por Marcelo Seabra
Como um daqueles mistérios que nenhum estúdio explica, temos praticamente ao mesmo tempo duas releituras da história da Branca de Neve (acima, na versão de Disney, de 1937) em cartaz. A primeira a ser lançada, Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror, 2012), já está saindo de circuito, enquanto a segunda, Branca de Neve e o Caçador (Snow White and the Huntsman, 2012), acaba de entrar. Apesar de seguirem caminhos bem diferentes, o resultado é mais ou menos o mesmo: o meio do caminho entre o bom e o ruim, passando pelo tédio absoluto.
Conhecido por suas escolhas visuais espalhafatosas e inovadoras, Singh cria cenários majestosos, coloridos, fazendo com que o filme quase pareça um desenho. Os aspectos que deveriam ser violentos ficam em segundo plano e a produção deve ser própria para todas as idades, já que não é o propósito aqui, como se poderia esperar (como têm feito as adaptações de quadrinhos), buscar realidade. Espelho, Espelho Meu foi anunciado como uma nova abordagem da clássica história, e é isso, de fato. Mas uma abordagem bem mais covarde e engraçadinha do que as fontes alemãs dos Irmãos Grimm indicam.
Os cenários e figurinos acabam sendo mais inventivos que os de Singh, mas alguns efeitos visuais deixam a desejar. É um problema acreditar que o espelho indicaria Kristen como a mais bela, já que isso nunca seria verdade com Charlize por perto. Outra questão é aquela mania de explicar porque alguém é mau. Deveria ser mau e pronto! O caçador (o “Thor” Chris Hemsworth), que ajuda a dar nome à produção, aparece depois de meia hora de filme, sendo mais um coadjuvante. E os anões roubam a cena, interpretados por bons atores ingleses como Bob Hoskins, Toby Jones, Ian McShane e Ray Winstone, mas são desperdiçados pelo roteiro e acabam virando alívio cômico – totalmente fora de lugar.
O grande destaque de Branca de Neve e o Caçador é a rainha Ravenna, que Charlize Theron (de Jovens Adultos, 2011) traz à vida de forma propositalmente caricata, como deve ser um vilão de conto de fadas. Comparar as duas rainhas é como comparar os dois Coringas do Batman: uma é má, mas parece não poder ser levada muito a sério, enquanto a outra é perversa e não titubeia antes de sacrificar alguém. As duas atrizes estão bem, cada uma do seu jeito. E, ao lado dos cenários e figurinos, são os únicos elementos que funcionam nos dois filmes. E, afinal, como levar a sério uma heroína chamada Branca de Neve?
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