Por Marcelo Seabra
É comum, ao falar de histórias sobre advogados, se lembrar de John Grisham. São dele os livros que deram origem a filmes como A Firma (The Firm, 1993), O Cliente (The Client, 1994), Tempo de Matar (A Time to Kill, 1996) e O Homem Que Fazia Chover (The Rainmaker, 1997). Muitos de seus personagens são pessoas íntegras, até inocentes, que se deparam com algo sórdido e têm a chance de fazer algo de bom. Por outro lado, há um escritor relativamente famoso nos Estados Unidos, que não chega a ter o mesmo reconhecimento por aqui, que nos apresenta a um advogado que nem sabe o que é inocência, ou como reconhecê-la. Michael Connelly é o autor de The Lincoln Lawyer, obra cuja adaptação para o cinema chegou ao Brasil, chamando-se O Poder e a Lei (2011), na última sexta-feira.
A história começa quando Mick é contratado para defender um rico playboy de família tradicional, Louis Roulet (Ryan Phillippe, de Quebra de Confiança, de 2007). Roulet é acusado de espancar uma prostituta e o caso aparentemente será o mais fácil da carreira de Mick, e o que vai render mais honorários. Tudo corre tranquilamente até que um profissional próximo a Mick é morto e a situação começa a ficar bem suspeita. Não deixa de ser uma ironia que, na primeira vez em que parece conseguir reconhecer a inocência, Mick encontre uma personificação do mal em sua forma mais pura.
Desde o início, o longa do inexpressivo Brad Furman já se coloca como descolado, cool. A edição do início, com a trilha escolhida a dedo, é ágil e já estabelece o clima. Mas o que parecia ser pura pretensão acaba sendo realmente um bom programa: divertido, coerente e bem atuado. Por incrível que pareça, temos aqui um Matthew McConaughey seguro, totalmente à vontade no papel e contido quando necessário. Normalmente lembrado por comédias bobas e cenas em que aparece descamisado, abusando da boa forma física, o ator tem ótima presença e não faz feio ao lado de outros grandes coadjuvantes. Compõem a lista Marisa Tomei (de O Lutador, de 2008), William H. Macy (também de Sahara), Josh Lucas (de Hulk, de 2003) e Bryan Cranston (da série Breaking Bad, 2008 – 2011), para ficar nos que mais chamam a atenção.
O já citado John Grisham anda meio sumido, tentado variar seus temas, como na comédia Jogando por Pizza, de 2007, ou no drama A Casa Pintada, de 2001, além de mais alguns suspenses de advogados, que acabaram se tornando repetitivos. Michael Connelly traz um ar de novidade a este subgênero e suas obras são muito bem-vindas no cinema. O próprio autor, segundo publicou em seu site pessoal, gostou bastante da adaptação, tecendo vários elogios a O Poder e a Lei. São dois os pontos que ressalta: o roteiro, que respeita os personagens e os detalhes da trama, e o protagonista, dizendo que McConaughey entendeu bem a essência de Mick Haller. Para Connelly, o filme será bem recebido tanto por aqueles que conhecem o livro como pelos não-iniciados. Membro do segundo grupo, devo dizer que concordo com o escritor.
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