por Marcelo Seabra
O livro só foi publicado com o apoio de Depp, que não perdeu tempo e pegou para si o papel principal. Diário de um Jornalista Bêbado (The Rum Diary, 2011) começa com a chegada de Paul Kemp a Porto Rico. Desiludido com o mercado de trabalho nos Estados Unidos (ou com o filme muito queimado, não se sabe), Kemp decide se candidatar a uma vaga no maior jornal de San Juan – o que não significa muita coisa. Após uma rápida entrevista com o editor (Richard Jenkins, de Amizade Colorida, 2011), tudo está acertado e Kemp tem como missão começar pela coluna de horóscopo. A situação do jornal é tão precária que logo ele recebe outras tarefas.
Como se trata de um texto antigo de Thompson, o máximo que os personagens usam para se intoxicar é a bebida alcoólica, o que já fica claro no título (em ambos). As drogas de Medo e Delírio, que trouxeram notoriedade ao escritor, devem ter sido descobertas por ele depois. E, como parece desde o início, é realmente uma história com traços autobiográficos, apesar de várias liberdades serem tomadas. O que vemos no filme é uma versão atenuada, mais otimista, do que ele realmente viveu, e Depp se beneficia da proximidade entre eles, chega até a imitar o jeito de falar de Thompson. O ator parece levar o trabalho muito a sério, com muito respeito pelo falecido. Talvez, esse seja até um defeito do longa, Depp não se permite ir muito longe para se manter fiel ao Kemp literário.
A ideia de um diário é bem apropriada a Diário de um Jornalista Bêbado. Não temos propriamente um roteiro bem definido. O diretor e roteirista Bruce Robinson (que escreveu Os Gritos do Silêncio, de 1984) se limita a seguir a visão de Thompson, que narra o dia a dia naquela cidade pelo ponto de vista constantemente enebriado de seu herói. Alguns fatos não ficam muito claros e Kemp parece não se importar. Ele e os colegas Sala e Moberg (Michael Rispoli e Giovanni Ribisi) saem de uma enrascada e entram em outra, gerando momentos divertidos. E o filme se resume a isso: situações interessantes e boas interpretações. Nada brilhante, mas vale a conferida.
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