50% de drama + 50% de comédia = bom filme

por Marcelo Seabra

Existe uma máxima de que filmes que tratam de questões sérias de saúde precisam ser dramalhões. Basta assistir a Laços de Ternura (Terms of Endearment, 1983) para confirmar. É preciso vir uma obra que traga leveza ao assunto, ao mesmo tempo em que evita ridicularizar ou mantê-lo na superfície. Para isso, talvez, seja necessário um roteirista que tenha passado por experiência semelhante. Temos, então, 50% (50/50, 2011), título que poderia servir também para definir a dose de comédia – e de drama – presente.

Muitos disseram tratar-se de uma comédia sobre o câncer, ou alguma bobagem assim. O longa é bem equilibrado, não excluindo alguns momentos difíceis, mas alternando-os com comentários espirituosos e situações com bom potencial cômico. O produtor de programas televisivos Will Reiser decidiu contar sua própria história, mesmo que inventando trechos e alterando nomes, e conseguiu trazer uma boa quantidade de realismo à luta de um jovem contra uma doença devastadora.

O bem escolhido elenco de 50% traz Joseph Gordon-Levitt no papel principal, e já é difícil lembrar dele como o ancião no corpo de uma criança da saudosa série Third Rock From the Sun (1996-2001). Figurinha fácil no cinema independente, ele vem pulando entre produções menores, como (500) Dias Com Ela ((500) Days of Summer, 2009), e maiores, como suas parcerias com Christopher Nolan, A Origem (Inception, 2010) e o novo Batman (2012). É impressionante como o ex-ator mirim se sai bem em todas elas, sempre dando a expressão adequada a seu personagem. Ele de fato merece o destaque que vem ganhando.

Ao lado de Gordon-Levitt, vem o inseparável amigo Seth Rogen (acima), o mesmo comediante rasteiro de Superbad (2007) e Ligeiramente Grávidos (Knocked Up, 2007). Embora sempre faça o mesmo papel, desta vez Rogen consegue se moldar à necessidade, conseguindo não passar da medida. Mesmo porque basta ser ele mesmo. O tosco de sempre é o amigo que Adam precisa para tentar superar o problema – e o ator é realmente muito próximo de Reiser e foi um dos responsáveis por conseguir tirar esse filme do papel. Anna Kendrick, indicada ao Oscar por Amor Sem Escalas (Up in the Air, 2009), está muito bem como a jovem psicóloga e é um prazer rever a eterna Morticia Adams Angelica Huston, que vive a mãe que sufoca Adam. Bryce Dallas Howard (de Histórias Cruzadas, 2011) e Philip Baker Hall (de Magnólia, 1999) completam.

A verdade é que 50% não se deixa rotular, transitando bem entre o drama e a comédia, como costuma acontecer no mundo real. Com casos recentes de celebridades ganhando a mídia, como Reynaldo Gianecchini e Drica Moraes, que acabam de voltar ao trabalho após uma difícil batalha contra o câncer, o assunto mostra-se totalmente oportuno. E ajuda muito ver uma abordagem verdadeira, pé no chão, que pode servir de exemplo ou estímulo para muita gente.

Anna Kendrick tenta animar seu paciente

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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