A sobrancelha de Conan é o menor de seus problemas

por Marcelo Seabra

Onde já se viu um guerreiro bárbaro carniceiro que faz as sobrancelhas? É tão estranho quanto o prefeito de Gotham City de O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008), que pintava os olhos. E ele fala como o Batman de Christian Bale, forçando uma voz grossa estranha. Consegui citar duas vezes um ótimo filme baseado em quadrinhos comparando-o ao novo Conan, O Bárbaro (Conan, The Barbarian, 2011), mas apenas pelos seus dois únicos elementos destoantes.

Os dois longas estrelados por Arnold Schwarzenegger (em 1982 e 1984 – à esquerda) não eram nenhuma beleza, mas conseguiam divertir um mínimo – o primeiro, ao menos. Talvez, devido ao talento do diretor e roteirista John Millius, que construiu um filme bem feito com um novato inexpressivo e carismático que acabou se tornando um grande astro de filmes de ação, além de governador da Califórnia. Logo, concluímos que, se o ator não ajuda muito, o realizador deve segurar as pontas. E Jason Momoa, o fortão da vez, não é lá um grande intérprete, parece ter sido escolhido única e exclusivamente pelo físico, necessário para o personagem. Mesmo erro cometido, por exemplo, em Superman – O Retorno (Superman Returns, 2006). Ele fica o tempo todo olhando de baixo para cima, com a sobrancelha arqueada, fazendo cara de raivinha – à direita.

Marcus Nispel, diretor dessa nova adaptação das histórias de Robert E. Howard, demonstrou ter noção de como criar filmes divertidos e climas de suspense com suas refilmagens de O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre, 2003) e Sexta-feira 13 (Friday the 13th, 2009). Nada muito memorável, mas satisfatório, dentro do que se espera. Com Conan, Nispel mostra que ainda não chegou lá, entregando um longa confuso, bobo, que em momento algum consegue prender o espectador. E o recurso 3D novamente se mostra dispensável, quando não aborrecido, em alguns momentos fica até difícil de saber o que está acontecendo. Dá vontade de ter um controle remoto e acelerar a exibição, mesmo dentro do cinema. Ninguém iria se importar.

A história aproveita alguns elementos do Bárbaro de Millius, apresentando um bando que invade a tribo do jovem Conan e trucida a todos, inclusive seu pai. Vingança é o que vai impulsionar o “herói”, um sujeito que mata todo e qualquer inimigo que se coloque entre ele e Khalar Zym, o vilão principal, que permite ao ator Stephen Lang reviver seu tipo de Avatar (2009). Zym é auxiliado pela filha, uma bruxa propositalmente enfeiada por quilos de maquiagem e com a cabeça raspada, e mal percebemos que trata-se de Rose McGowan (ao lado), a bela bruxa da finada série Charmed. Completa o elenco Rachel Nichols (de Star Trek, 2009), como a mocinha em perigo.

Em meio a tantos problemas que Conan, O Bárbaro apresenta, o principal é o roteiro. A dupla Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheimer, que cometeu Sahara (2005) e O Som do Trovão (A Sound of Thunder, 2005), além do recente e igualmente fraco Dylan Dog (2011), volta a atacar. Desta vez, eles se unem a Sean Hood, oriundo de filmes de terror menores, como O Corvo – Vingança Maldita (The Crow: Wicked Prayer, 2005), e o resultado mais uma vez não passa do medíocre – como eu já havia previsto. Uma enxurrada de clichês, personagens rasos e um fiapo de trama são as características básicas dos trabalhos dos dois, e Hood não ajuda. Até o velho recurso de se colocar o protagonista precisando vencer o vilão e salvar a mocinha ao mesmo tempo está lá (como estava em Dylan Dog, entre outros).

Em meio a tantas produções que envolvem lutas, sangue, sexo, magia e outros temas que costumam agradar mais ao público masculino, deixe Conan, o Bárbaro para um dia em que não haja mais nada para assistir. Com o volume de filmes e séries sendo produzidos atualmente, esse dia nunca deve chegar. Aproveite seu tempo e confira o original, ou leia os quadrinhos.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Tive a "oportunidade" de assistir ontem a esta pérola do cinema de espada e fantasia e posso afirmar que senti falta do truculento e monossilábico Arnold Schwarzenegger nos idos anos 80. Nada realmente funciona neste filme, além de se ficar com a impressão de que estamos vendo um filme feito para TV ou uma série de época do Showtime ou (pasmém!) do Syfy Channel.

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