por Marcelo Seabra

Às 23h de 15 de janeiro de 2012 começou a 69ª apresentação dos Globos de Ouro, em Beverly Hills. Como aconteceu nos últimos dois anos, Ricky Gervais (ao lado) é o anfitrião e começa a festa com um monólogo que era temido por muita gente da indústria. Para alívio geral, ele pegou leve, sacaneou poucos (como Eddie Murphy, Adam Sandler e Mel Gibson) e, após várias piadas na comparação entre os Globos e o Oscar, deu lugar a Johnny Depp, que chamou o primeiro trecho de um indicado a melhor filme na categoria comédia ou musical: A Invenção de Hugo Cabret.

O primeiro prêmio da noite não foi uma grande surpresa: o veterano Christopher Plummer é o melhor ator coadjuvante em um longa por Beginners, uma produção menor que só chamou a atenção pela atuação dele. Ele vive um viúvo de 70 anos que resolve sair do armário. A melhor atriz em uma série de comédia veio em seguida e responde por Laura Dern, pela produção da HBO Enlightened. Ela vive uma mulher autodestrutiva que, após um despertar espiritual, resolve viver a vida corretamente e acaba avacalhando todos à sua volta. Sua mãe, Diane Ladd, que é sua colega de elenco, chorava de emoção na platéia.

A filha da atriz Andie MacDowell é apresentada como a Miss Globo de Ouro deste ano e é revelada a melhor minissérie ou filme para a TV. A inglesa Downton Abbey, criada e roteirizada por Julian Fellowes (de Assassinato em Gosford Park, 2001), é a campeã. E a melhor atriz também de uma minissérie ou filme para a TV é Kate Winslet, a protagonista do dramalhão Mildred Pierce. Com o sotaque britânico afiadíssimo, ela se derreteu em elogios ao diretor Todd Haynes e à HBO, entre outros envolvidos na produção.

O segundo indicado a melhor filme de comédia ou musical é Meia Noite em Paris, apresentado por Freida Pinto com um rápido clip. Após comerciais, vem o momento jabá da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, que traz uma representante que apresenta e fala um pouco das atividades da associação. My Week With Marilyn é o terceiro clip, seguido por um Ricky Gervais nervoso, lembrando aos próximos vencedores que eles não precisam levar horas agradecendo. Afinal, eles já estavam cinco minutos acima do tempo previsto.

Para melhor ator de uma série dramática, a competição era fortíssima, com Jeremy Irons (The Borgias), Damian Lewis (Homeland), Bryan Cranston (Breaking Bad) e Steve Buscemi (Boardwalk Empire). Levou o azarão: Kelsey Grammer, por Boss, do canal Starz. E a melhor série é anunciada em seguida, nada menos que a sensação da temporada: Homeland. Todo o elenco e equipe sobem para agradecer. A não indicação de Breaking Bad foi uma grande falha, mas houve justiça no final.

Depois de uma palhaçada de Jimmy Fallon, que imitou Mick Jagger e achou que estava abafando, é a vez da melhor trilha sonora original. É o primeiro prêmio para a surpresa The Artist, um filme francês em preto e branco e que evoca o cinema mudo. Ludovic Bource parece não dominar muito o idioma inglês, mas dá seu jeito. E a melhor canção original fica com ninguém menos que Madonna, uma escolha estranha para cantar em um filme parcialmente de época, W.E. Pode ser porque ela mesma escreveu e dirigiu a obra, além de ter ajudado a compor Masterpiece.

O melhor ator em um filme ou minissérie para a TV é Idris Elba, da série policial Luther. A diferença entre série e minissérie é um tanto nublada, já que Luther está a caminho de sua segunda temporada e deveria estar em outra categoria. Depois da apresentação de Tudo Pelo Poder, indicado como melhor filme dramático. Os Weinstein conseguem emplacar Michelle Williams como melhor atriz de uma comédia ou musical, o que parece uma forçação de barra. Como My Week With Marilyn ainda não chegou aqui, a questão fica no ar.

O melhor ator coadjuvante em uma série, minissérie ou filme para a televisão é o diminuto Peter Dinklage (ao lado), fantástico em Game of Thrones. Sua mãe apostava em Guy Pearce, de Mildred Pierce, e ele fez questão de contar. George Clooney, com uma não explicada bengala, chama o clip de Moneyball, indicado como drama. O jornal NY Times chegou a insinuar que Spielberg resolveu filmar As Aventuras de Tintim apenas para ganhar o prêmio de Melhor Animação, que é a próxima categoria. Rango podia ser o mais merecedor, mas Spielberg acabou levando, e fez questão de agradecer a Andy Serkis, o Top of Mind quando se pensa em captura de movimentos.

