por Marcelo Seabra
Dois longas recentes têm premissas bem parecidas e vão agradar aos fãs de ação. Mas, no que diz respeito ao desenvolvimento, Atração Perigosa (The Town, 2010) e Ladrões (Takers, 2010) não poderiam ser mais diferentes. Um fato, normalmente bem arbitrário, coincidentemente indica qual é melhor: o primeiro teve uma boa carreira nos cinemas, enquanto o segundo saiu direto em DVD. Ambos já estão disponíveis nas locadoras.
Contando com uma câmera nervosa e uma edição que se considera ágil, Ladrões consegue ser um filme divertido. Partindo-se do pressuposto que você vai assistir sabendo do que se trata, a experiência será satisfatória. Afinal, se você gosta de filmes de roubos e já viu os clássicos e os bons exemplares recentes, como Efeito Dominó (The Bank Job, 2008), esse deve servir. Outra obra a vir à mente é Fogo Contra Fogo (Heat, 1995), e o diretor John Luessenhop chega a ser comparado por alguns críticos a Michael Mann, mas numa versão mais pobre e pretensiosa.
Paul Walker (da série Velozes e Furiosos) e Idris Elba (o Heimdall de Thor, 2011) lideram uma gangue que planeja em detalhes suas ações e sempre busca
Um grande defeito de Ladrões, que chega a incomodar, é o fato de o diretor querer desesperadamente fazer um filme cool, descolado. O personagem de Hayden Christensen (o Anakin Skywalker da trilogia nova de Star Wars) parece estar em cena apenas para reforçar essa ideia, vivendo um ladrão estiloso, que usa chapéu, toca piano e mais parece um universitário. Ele é o responsável por bolar as fugas espetaculares do grupo, que conta ainda com o rapper Chris Brown e Michael Ealy (das séries FlashForward e The Good Wife).
As subtramas que o roteiro inclui parecem tentar transformar estereótipos em gente de verdade, mas não passam de distrações. O policial de Jay Hernandez (o jovem Carlito Brigante da prequel de O Pagamento Final, de 2005) é previsível de cima a baixo, assim como Lilly, vivida por Zoe Saldana (de Avatar, 2009), que só acrescenta um conflito óbvio entre dois ladrões. Nenhuma atuação tem grande destaque, assim como ninguém se queima, também. O resultado é mediano, faz o tempo passar e acaba passando junto.
A outra produção citada no início deste texto é digna de aplausos. Atração Perigosa (título safado para The Town, referência ao bairro Charlestown) é mais pé no chão, sem o glamour que pode se esperar de filmes sobre criminosos, e foi citado na minha lista de melhores de 2010. Ben Affleck, que teve sua estreia como diretor no policial Medo da Verdade (Gone, Baby, Gone, de 2007), entrega mais um grande trabalho, praticando também a função que lhe deu um Oscar, recebido por escrever Gênio Indomável (Good Will Hunting, de 1997). O roteiro, feito a seis mãos (Affleck, o novato Peter Craig e Aaron Stockard, de Medo da Verdade), é baseado no livro Prince of Thieves (Príncipe dos Ladrões), de Chuck Hogan.
Dividido entre três ocupações, Affleck percebeu que seu desempenho mais fraco é quando atua, e consegue driblar suas limitações se dando um papel dentro de suas possibilidades. Ele vive Doug McRay, o discreto líder de um bando de ladrões de Charlestown, bairro de Boston tido como berço em larga escala de criminosos. Seu melhor amigo, James “Jem” Coughlin (Jeremy Renner, de Guerra ao Terror, de 2008) é leal e violento na mesma medida, oferecendo um contraponto a Doug. Depois de um assalto bem sucedido, Doug começa a seguir a única testemunha que poderia trazer problemas se conseguisse reconhecer algum deles, a bancária Claire (Rebecca Hall, de Vicky Cristina Barcelona, de 2008). E um agente do FBI (Jon Hamm, o Don Draper de Mad Men) é encarregado de dar um basta nos assaltos.
Com Atração Perigosa, Ben Affleck comprova que tem o necessário para dirigir e escrever ótimas obras. Uma das formas de sabermos que um filme é bom é quando nos importamos com personagens que estão longe de serem heróis, e ficamos ansiosos por seus destinos. A relação entre Doug e Claire se desenvolve tão naturalmente que nos vimos forçados a torcer por eles, e até o psicopata Jem tem o seu carisma. Se dependesse do público, o agente de Jon Hamm não conseguiria nada, deixando o grupo livre para novos golpes.
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