por Marcelo Seabra
Se estiver em busca de parâmetros, indicações ou precisar fazer uma escolha difícil na bilheteria, estes textos são muito bem-vindos. O problema é quando você vai com tudo, de posse de várias referências positivas, e quebra a cara. É quando comprovamos que não dá para seguir 100% a opinião (mesmo que bem embasada) de outra pessoa, e nem é para isso que a crítica serve. Por isso, cuidado com as listas de melhores do ano, que costumam aparecer nessa época.
De tudo que tem sido citado por alguns nomes ou veículos interessantes, muito se aproveita. Mas o baque pode ser grande. Drive (2011 – acima), por exemplo, parece ser muito bom, e só poderemos confirmar isso em janeiro. Enquanto isso, a expectativa cresce. Por outro lado, tive a infelicidade de conferir duas produções altamente incensadas e ainda estou me perguntando: teria eu visto o mesmo filme que o resto do mundo? Falo de Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011) e Melancolia (Melancholia, 2011).
Uma comédia realmente boa está cada vez mais complicado de encontrar. Quando vi o cartaz de Madrinhas, já deduzi logo que seria mais um filme besta, como muitos por aí. O fato de ele ter aparecido com destaque nos textos de vários jornalistas fez com eu desse uma chance. Perdi quase duas horas da minha vida com uma bobagem sem tamanho que até apela para piadas que envolvem dor de barriga, flatulência e excreções à vontade.
Provavelmente com a desculpa de “dialogar com a mulher moderna”, o longa parte de situações plausíveis e logo baixa o nível com um humor próprio para crianças que riem quando ouvem palavras como “pum” ou “xixi”. Sinceramente, se é isso que anda fazendo sucesso nos Estados Unidos, vou passar a dar ainda mais prioridade a comédias europeias, que tendem a trazer um humor mais refinado, sutil, baseado em situações criadas por um roteiro inteligente.
Melancolia tem pouco a ver com Madrinhas, eles apenas dividem o fato de terem gerado bastante expectativa com a boa publicidade e, no fim das contas, não corresponder. Este, inclusive, ganhou prêmios em festivais, como Cannes, quando o diretor Lars von Trier fez piadas de péssimo gosto sobre judeus e nazistas e passou a ser persona non grata no evento. Saiu de lá para não mais voltar.
A fotografia é bela, as atuações são boas (apesar de ser difícil desvincular Kiefer Sutherland de Jack Bauer, da série 24 Horas), a parte técnica é impecável. Mas as horas parecem se arrastar, convidando o espectador a ter também uma crise de depressão. Tomadas longas, reflexivas ao extremo, tornam a experiência desagradável e interminável. Isso, além de algumas imprecisões nas leis da física que podem ser detectadas por qualquer fã do Discovery Channel (como que os planetas passam pertinho e não se atraem?).
Trier parece ter errado a mão em sua poesia visual e, como já se convencionou que trata-se de um gênio, tudo é válido. Entre estar no fim do mundo dirigido por ele ou por Roland Emmerich (de O Dia Depois de Amanhã), prefiro fechar os olhos e rezar.
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