Headhunters prova o potencial do cinema norueguês

por Marcelo Seabra

Mais uma prova de que se deve ficar de olho no cinema escandinavo é o longa Headhunters (ou Hodejegerne, de 2011). E também reafirma que americanos não gostam de ler legendas – a adaptação hollywoodiana do mesmo livro já está a caminho. Boa novidade para Jo Nesbo, escritor norueguês muito conhecido em sua terra natal, mas que ainda deve ser descoberto no resto do mundo. Mesmo que os atores desconhecidos por estas bandas e a língua complicada não tenham facilitado em nada a distribuição da obra, não se deve perder a oportunidade.

Quando não se tem um nome de peso como chamariz, corre-se o risco de o público não se interessar muito. O diretor Zhang Yimou, por exemplo, sabia disso e incluiu Christian Bale em seu Flores do Oriente (Flowers of War, 2011). Não foi o caso de Morten Tyldum, que chamou personalidades locais da Noruega para dar vida às criações de Nesbo e atingiu um resultado fantástico, não merecendo ficar restrito aos circuitos alternativos ou de arte. Tyldum trabalhou anteriormente com o personagem Varg Veum, detetive do também norueguês Gunnar Staalesen.

Headhunters é protagonizado por Aksel Hennie (ao lado), estabelecido e competente ator de Oslo. Ele vive Roger Brown, um cidadão acima de qualquer suspeita – ao menos, aparentemente. Roger é um importante recrutador de uma empresa de Recursos Humanos que, nas horas vagas, rouba obras de arte para manter seu alto padrão de vida. Por ser baixinho, ele acredita precisar de algo mais para manter sua bela esposa-troféu (Synnøve Macody Lund) ao seu lado. Claro que ela não precisa saber da existência da amante e do parceiro contrabandista que ajuda a dar destino às obras roubadas.

Para acabar com toda essa calmaria, Roger conhece Clas Greve (Nikolaj Coster-Waldau, o Jaime Lannister de Game of Thrones – ao lado), jovem CEO recém-aposentado de uma grande empresa de tecnologia que guarda um valioso quadro que há muito acreditava-se perdido. Roger logo marca uma entrevista para recolocar Greve em outra empresa, sua cliente, planejando roubar o quadro em sua ausência. Mas, com um protagonista desse nível, o antagonista teria que ser muito bom – e Roger descobre isso da pior forma. Como em um filme dos irmãos Coen, muita coisa pode dar errado e bastante sangue vai ser derramado. Roger tem tudo a perder, e viver em desgraça, desmascarado, é algo que ele não vai deixar acontecer.

Nesbo tinha muito receio de vender os direitos de filmagem de seu livros, e a experiência positiva com Headhunters o deixou mais confiante. Abriu-se então a torneira e Sacha Gervasi (de O Terminal, 2004) já foi contratado para escrever a versão americana. E Martin Scorsese segue à frente da adaptação de The Snowman, sétima aventura de Harry Hole, detetive que Nesbo já empregou em nove histórias. Headhunters teve o segundo melhor fim de semana de abertura do cinema da história da Noruega. Vamos ver como Nesbo se sai nos Estados Unidos.

O trio principal começa a se conhecer

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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