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Maníaco do caixa rápido não sustenta um longa

por Marcelo Seabra

Três colegas de trabalho vão sacar dinheiro em um caixa rápido. No Brasil, o problema é a saidinha de banco. No filme A Armadilha (ATM, 2012), o que realmente atrapalha é o maníaco do lado de fora, dando demonstrações gratuitas do quanto é louco. Os três se vêem encurralados em um espaço físico relativamente pequeno, com frio e com medo do sujeito que parece jogar com eles. Se o roteiro foi escrito por Chris Sparling, do tenso Enterrado Vivo (Buried, 2010), poderia dar coisa boa. Valeria, por isso, uma conferida.

Dessa ideia de colocar a história num lugar apertado já surgiram bons longas, como Por Um Fio (Phone Booth, 2002) e o próprio Enterrado Vivo, ambientado em um caixão. Mas também veio o recente Demônio (Devil, 2010), fraco e bobo até mandar parar. A Armadilha passou despercebido nos Estados Unidos em março e só agora chega ao Brasil, tentando ganhar algum dinheiro com a moda de psicopatas típicos dos anos 90, aqueles com motivos frívolos ou até sem nenhum. Ele quer ver no que aquilo vai dar, quer brincar de pega-pega com jovens que, se mortos, não farão falta ao mundo.

Para um curta-metragem, a premissa seria fantástica, mas torna-se um problema esticar isso para 90 minutos. O início e o fim são interessantes, mas o meio é cansativo e os personagens acabam tomando atitudes no mínimo estranhas. Eles não são nem de longe desenvolvidos, não os conhecemos além de um estereótipo: o cara bonzinho que quer se declarar para a garota legal (Brian Geraghty, de Guerra ao Terror, de 2008); um mulherão que não passa da tal garota legal que procura um cara bonzinho (Alice Eve, de Homens de Preto 3, de 2012); e um babaca que está obviamente sobrando e acaba levando todos pro buraco (Josh Peck, da série juvenil Drake & Josh). Ah, e tem o tal sujeito do capuz, do qual não sabemos nem o rosto, muito menos suas motivações.

A Armadilha tem seus bons momentos e pode agradar aquele público que gosta de uns sustos e de uns cadáveres empilhados (apesar de só haver três possibilidades). Se o morto for irritante como Peck ou sem graça como o casal, melhor ainda. O final, inesperado e bem bolado, pode satisfazer quem aguentou ficar até lá, deixando até uma boa impressão ao final da sessão. O diretor David Brooks é iniciante e tem tempo para aprender. Sparling ainda precisa mostrar que não é uma maravilha de um sucesso apenas.

“Seria isto a versão sádica do Big Brother?”

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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