e o próprio escreveu o roteiro. A referência a Vivos (Alive, 2003), longa sobre o time de rúgbi que cai nos Andes, é tão óbvia que um comentário sobre isso parte de um dos personagens. A diferença é que os jovens não tinham mais esse elemento contra, os lobos, mas também não tinham Neeson para liderá-los. O ator está firme como nunca e o filme gira em torno dele, colocando o público em sua torcida. Nada mal para um longa que poderia ter sido nada além de mais uma ação descerebrada para disputar espaço nas prateleiras de locadoras. Para quem perdeu nos cinemas, basta levar para casa.

Se correr, o bicho pega…

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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