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Terror uruguaio não chega a lugar nenhum

por Marcelo Seabra

Dentro do gênero terror, há uma divisão especial reservada aos “filmes de casa assombrada”. São diversos exemplares, que recorrem aos mais variados clichês, sabendo aproveitá-los ou não. Uma nova obra, nos cinemas, se encaixa nesse filão, e chama a atenção pelo cuidado técnico com que foi realizada. A Casa (La Casa Muda, 2010) é uma produção uruguaia que supostamente não teve cortes, sendo filmada em tempo real por 78 minutos. O que é fácil de contestar, mas não é o mais importante aqui.

Ao invés de ser mais um exemplar da moda que coloca um personagem para filmar tudo, como A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999), ou simplesmente da câmera parada em um apoio, como em Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007), trata-se de um longa mais tradicional nesse sentido. Mais, mas não muito, já que a câmera acompanha de perto a ação e treme junto com a personagem. A falta de cortes aparentes dá um ar de veracidade e transmite ao público o desespero da protagonista. E as restrições do orçamento mantêm tudo muito barato, o que é facilmente notado, mas até não chega a ser um defeito.

O diretor do longa, Gustavo Hernández, bolou a história ao lado de seu produtor, Gustavo Rojo, marcando a estreia de ambos no cinema. E o problema reside exatamente no roteiro do também novato Oscar Estévez, que não esclarece nada. Ele parte de uma premissa simples, mas que não chega a lugar algum. O esmero da equipe técnica não esconde o fato de que não havia história suficiente, que o roteiro é todo furado e que ninguém sabia como a história deveria terminar. Assim, fizeram qualquer coisa e partiram para o velho “se colar, colou”.

Wilson (Gustavo Alonso) e sua filha Laura (Florencia Colucci, muito competente, em seu primeiro papel – ao lado) devem fazer uma reforma e planejam passar a noite em uma casa de campo para começarem logo cedo o trabalho. Néstor (Abel Tripaldi), o dono da casa e amigo de Wilson, pretende vender a propriedade assim que ela estiver mais apresentável. Assim, ele se despede e deixa pai e filha lá, para azar deles. Não acontece muita coisa, mas o diretor é eficiente ao criar uma atmosfera de suspense, usando a decoração da casa e pouca luz – em alguns momentos, nenhuma. E isso é tudo.

Diz-se que a história é baseada em fatos, mas desconfio que isso sirva apenas para tentar atrair mais atenção. Teria acontecido algo semelhante em uma pequena vila uruguaia, nos anos 40. Talvez, alguém tenha morrido em uma casa e criaram essa trama toda em volta. Nunca se sabe o que é fato e o que é liberdade criativa ali, o que nos traz a outro problema. Fatos servem como inspiração para diversas histórias todos os dias, mas não se alega que são histórias reais, ou baseadas em fatos. Isso acaba cheirando mal.

A Casa chegou a fazer certo barulho nos Estados Unidos, e teve boa repercussão no Festival de Sundance no ano passado. A dupla responsável pelo bom Mar Aberto (Open Water, 2003), Chris Kentis e Laura Lau, se propôs a refazer o longa, já que americanos têm preguiça de ler legendas, e a nova versão, Silent House, foi exibida em janeiro, no mesmo Sundance. Pela descrição e fotos divulgadas, parece ter ficado pior que o original. E tem ainda  o diferencial de ser estrelado por uma terceira irmã Olsen.

Elizabeth Olsen, irmã caçula de Mary-Kate e Ashley, em Silent House

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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