por Marcelo Seabra
João Miguel, ator experiente que chamou bastante atenção no ótimo Estômago (2007) e foi visto recentemente em Xingu (2012), é a alma do filme. E, talvez, o coração seja o garoto Vinícius Nascimento. É a química entre os dois que faz as coisas acontecerem. Apesar de alguns clichês quanto às mudanças de humor e ponto de vista dos personagens, os dois encarnam bem os seus papéis e passamos a acreditar naquela relação, por mais formulaica que ela seja. Vinícius, escolhido em teste entre 800 meninos e já com alguma experiência (como em Ó Paí, Ó, de 2007), chega a roubar a cena quando João Miguel permite, e o elenco principal é completado por Dira Paes e Ângelo Antônio, de Dois Filhos…, além de Ludmila Rosa (de Seja o que Deus Quiser, 2002).
Quando a história começa, conhecemos o caminhoneiro João, um sujeito amargurado que tem as músicas de Roberto Carlos como trilha sonora de sua vida – canções que invocam dor e tristeza. Muito a contragosto, ele aceita dar carona ao jovem Duda, órfão de mãe que espera encontrar o pai que nunca conheceu. À medida que a relação entre eles se desenvolve, conhecemos melhor João e as tragédias de sua vida, quase sempre com o Rei (ou versões de outros artistas) tocando. É fato que Roberto Carlos não costuma facilitar a utilização de suas músicas no cinema, mas ele permitiu, de uma lista de 12 opções, que Silveira usasse quatro, e por uma quantia módica. Engraçado que Sentado à Beira do Caminho não é uma delas.
Através de flashbacks, descobrimos o que houve com João e com as moças vividas por Dira e Ludmila. É estranho ouvir a primeira manifestar seu desejo de sair da pequena cidade onde eles moravam, no interior de São Paulo, por ter grandes planos, e reencontrá-la no interior de Pernambuco. Será que houve tanta diferença assim entre as duas cidades? Talvez ela, como os demais, não conseguiu chegar exatamente aonde planejava. E a cada virada de rumo da história, temos uma mensagem de caminhão para nos resumir o que está acontecendo, uma forma bem bolada, porém desnecessária, de dar recados ao público, que parece precisar que lhe digam o que pensar. Sorte que a câmera logo volta à dupla de protagonistas e nos vemos mais uma vez ligados àquelas figuras carismáticas.
Exibido na abertura do Cine PE – Festival do Audiovisual, em Olinda, À Beira do Caminho foi prejudicado por falhas no sistema de som. Problemas superados e desculpas divulgadas pela organização do evento, nada menos que cinco prêmios foram conquistados: melhor filme, ator (João Miguel), roteiro (Patrícia Andrade), o prêmio do júri popular e o Gilberto Freyre, “uma honraria especial destinada à produção de longa-metragem que melhor expresse a valorização da identidade nacional”, segundo o site do Cine PE. Ao agradecer, Breno Silveira afirmou que seus filmes sempre serão sobre a cultura brasileira, buscando atingir o máximo de público possível. Ele subiu ao palco acompanhado pelas filhas, que homenageou com os prêmios. A esposa, Renata, faleceu há pouco, e o longa é dedicado a ela.
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Nossa, Marcelo, seu texto é uma delícia de ler. É cativante e informativo. Já estou me coçando para assistir ao filme... principalmente considerando o ator principal, que acho demais. Você tem a "cara" do pessoal do Cinema em Cena. Aquela galera do "mal" é demais também. Parabéns!
Obrigado, Juscelene!
Gostei dos seus esclarecimentos! Muito informativo e gostoso de ler. Estou através do seus textos até tomando mais gosto por filmes!! Abraços!!
Naterce, acho que todos que escrevem sobre cinema gostariam de receber um elogio desses! Tomara que você assista a ótimos filmes e continue me acompanhando!
Abraço!