O bloco seguinte começou com Ewan McGregor apresentando o clip de 50/50, drama com o indicado Joseph Gordon Levitt. E é chamado o melhor roteiro de um longa: Meia Noite em Paris. Woody Allen não compareceu e Nicole Kidman levou o prêmio embora. American Horror Story levou merecidamente o prêmio de coadjuvante em uma série, minissérie ou filme para a TV. Jessica Lange é a melhor coisa de uma série que começou bem exagerada e acabou achando um rumo.

Com um humor bem fora do tom, Ricky Gervais chama e cutuca Madonna, que devolve duvidando da masculinidade do anfitrião. A cantora chama a categoria de melhor filme em língua estrangeira. Como previsto, os iranianos de A Separation sobem ao palco. Dustin Hoffman é o responsável por anunciar a melhor atriz em uma série dramática. O prêmio fica com Claire Danes, que já levou anteriormente por Minha Vida de Cão e Temple Grandin. Mais uma honra para Homeland.

Emily Blunt tem a ingrata missão de apresentar a comédia indicada Missão Madrinha de Casamento, uma bomba que inacreditavelmente vem recebendo ovações. O melhor ator de uma série cômica é outra zebra: o “friend” Matt Leblanc (ao lado), que vive uma versão dele mesmo em Episodes. Bradley Cooper fica com a categoria de melhor atriz coadjuvante em um longa e chama ao palco Octavia Spencer, de Histórias Cruzadas (ou The Help). Ela foi vista recentemente como a vidente de animais de Um Jantar para Idiotas.

Reese Witherspoon apresenta o clip de Os Descendentes, filme do seu amigo Alexander Payne – que a dirigiu em Eleição. Sidney Poitier recebe uma longa salva de palmas de uma platéia de pé e fica bem emocionado. E olha que ele ia apenas apresentar o prêmio Cecil B. de Mile, aquele dado pelo conjunto da obra. O homenageado do ano é Morgan Freeman, que custa a ser chamado por um titubeante Poitier – e Helen Mirren entra antes para apresentar uma edição com grandes trabalhos do ator. Freeman sobe e mais uma longa salva de palmas é ouvida. Um discurso sucinto e bonito encerra o bloco.

Robert Downey Jr. apresenta o clip do indicado The Artist, que é seguido pelo prêmio de melhor diretor de um longa metragem. A Invenção de Hugo Cabret, ou simplesmente Hugo, faz com que a estatueta fique para Martin Scorsese, que pede ao público que se sente logo para agradecer e andar com a festa. Os espanhóis Antonio Banderas e Salma Hayek apresentam a melhor série cômica, e o prêmio é recebido em duas línguas: o criador e produtor Steven Levitan e a estrela (e mala) Sofia Vergara agradecem por todos de Modern Family.

Michelle Pfeiffer apresenta o clip de Cavalo de Guerra, que é seguido do prêmio para o melhor ator em um filme dramático. Uma surpresa e, pelo que dizem, merecida: Jean Dujardin, o francês de The Artist. Mais um discurso em inglês com forte sotaque estrangeiro, algo que se mostrou comum nessa noite. Queen Latifah apresenta Histórias Cruzadas e Colin Firth vem chamar a melhor atriz por um filme dramático. Com Meryl Streep no meio, já se sabe qual aposta seria segura. E não dá outra! A intérprete de A Dama de Ferro (abaixo) lembra várias grandes atuações femininas do ano, chama Harvey Weinstein de Deus do Velho Testamento (o que pune) e é finalmente interrompida pela orquestra.

A histórica Jane Fonda usa um pouco de francês para dar o Globo de melhor filme de comédia ou musical para The Artist, que já está entre os 250 melhores filmes de todos os tempos, eleitos pelos visitantes do site IMDB. O melhor ator de um longa dramático é George Clooney, por Os Descendentes (abaixo) – além, este ano, de ter dirigido e atuado em Tudo Pelo Poder, que tinha Ryan Gosling como indicado. No bloco seguinte, Os Descendentes se consagrou como o melhor filme dramático da temporada. Um comportado Gervais agradece a presença de todos e encerra a noite. Afinal, já são quase duas da manhã – ao menos, em BH.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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