Ryan Gosling é quase um super-herói em Drive

por Marcelo Seabra

Tido, lá fora, como um dos melhores filmes de 2011 – até o melhor, para alguns -, Drive finalmente chega aos cinemas brasileiros, com alguns meses de atraso. E, estranho, sem título nacional ou subtítulo, como manda a moda atual. Exageros à parte, realmente trata-se de um filme diferente do usual, e bom. Muito bom! Só mantenha distância do trailer, que entrega demais e não faz jus à obra.

Um nome que ainda será muito ouvido é o de Nicolas Winding Refn (Bronson, Valhalla Rising), diretor, produtor e roteirista cult dinamarquês. Como diretor, ele faz sua estreia no cinema americano com Drive, e chamou ninguém menos que Ryan Gosling para estrelá-lo. Gosling, só este ano, foi indicado a Melhor Ator nos Globos de Ouro nas duas categorias possíveis: Drama (com Tudo Pelo Poder) e Comédia (por Amor a Toda Prova). Esta dupla só poderia mesmo fazer barulho. Se a Academia esnobou o longa, pior para ela. Winding Refn foi o melhor diretor em Cannes.

Quando o longa começa, somos apresentados a uma figura um tanto enigmática, um sujeito caladão que trabalha como piloto de fuga sob contratos rápidos. Ele não se envolve, garantindo apenas tirar os criminosos que o empregam da cena do crime. Durante cinco minutos, ele faz o que for necessário, levando os cliente aonde precisarem, e desaparece com a mesma facilidade. De dia, ganha dinheiro honestamente como dublê em filmes para cenas com veículos e como mecânico na oficina do amigo Shannon (Bryan Cranston, de Breaking Bad). Como o próprio Gosling disse, este é o seu filme de super-herói, ou o mais próximo que chegará de participar de um.

Como acontecia em filmes noir, os problemas do piloto sem nome começam quando ele se deixa envolver por uma mulher. A doce Irene (Carey Mulligan, de Não Me Abandone Jamais) começa a ficar próxima, assim como seu filho, mas a saída do marido (Oscar Isaac, de Robin Hood) da prisão é iminente. Num ato benevolente que só os cavaleiros solitários são capazes (como fazia Clint Eastwood), o motorista decide ajudar o ex-presidiário em um golpe que o deixaria livre dos antigos comparsas. Como dá para prever, muita coisa vai dar errado.

Na turma do suporte, chama a atenção a atuação de Albert Brooks, ator que sempre me faz lembrar do “clássico da sessão da tarde” Um Visto para o Céu (Defending Your Life, de 1991). Ele foi indicado nos Globos de Ouro como melhor coadjuvante e realmente está muito seguro no papel de golpista mor. Pena que a Academia o tenha ignorado. Acompanha-o Ron Perlman (o próprio Hellboy) e há ainda uma pequena participação de uma quase disfarçada Christina Hendricks (a principal atração feminina de Mad Men).

É interessante perceber que, em pleno 2011, Refn tenha optado por uma estética oitentista. Das roupas do protagonista à trilha sonora, passando pelas tomadas gerais de uma grande metrópole (no caso, Los Angeles), tudo remete à década e a filmes como Viver e Morrer em Los Angeles (To Live and Die in L.A., de 1985), Chuva Negra (Black Rain, 1989) ou mesmo aos livros de Bret Easton Ellis (como Abaixo de Zero ou Psicopata Americano, ambos já adaptados ao cinema).

Talvez numa tentativa de ser um novo Steve McQueen, Gosling mantém uma atitude cool e uma aura de mistério. Poderia parecer forçado, mas cai como uma luva para o personagem. O motorista faz o que precisa fazer e vai até onde deve, o que traz ao filme um toque de violência. O Chevy Impala modificado que ele dirige é o carro ideal: discreto e possante. Bem como o próprio filme. Para o fim, não espere shows com espetáculos pirotécnicos. Um final simples e direto pode ser ainda mais poderoso.

Who's gonna drive you home... tonight?

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Eu adoro Christina Hendricks acho ela uma excelente atriz tento ver todos os trabalhos dela principalmente Mad Men que en minha opinao e uma das melhores series.

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