por Marcelo Seabra
O gênero ficção-científica costuma gerar umas coisas escabrosas. Com ou sem dinheiro, diretores cometem filmes ordinários, que ninguém nota e que vão direto para o mercado de homevideo. Como as distribuidoras muitas vezes não têm o faro necessário, acontece de pérolas serem enquadradas nessa regra e demandarem um trabalho árduo na peneira. E a recompensa costuma valer o esforço, como é o caso de Lunar (Moon, 2009), disponível para aluguel desde fevereiro.
O longa não teve muitos recursos financeiros disponíveis e faz o colega Distrito 9 (District 9, 2009) parecer uma superprodução. Com parcos 5 milhões de dólares, o jeito era ficar no cenário fechado a maior parte do tempo. As cenas ao lado de fora, no terreno da Lua, não chegam a comprometer, mas não são nenhuma beleza. Se você parar para pensar que esse roteiro foi realizado com essa quantia, enquanto um Michael Bay por aí recebe uma fortuna para fazer essas continuações malas de Transformers, dá uma certa revolta. Além do fato de Bay ocupar diversas salas de cinema, enquanto Lunar já estar nas prateleiras das locadoras.
Mas o mercado brasileiro tem é que comemorar, já que, mesmo com atraso, o filme chegou por aqui (ao contrário, por exemplo, de Primer, de 2004). Trata-se da estreia do filho de David Bowie, Duncan Jones, na direção. E ele já mostra que tem competência suficiente para não depender do nome do pai. Só fica difícil desvincular o protagonista de Sam Rockwell do Major Tom da música Space Oddity, de Bowie. O filme seguinte de Jones, Contra o Tempo (Source Code, 2011), deve chegar ao Brasil no próximo mês e já traz consigo ótimas críticas, acumulando 92% de aproveitamento em 218 textos no site Rotten Tomatoes. Desta vez, com mais de 30 milhões de dólares no orçamento.
Voltando a Lunar, o roteiro de Jones e do também estreante Nathan Parker acompanha um astronauta solitário que chega ao final do contrato de três anos com a empresa que o enviou à Lua para extrair um poderoso gás, o Helium 3, que poderá resolver o problema de energia da Terra. A única companhia de Sam Bell é o computador GERTY, com quem tem conversas descontraídas e que usa emoticons para se expressar. Não tão avançado quanto o deprimido Marvin de O Guia do Mochileiro das Galáxias (The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy, 2005), mas muito mais bem humorado que o HAL 9000 de 2001 – Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1968).
A trama esquenta quando Sam começa a ter arroubos paranóicos, coisas começam a aparecer e a acontecer. GERTY, mesmo com a voz amigável de Kevin Spacey (Oscars por Beleza Americana, de 1999, e Os Suspeitos, de 1995), não consegue contornar a situação, e o filme cresce cada vez mais, basicamente nas costas de Sam Rockwell. Ele segue demonstrando ser um grande ator, desde que chamou a atenção com À Espera de um Milagre (The Green Mile, 1999), passando por Confissões de Uma Mente Perigosa (Confessions of a Dangerous Mind, 2002), Os Vigaristas (Matchstick Men, 2003), o já citado Guia do Mochileiro e No Sufoco (Choke, 2008), entre outros.
Para um filme ser construído em cima do trabalho de um ator, o sujeito precisa ser muito bom e manter o interesse do público. O roteiro pode ser bom ou ruim, cabe ao ator conseguir extrair o máximo da situação. Tom Hanks mostrou isso em Náufrago (Cast Away, 2000). E Rockwell se sai muito bem na tarefa em Lunar, lembrando que ele se trata de um daqueles raros casos de intérpretes que se não ganharam um Oscar ainda, problema é do Oscar.
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