Abrams e Spielberg criam ótima diversão

por Marcelo Seabra

Não sei aonde li que Super 8 (2011) era um filme para adolescentes. O veículo não podia estar mais errado. Um filme ser protagonizado por adolescentes não os torna público-alvo. Para uma aventura pueril (e divertida) como Os Goonies (1985), pode ser o caso. Mas, para Conta Comigo (Stand By Me, 1986), por exemplo, não passa perto. Trata-se de um drama sobre crescimento, sobre vencer adversidades e sobre amizade. O mesmo vale para Super 8, que acrescenta um mistério que une os garotos e acaba envolvendo a cidade toda, no melhor estilo de Steven Spielberg, com um único porém: não é dele.

A direção e roteiro de Super 8 estão nas mãos competentes de J. J. Abrams, o Midas por trás das séries Lost, Fringe, Alias e Felicity, além dos longas Missão: Impossível 3 (Mission: Impossible 3, 2006) e Star Trek (2009). Aqui, ele decide imprimir um sentimento nostálgico fazendo um filme passado em 1979, em uma cidadezinha do interior norte-americano, quando ainda se usava a saudosa câmera super 8 (ao lado), formato que permitia mais qualidade que o já clássico 8 mm. Com direito a trilha sonora escolhida a dedo, com Electric Light Orchestra, The Commodores, The Cars, Blondie e The Knack, para ficar nas bandas principais.

Mas a figura do produtor Spielberg também é bem forte, não se sabe se por sua atuação direta ou se pela homenagem que Abrams queria lhe prestar. Afinal, filmes como Contatos Imediatos de Terceiro Grau (Close Encounters of the Third Kind, 1977), E.T. (1982) ou o já citado Goonies vêm à mente em algumas cenas, ou mesmo por certas ideias no roteiro. Mas o que realmente importa é que a diversão que ambos os diretores costumam proporcionar com seus filmes está lá.

Na história, um grupo de garotos (cada um com a sua personalidade bem definida – acima) está produzindo um curta-metragem para participarem de um festival de cinema. Em uma noite, quando todos se encontram em uma casa abandonada para gravarem umas cenas, um acidente de enormes proporções acontece. A partir daí, coisas estranhas começam a acontecer pela cidade e só eles têm uma melhor noção do que pode estar havendo.

Além dessa trama básica, o diretor e roteirista toma o cuidado de construir os personagens para que possamos entender seus conflitos e torcer para eles, como ele deixa claro através do personagem Charles (Riley Griffiths), o mandão diretor do curta. Afinal, dar uma esposa para o tal detetive era dar uma dimensão mais trágica a ele, o que levaria a criar mais laços com o público. E os garotos, grandes atrações, seguram bem as pontas, encabeçados por Joel Courtney, já estrela de uma nova adaptação de Tom Sawyer & Huckleberry Finn. O nome mais famoso dentre eles é o de Elle Fanning, que conta com uma relativamente longa carreira, incluindo a série Taken, também produzida por Spielberg.

Na parte adulta do elenco, destaca-se Kyle Chandler, o vice-chefe de polícia, que fazia a série Early Edition entre 1996 e 2000, seguiu com Friday Night Lights e participou de filmes como King Kong (2005). Ron Eldard, das séries Plantão Médico (1995-1996) e Men Behaving Badly (1996-1997), aparece meio disfarçado de hippie como o pai de Elle, enquanto o papel de vilão militar fica com o limitado Noah Emmerich, dos recentes Força Policial (Pride and Glory, 2008) e Pecados Íntimos (Little Children, 2006). Para os fãs de Os Simpsons, fica uma curiosidade: ver, mesmo que em uma ponta como um vendedor de carros, o dublador Dan Castellaneta, que dá voz a Homer, Barney, Vovô, Krusty, entre vários outros.

Para quem gosta dos bons momentos de Spielberg e confia no talento de Abrams, Super 8 é um prato feito. Nada de altas filosofias ou elucubrações: uma aventura divertida, sensível e bem feita com a assinatura dos dois. E isso não é pouca coisa.

E não deixe de acompanhar os engraçados créditos finais

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Marcelo, como sempre seus comentários são excelentes. Mas discordo quanto à profundidade desta obra em questão. Claro que se o filme fosse um pouquinho mais inteligente seria, ao mesmo tempo, mais comentado pelos entusiastas da sétima arte, e menos visto pelo grande público. JJ só chegou onde está, e tão rápido, porque tem muito mais "tino comercial" do que Ridley Scott, por exemplo. Mas Super 8 traz em sí muito mais implicações filosóficas do que todos filmes do Spielberg juntos! Sua mão hollywoodiana está lá: as crianças são quase inulneráveis, os maus são sempre punidos, ausência total de sexualidade. Mas ainda assim, Abrams consegue imprimir seu rítmo, e falar, nas entrelinhas, sobre a infância, a família, o governo, as mentiras, o medo, a descoberta da diferença (mas assim, bem subentendido, no máximo pegar na mão da mocinha; beijo nunca, eu acabei de te salvar de um alienígena faminto, mas olha o produtor aí né ...).
    Mas concordo que, frente à avalhanche de porcarias que tem assolado as telas ultimamente, não é pouca coisa, mesmo.

    • É isso mesmo, Silas. Os temas têm a mão do Spielberg, mas o tratamento é do diretor. Mas, enquanto Abrams leva as coisas para mais longe, Spielberg segura tudo em defesa do "código" dele, evitando os mesmos elementos de sempre, como sexo, como você citou. Abraço!

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