Roteiro e Pattinson tentam derrubar clássico francês

por Marcelo Seabra

Por algum motivo, acharam que um clássico da literatura francesa precisava apenas de um rostinho bonito para ganhar vida adequadamente. Contrataram, então, o eterno vampiro crepuscular Robert Pattinson que, mais uma vez, prova precisar urgentemente de outra profissão. No entanto, dá para apreciar Bel Ami (ou, no Brasil, O Sedutor, de 2012) por suas outras qualidades. Afinal, trata-se de uma ótima peça de Guy de Maupassant, diversas vezes adaptada, e temos a presença de três boas atrizes.

Bel Ami (ou bom amigo, do francês) é o apelido que Georges Duroy (Pattinson) ganha de uma criança logo que entra no convívio da alta classe parisiense do fim do século XIX. Sem um tostão, após dar baixa no exército, Duroy chega a Paris e dá a sorte de encontrar um antigo conhecido de armas que conseguiu se estabelecer como editor de política de um grande jornal local, Charles Forestier (Philip Glenister, da série Life on Mars). Convidado para um jantar, ele logo descobre que são as esposas que dão as cartas, manipulando os maridos.

A pergunta que imediatamente vem incomodar é: por que aquelas mulheres inteligentes e poderosas cairiam na conversa de Duroy? Teria ele um charme irresistível? Suas vítimas em potencial são Uma Thurman (a musa de Tarantino), Kristin Scott Thomas (a tia Mimi de O Garoto de Liverpool, de 2011) e Christina Ricci (da recém-cancelada Pan Am – ao lado). Fica a impressão de que a história foi suprimida pelo roteiro da novata Rachel Bennette, muita coisa é apressada e ficamos sem algumas explicações importantes. Algumas cenas com Duroy acabam provando o contrário do que deveriam: que ele não consegue nem mesmo manter uma conversa menos fútil.

Alguns filmes dependem bastante de seus protagonistas, e esse é o caso aqui. Leonardo DiCaprio, desde o início de sua carreira, fez ótimas escolhas de diretores e deve ter aprendido muito com eles para ter chegado onde chegou. Pattinson não demonstra a mesma sabedoria e os diretores teatrais Declan Donnellan e Nick Ormerod, fazendo sua estreia no cinema, não têm a experiência necessária. Ou talvez o problema seja pura e simplesmente a incapacidade do ator de interpretar. Assim como sua colega de Crepúsculo (e namorada, ou ex, sei lá) Kristen Stewart, ele se resume a meia dúzia de expressões faciais, nem sempre usadas na hora certa. Mesmo a sua beleza, que teoricamente seria inquestionável, não funciona sob certos enquadramentos e jogos de luzes, dando-lhe um quê monstruoso. E a câmera acaba se perdendo inexplicavelmente na cara de Pattinson, e sobram closes.

A graça de assistir a Bel Ami, além das três competentes atrizes, é perceber a trama de Maupassant que serviu de base, mesmo que mal aproveitada. O alpinismo social é um tema muito rico e interessante e a França tem um histórico de personagens bem construídos. Duroy lembra o Visconde de Valmont de As Ligações Perigosas, de Chordelos de Laclos, mas vai além por não agir apenas por diversão, mas por necessidade. Ser pobre é algo que ele não vai tolerar, não se trata apenas de espantar o tédio. Apesar de ser esta a cara de Pattinson.

Essa é uma das poucas expressões do rapaz – e não diz nada!

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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