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Mais um terror ordinário ocupa salas de cinema

por Marcelo Seabra

Temos uma data que, supostamente, é cabalística – pela simples combinação de dia, mês e ano representados pelo mesmo número. E temos um diretor que se acostumou a cumprir o prazo de entregar filmes todo ano, perto do dia das bruxas. Essa combinação fatídica deu resultado: o longa 11–11–11 (2011), que chegou aos cinemas exatamente no dia 11/11/11. Seria isso um prenúncio do apocalipse?

Darren Lynn Bousman, responsável pelas três continuações (2005, 2006 e 2007) que seguiram o primeiro Jogos Mortais (Saw, 2004) escreveu e dirigiu 11-11-11 para que o lançamento ocorresse neste dia, e parece que teve essa ideia já bem perto, o que deixou pouco tempo para a realização. Bousman, então, correu e entregou qualquer coisa, na esperança de que alguns adolescentes curiosos rendessem uma boa bilheteria. Teoricamente, misticismo tem apelo. Algum grupo iria se mobilizar.

Um fiapo de premissa deu origem a uma trama capenga e batida. Um famoso escritor vive de luto por ter perdido a família no incêndio que consumiu seu apartamento. Quando seu pai idoso está à beira da morte, ele começa a perceber que vários eventos marcantes de sua vida estão ligados ao número 11. Indo para Barcelona, onde moram o pai e o irmão do protagonista (numa casa irreal e propícia a sustos), as coisas começam a ficar mais óbvias e acontecimentos estranhos ficam mais frequentes, indicando que a sexta-feira, o famigerado dia 11/11/11, será marcado por alguma desgraça.

Para o papel do tal escritor, conseguiram um dublê perfeito de Jon Hamm, de Mad Men (ou Javier Bardem, dependendo do ângulo). O pouco expressivo Timothy Gibbs participou de episódios esporádicos de séries de televisão, além de filmes de pouca repercussão. Não foi dessa vez que conseguiu sua grande chance, e o roteiro nem lhe dá boas possibilidades. O mais engraçado foi ver o ator que vive o irmão, Michael Landes, e ficar com a sensação de tratar-se de um rosto conhecido. Demorou um pouco até me lembrar do Jimmy Olsen da série Lois e Clark, aquela que focava mais no relacionamento entre os dois que nas aventuras do Superman. E os demais nomes do elenco são igualmente desconhecidos.

Bousman deve ter pensado em um final impactante sem saber como chegar a ele. Buscou as saídas mais simples e partiu para as filmagens. O resultado é ainda mais fraco que O Número 23 (The Number 23, 2007), outra produção que usava um número como fio condutor. Para quem gosta de Barcelona, é possível ver um pouco da cidade e seus símbolos, como a inacabada igreja Sagrada Família. Esperar mais que um passeio turístico é demais. E se o caso for este, prefira Vicky Cristina Barcelona (2008) ou parta logo para o cinema espanhol. Opções não faltarão.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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