Nem todo indicado a Melhor Filme é ouro

por Marcelo Seabra

Da longa lista de nove indicados ao Oscar de Melhor Filme de 2012, alguns são altamente dispensáveis, caso de Histórias Cruzadas. Na última semana, mais dois exemplos puderam ser conhecidos: Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud & Incredibly Close, 2011) teve pré-estréia, enquanto O Homem que Mudou o Jogo (Moneyball, 2011) entrou em circuito comercial.

Alguns filmes parecem ter sido feitos para arrancar lágrimas da platéia. Juntando o diretor Stephen Daldry, o roteirista Eric Roth e os astros Tom Hanks e Sandra Bullock, um outro objetivo se revela: ganhar Oscars. Alguma coisa deu errado no meio do caminho e Tão Forte e Tão Perto deu muito errado. Daldry, indicado três vezes (por Billy Elliot, As Horas e O Leitor), resolveu adaptar o livro de Jonathan Safran Foer (autor do também filmado Uma Vida Iluminada), com roteiro de Roth (vencedor por Forrest Gump e indicado por O Informante, Munique e O Curioso Caso de Benjamin Button), e o resultado é sacarose pura.

Um garoto (o novato Thomas Horn) perde o pai (Hanks), a quem era muito próximo, e tem que se adaptar a viver só com mãe (Bullock). O relacionamento entre os dois não é muito fácil e o menino prefere conversar com a avó (a vencedora de quatro prêmios Tony Zoe Caldwell), que mora no prédio ao lado. Ao encontrar uma chave nos pertences do pai, ele decide entrar em uma jornada para descobrir para que ela serve, acreditando ser aquela a última “missão” (depois de muitas outras) que o pai havia deixado. Aparece, então, um idoso desconhecido (Max Von Sydow, o Padre Merrin de O Exorcista) que se junta à busca.

É engraçado o fato do personagem de Tom Hanks já começar o filme morto, só aparecendo em flashbacks. O 11 de setembro serve como pano de fundo, mas não é um filme sobre a tragédia: segundo o cartaz, é sobre o que se segue à tragédia. E cabe a Sandra Bullock chorar metade do tempo em que está em cena. Max Von Sydow, sempre fantástico, entra mudo e sai calado (literalmente), aparece por pouco tempo e ganhou uma indicação como ator coadjuvante, a outra das duas que o longa conseguiu. Completam o elenco principal, com pequenas participações, John Goodman (de O Artista), Viola Davis (de Histórias Cruzadas) e Jeffrey Wright (de Contra o Tempo).

A identidade do idoso é óbvia desde o primeiro momento, sua função na trama é uma incógnita e muita coisa fica sem encaixar. A resolução do caso é insípida e já não importa mais, contanto que as relações em torno do menino se resolvam. Tudo é muito pré-fabricado, calculado milimetricamente para que as lágrimas rolem, e os mais de 120 minutos de projeção custam a passar.

Com O Homem que Mudou o Jogo, a situação é outra. Trata-se de um filme correto, baseado na história real de um treinador que inovou ao conseguir, com um orçamento pequeno, montar um time de beisebol com bons resultados. O elenco está bem, o roteiro tem momentos interessantes e é só. Nada muito memorável, digno de entrar para a história da Academia.

Bennett Miller não dirigia nada desde 2005, quando foi indicado ao Oscar por Capote – e Philip Seymour Hoffman foi consagrado o melhor ator. Ele convocou o amigo novamente, agora como coadjuvante, e escalou Brad Pitt como o protagonista Billy Beane, o gerente do Oakland A. No Brasil, seria um provável ocupante de estantes em locadoras, mas as indicações e a presença de Pitt conseguiram garantir a ele um lugar entre os muitos filmes em cartaz.

Beane inovou ao buscar um bom resultado apostando em talentos individuais. Alguns jogadores eram mal vistos por determinadas falhas, mas tinham outras boas características que passavam despercebidas. O beisebol é diferente de esportes em que o jogador se vê em várias posições no mesmo jogo, tendo que desempenhar vários papéis. Basta você colocar o sujeito para rebater, por exemplo, e depois tirá-lo. Logo, se ele não é um profissional completo, não há problema – e você ainda paga menos pelo passe.

Com a ajuda de um nerd das estatísticas (vivido por Jonah Hill, o gordinho desbocado de Superbad), Beane consegue aplicar a pouca verba que tem de forma mais eficiente, emplacando várias vitórias seguidas. O suspense quanto ao sucesso da empreitada não existe, já que fizeram um filme sobre isso. E o roteiro, escrito por dois dos melhores profissionais do mercado, Steven Zaillian (de Os Homens que Não Amavam as Mulheres) e Aaron Sorkin (de A Rede Social), traz uns diálogos um pouco confusos para quem não é do ramo, com termos e práticas bem específicos.

Brad Pitt parece não estar lá, Beane tem sempre cara de quem está preocupado com outra coisa qualquer, ou com coisa alguma. E dizer que Jonah Hill está muito bem apenas por evitar as caras e bocas e exageros que marcaram seus trabalhos até hoje é um equívoco. Imagino que assistir a O Homem que Mudou o Jogo deva suscitar as mesmas emoções que uma partida de beisebol. Tem momentos interessantes, mas a maior parte não atrai muito e, quando termina, você desliga a televisão e vai cuidar da vida sem nem lembrar o que estava fazendo antes.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Discordo que Histórias Cruzadas seja dispensável, o filme é excelente e as interpretações maravilhosas...

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