Ridley Scott empolga em sua volta à ficção-científica

por Marcelo Seabra

Ao mesmo tempo em que lança diversas perguntas que serão respondidas com o andar da carruagem, Prometheus (2012) confia na inteligência de seu público ao não responder outras.  Para ter algumas dessas informações, só deduzindo ou esperando por uma sequência. Dito isso, trata-se de um belo exemplar da ficção-científica, filão geralmente tão maltratado com excesso de efeitos visuais – muitas vezes pobres demais – e roteiro de menos. Ridley Scott, o criador da franquia Alien (1979) e do clássico Blade Runner (1982), não voltaria ao gênero por qualquer coisa.

Charles Bishop Weyland (vivido por Lance Herinksen) é o milionário apresentado na série Alien (e nos encontros das criaturas com os predadores) que banca as missões ao espaço e constrói um robô idêntico a si mesmo, que aparece em Aliens, o Resgate (1986). Em Prometheus, somos apresentados a Peter Weyland (Guy Pearce), provavelmente o pai de Charles, ricaço que decide investir em dois cientistas que acreditam ter pistas sobre a criação da humanidade. Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) reuniram informações de pinturas em cavernas para guiar a tripulação da nave Prometheus a uma galáxia distante que acreditam ser a casa dos “Engenheiros”, criaturas alienígenas que poderiam ser nossos criadores. Seriam, por isso, deuses, e teriam as respostas que todos buscamos.

Projeto de muitos anos na cabeça de Scott, o longa começou a tomar forma com a chegada dos roteiristas Jon Spaihts (de A Hora da Escuridão, 2011) e Damon Lindelof (de Cowboys & Aliens, 2011). Scott decidiu assumir a direção e chamou Noomi Rapace, estrela da trilogia sueca iniciada com Os Homens que Não Amavam as Mulheres (de 2009), que David Fincher já começou a refazer em inglês. A escolha de Guy Pearce (de O Discurso do Rei, de 2010) para viver o velho empresário usando quilos de maquiagem só pode ser explicada pela possibilidade de vida longa da franquia, já que o personagem poderá ser mostrado em várias épocas de sua vida. E o onipresente Michael Fassbender (de Shame, 2011 – acima) não poderia faltar, compondo um interessante autômato que monitora a tripulação que dorme durante a viagem. Charlize Theron, em seu segundo trabalho este ano (ela é a rainha de Branca de Neve e o Caçador), é outro nome famoso no elenco.

Prometeu, segundo a mitologia grega, era o titã punido severamente por Zeus por dar o fogo ao homem. Dessa referência, já sabemos que encontrar deuses pode não ser a melhor das experiências: a equipe da nave vai passar por maus bocados para chegar às respostas que busca em uma terra inóspita, com criaturas estranhas. Entre os principais componentes do time, além do casal de cientistas, estão o piloto Janek (Idris Elba, de Motoqueiro Fantasma 2, 2012), o andróide-mordomo David (Fassbender) e a misteriosa Meredith Vickers (Charlize), que parece ser a enviada das empresas Weyland para garantir o sucesso da missão a qualquer custo. Vickers, assim como a Dra. Shaw, é uma mulher forte, que segue o modelo da Tenente Ripley de Sigourney Weaver.

Apesar de não estarem diretamente ligados, Prometheus e Alien têm, como o próprio Scott define, “o mesmo DNA”. Mas como aconteceu na série Lost, também roteirizada por Lindelof, várias pistas são deixadas aqui e não são aproveitadas posteriormente. Talvez, abrindo mais possibilidades para as sequências. Alguns podem sair pouco satisfeitos da sessão, devido às perguntas sem respostas – algumas conseguem confundir bem e vão assombrar por algum tempo. Mas o que vemos é suficiente para agradar o público, que vai torcer para que logo saiam mais filmes desse universo visualmente arrebatador e filosoficamente desafiador.

O diretor Scott com seu elenco principal: Charlize, Noomi e Fassbender

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Achei o filme muito bom, dou nota 8/10. Mas senti que do meio para o final a coisa não ficou conforme o prometido.

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