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Comédia brasileira aposta em porco mal animado

por Marcelo Seabra

Nem sempre Selton Mello escolhe bem. Tido como um dos grandes atores de sua geração, ele anda trabalhando muito e acaba fazendo escolhas duvidosas. Esse é o caso de Billi Pig (2012), comédia sem pé nem cabeça – nem graça – que está em cartaz no país. A ex-modelo e ex-BBB Grazi Massafera fez dessa produção a sua estreia no cinema, mas não foi dessa vez que a atriz fez barulho.

Como de costume, Mello interpreta ele mesmo. Com frequência, isso tem funcionado,  mas não foi o caso. E Grazi faz o mesmo, evitando muito esforço na composição da personagem. A mesma coisa que vemos nas novelas, vemos em Billi Pig. E é exatamente essa a impressão que dá: que o filme poderia ter sido um especial da Globo de 30 minutos. Talvez, se condensado, funcionasse melhor, valorizando as poucas piadas aceitáveis que apresenta.

A trama – sem o menor sentido – começa com um traficante figurão (Otávio Müller) procurando o milagre que tiraria sua filha do coma. A menina foi baleada pela “concorrência” e o vendedor de seguros e pilantra Wanderley (Mello) vê aí uma oportunidade de ganhar um bom dinheiro. Ele envolve o padre Roberval (Milton Gonçalves), suposto milagreiro, no golpe e aproveita para, de quebra, oferecer um pouco de luxo para a bela esposa (Grazi), uma aspirante a atriz bem canastrona.

A ideia era fazer uma comédia escrachada, quase uma chanchada, algo a que José Eduardo Belmonte não estava acostumado. O diretor vinha dos dramas densos Se Nada Mais Der Certo (2008) e Meu Mundo em Perigo (2007) e se perdeu com um roteiro cheio de personagens dispensáveis, números musicais completamente equivocados e interpretações que beiram o ridículo, com sotaques inexplicáveis, maneirismos exagerados e fora do tom e um quê teatral que talvez funcionasse melhor em palcos. Ou não.

O tal porco Billi (por que Billi Pig?) é um brinquedo que serve como conselheiro para a desvairada Marivalda. Por pior que possa parecer, o porco começa realmente a falar, deixando de ser apenas a imaginação da aspirante a atriz e chega até a fazer uma ligação telefônica – sempre com aquele defeito especial mais ordinário. Toda a concepção do filme já começou errada, já que ele foi construído em cima do tal porco, um péssimo ponto de partida. E o milagre, tão aguardado, pode ou não acontecer, de acordo com a conveniência do roteiro.

Milagre, mesmo, seria essa sucessão de equívocos agradar a alguém. No meio de tanta gente deslocada e participações especiais que não mostram a que vieram (o que a cantora Preta Gil e o competente Milhem Cortaz estavam fazendo ali?), quem se salva é o veterano Milton Gonçalves, que consegue ter uns poucos momentos inspirados em meio à mediocridade geral. Mas não é nem perto do suficiente para garantir o preço do ingresso – ou o tempo perdido.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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