por Rodrigo “Piolho” Monteiro
Spartacus, ou Espártaco, como queiram, é, sem sombra de dúvidas, o mais famoso escravo e gladiador da história e também um dos mais famosos líderes rebeldes de todos os tempos. Sua vida e seus feitos deram origem a um sem número de produtos culturais, especialmente desde o século 19, quando intelectuais como Karl Marx o elegeram um de seus heróis.
A série começa quando os Trácios, um povo de onde hoje seria o sul da Bulgária, se une à tropas romanas em luta contra os invasores Getae, que querem, obviamente, conquistar suas terras. Roma usa os trácios como tropa reserva, buchas de canhão mesmo. Convencido pela esposa, Claudius Glaber (Craig Parker, de O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, 2002) decide reunir sua tropa, abandonar a luta contra os Getae e marchar contra o rei Mithridates. Os Trácios, no entanto, batem de frente com as ordens do Legado e, liderados por um dos homens da reserva, se rebelam e retornam para casa, para defender seus lares.
Desnecessário dizer que, mesmo conseguindo salvar sua esposa dos invasores, o líder daquela rebelião, Spartacus (Andy Whitfield, de A Clínica, de 2010), é capturado pelas tropas romanas e levado à Cápua (cidade ao sul da Itália), para ser executado na arena, em um espetáculo de sangue e morte bastante comum na Itália da época. Execuções em arenas ficaram famosas especialmente por relatos bíblicos, onde judeus e cristãos eram mortos por gladiadores e animais selvagens no Coliseu. Para o desgosto de Claudius, no entanto, o guerreiro trácio se mostra uma presa difícil. Motivado pelo desejo de rever sua esposa, Sura (Erin Cummings, da série Mad Men), o trácio, depois de apanhar bastante, mata os quatro gladiadores que seriam seus executores. Pior: ele ganha a admiração instantânea da platéia e os responsáveis pelo espetáculo não vêem outra solução além de serem misericordiosos com ele.
Dentre os convidados de honra da recepção está o lanista – designação dada a donos de escolas de gladiadores – Lentulus Batiatus (John Hanna, da trilogia A Múmia) e sua esposa, Lucretia (Lucy Lawless, a eterna Xena). Batiatus também tem ambições ao senado e acredita que fazendo um favor a Claudius, poderia suavizar a estrada para tal. Seu objetivo é simples: comprar o escravo, batizado por ele próprio como Spartacus, em referência à um antigo rei da Trácia, e oferecê-lo como “boi de piranha” nos próximos jogos de gladiadores da arena de Cápua.
Spartacus é quase que uma típica série ambientada em períodos romanos. Toda a pirotecnia que rodeia as lutas nas arenas é temperada pelas conspirações típicas que, segundo muitos, se espalhavam por todo o Império. Aqui, temos várias delas acontecendo ao mesmo tempo: Batiatus e o afetado Solonius (Craig Walsh Wrightson) disputam entre si o trono de dono do melhor Ludus; Batiatus quer um cargo no senado e não hesita em matar e enganar para conseguir seus objetivos; essa é a mesma ambição que move Lucretia a cometer atos, no mínimo, reprováveis em busca do prêmio final; há, ainda, claro, a ambição de Spartacus de ser livre e como ele consegue, aos poucos, arregimentar outros para a sua causa.
Há outros atrativos na série, já que ela brinca com personagens que, segundo as parcas fontes romanas, realmente existiram, como os gladiadores Crixus (Manu Bennett, de 30 Dias de Noite) e o “Doctore” Oenomaus (Peter Mensah, de 300). Na série, Oenomaus é um ex-gladiador que, depois de mortalmente ferido na arena, se torna o treinador de Batiatus; já Crixus é o campeão de Cápua e principal estrela do Ludus até ser substituído por Spartacus. Fontes históricas dizem que ambos se tornaram os principais comandantes do exército rebelde, ao lado do proprio Espártaco.
Infelizmente, para o espectador brasileiro, esse atrativo a mais foi deixado de lado. Mesmo com a série sendo transmitida às 22:00 horas de domingo, e tendo a classificação “adulto”, o FX optou por editar as cenas em que o sexo e a violência são mais gráficas, algo que, honestamente, não faz muito sentido. Deixando isso de lado, Spartacus: Blood and Sand, se tornou a série mais bem sucedida do canal Starz. Infelizmente, ao final da primeira temporada, o protagonista, Andy Whitfield, descobriu-se com câncer e o canal teve que adiar o começo das filmagens da segunda temporada. Foi feita uma série de inter-temporada com seis episódios (Spartacus: Gods of the Arena), mostrando o início do ludus de Batiatus e o campeão de Cápua que antecedera Crixus, enquanto o ator se recuperava.
Ao fim dela, no entanto, Whitfield acabou optando por não voltar à série que o deixou famoso já que o câncer, inicialmente sob controle, voltou de forma a tornar impossível a ele continuar em um papel que o exigia tanto fisicamente. Spartacus, no entanto, continua. Depois de muito procurar, os produtores contrataram o australiano Liam McIntyre (da série The Pacific) para substituir Whitfield e a segunda temporada, intitulada Spartacus: Vengeance, deve estrear nos Estados Unidos em janeiro de 2012.
PS ATUALIZADO: Andy Whitfield faleceu ontem, no domingo, 11/09, aos 39 anos. O ator lutava contra um linfoma de não-Hodgkin, mesmo tipo de câncer que atacou o brasileiro Reynaldo Gianecchini. O galês Whitfield morreu em Sidney, onde vivia desde 1999, e deixou esposa e dois filhos.
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EXCELENTE POST, MUITO ESCLARECEDOR PARA OS FÃNS...
Que bom, Fábio! Volte sempre!
´´ Execuções em arenas ficaram famosas especialmente por relatos bíblicos, onde judeus e cristãos eram mortos por gladiadores e animais selvagens no Coliseu.´´
No Novo Testamento não existem esses relatos citados no seu artigo. As execuções de cristãos em arenas são posteriores à escrita do texto sagrado. Muito obrigado por avisar que a série está sendo exibida cortada na tv a cabo.
E obrigado pela correção, Fernando!
No novo testamento realmente não tem mesmo, mas no velho testamento sim, vide aquela parte em que o profeta daniel é atirado aos leões para ser devorado e Deus fechou a boca dos leões. isso tudo que acontece na arena na série aconteceu na antiga roma, como o futebol atrai multidões de espectadores hj, o esporte daquela época era justamente os gladiadores se matando no coliseu de roma!
Parabéns e obrigado pelo artigo, muito informativo.
Uma pena o falecimento de Whitfield.
É uma pena mesmo, Luis!
Obrigado pela visita, e volte sempre!
Foi a melhor série que eu já vi na vida, e olha que eu já vi muitas !!! Excelente. 2013 já confirmado, terá a 3a temporada
O que mais me pegou - além da qualidade do texto - foi a morte precoce do ator.Que pena.