Amizade Colorida traz diversão facilmente esquecível

por Marcelo Seabra

“Nós somos amigos. Bonitos e atraentes. Não temos namorados porque não queremos. Que tal fazermos sexo sem compromisso e continuarmos amigos?” É, realmente, você já viu isso. Esse ano mesmo, com Sexo Sem Compromisso (No Strings Attached, 2011). Desta vez, no entanto, o resultado é um pouco superior à média: Amizade Colorida (Friends With Benefits, 2011) consegue ser divertido. No resto do tempo, o piloto automático assume.

Will Gluck, que dirigiu recentemente o interessante A Mentira (Easy A, 2010), fica mais uma vez no campo da comédia, mas acrescenta o termo “romântica” na frente. “Para não ter chance de erro, vamos chamar dois astros do momento”, ele deve ter pensado. Quem seriam os dois ascendentes que, já tendo provado serem capazes de atuar, poderiam ficar com os papéis principais? Ninguém melhor que Justin Timberlake, recém saído de A Rede Social (The Social Network, 2010), e Mila Kunis, bastante elogiada em Cisne Negro (Black Swan, 2010). Depois desses dramas chamativos, eles poderiam partir para uma comédia rápida, estilo anos 40/50. Como bem observa o crítico Roger Ebert, agora só lhes falta experimentar as adaptações de quadrinhos.

O que afasta Amizade Colorida das comédias clássicas de Hollywood é, principalmente, a ousadia. As relações sexuais dos personagens não são mais sugeridas: você acompanha até os diálogos do durante, quando eles combinam o que farão pelo outro. Não que haja muita nudez, só aparece o que é aceitável pelo gênero. Os demais clichês estão lá, mesmo os personagens tendo consciência disso. Afinal, a piadinha mais recorrente diz respeito a exatamente clichês de comédias românticas. Eles gostam do gênero, enxergam perfeitamente as estruturas formulaicas e indicam o que aconteceria se estivessem em um filme desses. O que não os impede de cair nas mesmas armadilhas.

Os diálogos ágeis e afiados fazem dos protagonistas dois espertinhos inteligentes, críticos e irônicos. Que, no fundo, só querem ser amados. Cada um tem um conflito familiar: ela tem uma mãe doidinha, uma hippie remanescente meio irresponsável; ele tem um pai sábio e extremamente competente, mas com o Mal de Alzheimer do Cinema atacando cada vez mais (é aquela doença gravíssima que só aparece quando é conveniente para o roteiro). Duas ótimas participações especiais de grandes veteranos, Patricia Clarkson (de Ilha do Medo, de 2010) e Richard Jenkins (de Deixe-me Entrar, 2010). Na ala ligeiramente mais jovem, temos Woody Harrelson (de Zumbilândia, de 2009) e Jenna Elfman, que revisitou sua Dharma (de Dharma & Greg) no primeiro episódio da nova temporada de Two and a Half Men.

Apesar de ficar sempre em campo seguro, seguindo as regras, Amizade Colorida  é genuinamente engraçado em certas cenas, e Mila Kunis tem uma ótima presença, ajudando até o colega Timberlake, que soa falso com frequência. O final, você já adivinhou nos primeiros minutos. Mas o meio consegue prender o suficiente para algumas risadas. Depois, é só decidir aonde ir para um lanche e esquecer aquilo tudo. E torcer para que a próxima comédia romântica lançada seja sempre melhor.

Ah, e não entendi a estratégia de deixar o longa em “pré-estreia” por duas semanas para, só nesta sexta-feira, acontecer a estreia propriamente dita.

Jenkins (ao fundo), Harrelson e Timberlake cortando o trânsito

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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