por Rodrigo “Piolho” Monteiro
Quando sobem os créditos e as luzes se acendem ao final da sessão de Lanterna Verde (Green Lantern, 2011) – depois da indefectível cena escondida – aqueles mais ligados ao universo dos heróis de quadrinhos percebem que a quase total falta de nomes de criadores envolvidos com o personagem em sua mídia original – os quadrinhos – responde pelo resultado, no máximo, medíocre do longa. E, em um ano em que os personagens de quadrinhos estão em destaque no cinema, especialmente aqueles da concorrente direta da DC, a Marvel, não há como não fazer comparações. Infelizmente, para os decenautas, a Marvel, mais uma vez, supera sua concorrente.
A exemplo de personagens como o Homem de Ferro e o Thor, o Lanterna Verde é uma estrela menor no Universo DC. Personagem do time “b” da casa, mais famoso pelo fato de ser membro da Liga da Justiça – ou dos Superamigos, para os mais antigos – ele, até devido à natureza de seus poderes, seria um dos personagens com o maior potencial de gerar um filme divertido, recheado de ação e, ao mesmo tempo, reflexivo.
Se é verdade que o poder corrompe (e o poder absoluto seria pior ainda), qual seria o comportamento de um homem bem egocêntrico se fosse agraciado com a arma mais poderosa do universo, capaz de tornar qualquer coisa que sua imaginação pudesse conceber, realidade, ainda que por um curto período de tempo? Lanterna Verde, no entanto, foge desse tipo de questão – sabidamente, já que esse é um terreno pantanoso que só deve ser abordado por roteiristas muito cientes do que fazem – e se foca mais no aspecto “diversão e ação” do personagem. E nem aí ele agrada o quanto poderia. Mas vamos do começo.
Paralelamente, temos a história do cientista Hector Hammond (Peter Sarsgaard, de Educação, de 2009). Filho de um senador (Tim Robbins, Oscar por Sobre Meninos e Lobos, de 2003) e professor de ciências de uma escola de ensino médio, Hammond está destinado a coisas menores… Até que o governo dos EUA descobre o corpo de Abin Sur e o leva à uma instalação secreta. Filho de um senador, Hammond é logo convocado, graças à influência do pai, a ser a primeira pessoa a examinar o corpo do alienígena.
Há, ainda, uma terceira trama se desenrolando. Hal Jordan foi o primeiro humano a receber a responsabilidade de ser um Lanterna Verde. Sendo a humanidade a raça mais
Lanterna Verde é um filme que se apóia bastante nos efeitos especiais e faz isso com bastante inteligência. Martin Campbell foi o escolhido para realizar o trabalho, talvez por ter em seu histórico duas reanimadas a um dos personagens mais icônicos do cinema, James Bond (Golden Eye, de 1995, e Cassino Royale, de 2006). Pena que o diretor tenha aceitado esse trabalho simplesmente pelo cheque gordo envolvido, ele mesmo confessou que não tinha qualquer ligação com o material original. Isso faz com que a história, que, repito, tinha um grande potencial, seja capenga. Em termos comparativos, Lanterna Verde tinha as mesmas chances de ser para a DC/Warner no cinema o que o Homem de Ferro foi para a Marvel. Infelizmente, Campbell não é Jon Favreau e Ryan Reynolds – apagadíssimo – não é nenhum Robert Downey Jr.
Outro ponto negativo do filme é o mencionado no início do texto. Quando assistimos a filmes dos estúdios Marvel, há sempre a presença de nomes envolvidos nos quadrinhos na equipe de produção das adaptações. Seja como roteiristas – no caso de Thor – ou como consultores – no caso de Capitão América, só pra citar os dois mais recentes – eles estão lá e garantem essa conexão entre o material original e a adaptação. Em Lanterna Verde, apesar de um dos roteiristas ter também se envolvido com quadrinhos (Marc Guggenheim escreveu gibis do Homem-Aranha e de Wolverine para – quem diria? – a Marvel) e da presença na produção de Geoff Johns – escritor que foi responsável justamente por revitalizar o Lanterna Verde nos quadrinhos – essa conexão não aparece.
Não é pra dizer que tudo aqui é ruim. A construção do planeta Oa – lar da tropa – e os efeitos especiais ficaram visualmente fantásticos. O 3D, aqui, se justifica. Mas é só. E isso é pouco quando a história e a construção dos personagens não ajuda. Lanterna Verde acaba sendo um filme relativamente divertido, mas logo esquecível. Pelo menos, os fãs do personagem podem se contentar com a animação Lanterna Verde: Primeiro Vôo (First Flight, 2009). Lançado em 2009, o longa conta uma história de origem do Lanterna Verde de maneira muito mais competente e mesmo divertida do que este live action.
– Curiosidades:
– Uma das responsáveis pela autópsia de Abin Sur é Amanda Waller (Angela Bassett, de Notorious). Ela é uma personagem de grande importância no universo DC, sendo conhecida como a mente por trás do Esquadrão Suicida, uma equipe formada por criminosos que trabalha em missões quase impossíveis em troca da redução de suas penas. Encarregada muitas vezes de fazer o trabalho de conexão entre as equipes de heróis da DC e o governo, ela já teve aparições em séries animadas e em Smallville;
– Hal Jordan foi o primeiro Lanterna Verde humano ligado à tropa, mas não o primeiro a ostentar um anel baseado em energia verde. Na década de 1940, a DC já havia criado um herói baseado – levemente – no mesmo conceito. Inicialmente chamado Lanterna Verde, ele recentemente adotou a alcunha de Sentinela.
– A origem do Lanterna Verde Hal Jordan foi recontada diversas vezes. A melhor delas foi publicada no Brasil em 1991, pela editora Abril Jovem, na revista DC Especial 2: Amanhecer Esmeralda.
– Outra aventura dos Lanternas Verdes pode ser conferida em Cavaleiros Esmeralda (Green Lantern: Emerald Knights, 2011 – abaixo), uma animação mais recente que não se limita a acompanhar apenas Hal Jordan, contando histórias que envolvem vários de seus colegas.
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