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Mantenha distância do mendigo com a espingarda

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Em 2007, os (algumas vezes supervalorizados) diretores Quentin Tarantino (Pulp Fiction, Cães de Aluguel, Bastardos Inglórios) e Robert Rodriguez (Sin City, a série Pequenos Espiões) se reuniram em um projeto intitulado Grindhouse. A ideia, então, era prestar homenagem aos filmes dos anos 1950 a 1970, época em que eram comuns produções com alienígenas ou relacionadas à ameaça atômica. Nessas décadas, por muitas vezes, os cinemas exibiam dois filmes pelo preço de um, com trailers entre um e outro (quem é de Belo Horizonte lembra-se que, nos anos 1980, essa prática era comum em cinemas no centro da cidade, que sempre exibiam um filme pornográfico seguido de uma produção chinesa de kung fu) e foi isso que Grindhouse queria emular. Assim sendo, Tarantino produziu e dirigiu o ruim À Prova de Morte e Robert Rodriguez fez o mesmo no péssimo Planeta Terror. Entre um e outro, os diretores chamaram amigos para produzir diversos trailers tão ruins – ou mesmo piores – do que os longa metragens que eles separavam.

Por algum motivo qualquer, algumas pessoas viram que desses trailers falsos poderia sair alguma coisa boa. Logo foi anunciado que um dos filmes falsos, Machete, seria produzido. O filme que resultou disso é, no máximo, assistível se você é fã da violência muitas vezes sem sentido que caracteriza os filmes dos diretores acima – ainda que ambos sejam bons contadores de histórias, quando querem ser.

Na rastro de Machete, em 2011, o diretor Jason Eisener, em sua estreia em longa metragens, decidiu desenvolver outro dos trailers de Grindhouse, Hobo with a Shotgun, cuja direção coube a ele mesmo. Sabe quando você vê um trailer e pensa: “putz, esse filme deve ser um lixo?” e assiste à produção e ela o surpreende positivamente? Pois é, não é o que acontece aqui. Hobo with a Shotgun (que, em tradução livre, seria algo como “mendigo com uma espingarda” e chegou ao Brasil com o título genérico O Vingador) não pode ser considerado um filme ruim. Teria que melhorar muito para alcançar essa classificação.

Estrelado por um Rutger Hauer (de Blade Runner, A Morte Pede Carona e Batman Begins) que só pode ter entrado nessa por estar em apertos financeiros, o “filme” tem um fiapo de história. Hauer, o mendigo sem nome, chega a uma cidade dominada pela máfia. A princípio, ele passa ao largo de tudo de ruim que acontece na cidade, até que, depois de ser surrado por alguns dos marginais que dominam a cidade, é socorrido pela prostituta Ally (uma tal Molly Dunsworth – acima). Eventualmente, Ally é perturbada pelos mesmos marginais e o mendigo – que juntava dinheiro para comprar um cortador de gramas que, pelo que deu pra entender, o lembra de seu passado (uma motivação esdrúxula, já que o sujeito mora nas ruas) – retribui o favor salvando sua vida. Não só isso, mas usa suas economias para comprar uma espingarda e sair distribuindo sua justiça pela cidade (onde ele arruma dinheiro para comprar a munição é algo que, claro, não precisa de explicação).

Com um elenco formado por maus atores de televisão, cujo menos desconhecido é Gregory Smith (de O Patriota e das séries Everwood e Rookie Blue), personagens unidimensionais e uma “história” que reaproveita todos os clichês ruins dos filmes trash dos anos 1970, Hobo with a Shotgun (ou O Vingador, está nas locadoras daqui) não vale nem o tempo que você iria gastar para baixar uma cópia pirata, muito menos ir a uma locadora para pegar. Se a ideia de Jason Eisener era homenagear os filmes ruins dos anos 1970, assim como Planeta Terror, Machete e A Prova de Morte, seu objetivo foi alcançado. Se a ideia for “quanto pior, maior é a homenagem”, correu tudo muito bem.

“Quem sabe, assim, eu pago as minhas contas?”

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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