Detetive dos quadrinhos decepciona no cinema

por Marcelo Seabra

Após tentar ser Superman (em Superman – O Retorno, de 2006) – e falhar feio – Brandon Routh tenta ser o investigador dos quadrinhos italianos na nova comédia policial Dylan Dog e as Criaturas da Noite (Dylan Dog – Dead of Night, 2010). Quanto tempo vão gastar antes que Routh volte a fazer novelas americanas e ninguém mais tenha notícias dele?

O ator tenta desesperadamente parecer cool na pele de Dylan Dog, um detetive particular que há muito se envolveu com o submundo da noite da Louisiana, trabalhando com e para zumbis, lobisomens e vampiros, entre outras aberrações. A coisa chega a tal extremo que até o próprio protagonista se questiona, em determinado momento, se sobrou algum humano na cidade, já que todos parecem ser mortos-vivos.

Ao investigar o assassinato de um exportador, Dog percebe que o caso vai envolver as criaturas que ele decidiu evitar e recusa. Mas, como de costume, ele não consegue sair em tempo e acaba de volta a aquele mundo. O fato da filha da vítima ser uma bela herdeira (a loirinha genérica Anita Briem, de The Tudors) complica mais a situação. Ao longo da história, ainda descobrimos o que fez com que Dylan passasse a investigar casos mais tradicionais, voltando aos clientes com pulso.

Routh não consegue trazer ao personagem a seriedade e a sensação de perigo necessários. Você sabe que, por mais que ele seja arremessado de um lado para o outro, nada de grave vai acontecer. As piadas não funcionam e a parceria com Sam Huntington (o Jimmy Olsen de Superman – O Retorno) novamente se mostra desequilibrada. Peter Stormare volta ao tipo mau e ameaçador, mas teve um resultado muito superior quando viveu o próprio Satã em Constantine (2005). Este, inclusive, é um investigador do paranormal que, apesar de pouquíssimo fiel aos quadrinhos da Vertigo, acabou tendo um resultado anos luz à frente de Dog.

Com seu primeiro longa com live action, Kevin Munroe não mostra serviço e prova que talvez teria sido melhor ficar com animações, como fez com As Tartarugas Ninja – O Retorno, de 2007. E a dupla de roteiristas Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheimer prova mais uma vez, tendo Sahara (2005) e O Som do Trovão (A Sound of Thunder, 2005) no currículo, que deveria procurar outra área de atividades. Ao que tudo indica, o novo Conan, O Bárbaro, também assinado pelos dois, vai pelo mesmo caminho.

Para ter um programa divertido por uma hora e meia, é bem mais interessante recorrer a “clássicos” como Os Fantasmas se Divertem (Beetlejuice, 1988), Os Espíritos (The Frighteners, 1996) ou A Hora do Espanto (Fright Night, 1985). Ou mesmo o já citado Constantine. Para um compromisso de longo prazo, pegue a primeira temporada de True Blood, série da HBO ambientada na mesma região, mas com um clima muito mais picante. Não sou familiarizado com o trabalho do italiano Tiziano Sclavi, criador de Dylan Dog, e, no que depender desse filme, vou continuar assim.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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