por Marcelo Seabra
Vista recentemente em Um Novo Despertar (The Beaver, 2011) e em X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011), Jennifer Lawrence (acima) segura nas costas um drama sobre pessoas sofridas no interior pobre do estado do Missouri. No entanto, não se trata de um dramalhão, como pode parecer, e o tom não é exatamente pessimista devido à força e perseverança de sua personagem principal, a adolescente Ree Dolly (Jennifer). Aos 17 anos, Ree cuida de seus irmãos menores devido à doença da mãe, vítima de um grau de catatonia, e ao sumiço do pai, um “cozinheiro” de metanfetamina que desapareceu ao sair da cadeia.
Jessup, o pai, deixou a casa da família como garantia no caso de ele não dar mais as caras, e é exatamente o que acontece. Ree, que levava sua vidinha contando com a ajuda do governo e com contribuições dos vizinhos, recebe a visita de um policial que a avisa da situação da casa. O prazo para o pai aparecer está estourando e eles vão perder seu lar. Ela, então, empreende uma busca desesperada pelo pai e acaba confrontando traficantes perigosos. E seu principal problema pode estar dentro de sua própria família, na figura do violento tio Teardrop (John Hawkes, também indicado por sua ótima atuação).
A diretora Debra Granik, duas vezes premiada no Festival de Sundance (pelo inédito aqui Down to the Bone, de 2004, e por este Inverno da Alma) entrega um longa que faz um raio-x das relações entre os caipiras do meio-oeste americano, colocando de lado qualquer estereótipo que possamos imaginar. Não se trata do interiorano bonzinho, ou do espertalhão, ou qualquer outra figura pré-produzida. Os personagens são tridimensionais e crescem a cada minuto da projeção, dando ainda mais profundidade a seus dramas. Com boa parte do elenco formada por amadores, o nível de realismo alcançado é altíssimo, e o resultado é altamente recomendado.
O outro longa já disponível é Cisne Negro, que tem como grande trunfo a atuação de Natalie Portman (de Thor, 2011). Ela vive Nina, uma bailarina que disputa o grande papel de O Lago dos Cisnes, peça de Tchaikovsky marcada pela dualidade dos dois papéis principais, que representam o bem e o mal. Quanto mais perto Nina chega da perfeição, mais se afasta de sua sanidade.
Os trabalhos de Darren Aronofsky, que vão do excelente Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream, 2000) ao cansativo Fonte da Vida (The Fountain, 2006), passando pelo estranho Pi (1998) e pelo correto O Lutador (The Wrestler, 2008), sempre são uma incógnita, fica difícil criar uma expectativa. Não dá para negar que aqui ele consegue extrair uma ótima performance de seu elenco, que, além da premiada Natalie, conta com Mila Kunis (da finada série That 70’s Show), Vincent Cassel (de Senhores do Crime, 2007), Barbara Hershey (de Sobrenatural, 2011) e Winona Ryder (do novo Star Trek, de 2009).
A personagem principal domina tão bem a técnica que é considerada fria por seu coreógrafo (Cassel). Em casa, a mãe (Hershey), ela própria uma ex-bailarina, mistura amor e cobrança para que a filha atinja um sucesso que ela nunca conseguiu. E Nina acaba
Na época do lançamento de Cisne Negro, um certo barulho começou quando a dublê de Natalie, Sarah Lane, alegou que a atriz teria feito apenas 5% do trabalho nas cenas de dança. Segundo Aronofsky, foram 139 tomadas com dança, 111 delas com Natalie, o que daria 80%. Sarah disse ao programa da TV americana 20/20 que não buscava elogios ou palmas, apenas não aceitava ver a mentira causar danos ao universo do balé. Ficou uma palavra contra a outra, o que não impediu os membros da Academia de elegerem Natalie a melhor atriz do ano.
Apesar da polêmica sobre as cenas de dança e das “viagens” de Aronofsky, Cisne Negro é um filme bem interessante e merece uma conferida. Não foi o melhor filme de 2010, mas com certeza mereceu estar entre eles. Assim como Inverno da Alma.
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