HBO se supera com Game of Thrones

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

A nova série da HBO, Game of Thrones (ou A Guerra dos Tronos, de 2011), estreou com bastante alarde nos Estados Unidos no dia 17 de abril e chegou por aqui em tempo quase recorde, com menos de um mês de diferença entre a primeira exibição na terra do Tio Sam, no dia 8 de maio. A pergunta que muitos poderiam se fazer é: apesar do padrão de qualidade sempre exibido em suas séries, Game of Thrones valeria toda essa expectativa e todo esse barulho gerado em torno de si? Depois de seis episódios, a resposta é: sim, vale.

A série se passa no fictício Westeros, um mundo onde tanto os verões quanto os invernos são caracteristicamente longos e as estações entre eles, bastante curtas. No momento em que a série começa, o verão já anda pelo seu décimo ano e todos acreditam que o inverno está chegando. Enquanto todos se preparam para aquele que seria o pior inverno da história, chega a notícia de que Jon Arryn, a “Mão do Rei” – uma versão do cargo de Primeiro Ministro – faleceu de uma doença misteriosa. Precisando de um substituto, o rei dos Sete Reinos, Robert Baratheon (Mark Addy, de Ou Tudo, Ou Nada, de 1997) decide ir com todo o seu séquito até Winterfell, terra ao norte comandada por seu amigo e aliado Eddard “Ned” Stark (Sean Bean, da trilogia O Senhor dos Anéis), pedir-lhe que aceite o cargo.

Depois de bastante hesitar, Ned (ao lado) acaba sendo levado a aceitar o cargo quando lhe chegam informações de uma grande conspiração para assassinar o rei. Dizer mais estragaria as surpresas da série. O reinado de Robert, no entanto, sofre por todos os lados. Apesar de ser um rei popular, muitos o chamam de “Usurpador”, já que ele tomou o trono à força, quando, liderando uma rebelião, lutou contra o exército de Aeryen Targaryen, o “Rei Louco”. Aeryen deixou dois herdeiros, banidos de Westeros para o outro lado do mar estreito: o príncipe Viserys (Harry Lloyd, de Jane Eyre, de 2011) e sua irmã, Daenerys (Emilia Clark) , que ele usa como um instrumento para recuperar seu trono, ao praticamente trocá-la pelo apoio de Khal Drogo (Jason Momoa, o novo Conan).

Daenerys se tornaria a esposa do violento e selvagem chefe tribal, líder de um exército de 100.000 homens da tribo dos Dothrakis que, em tese, usaria de seu exército para atravessar o mar estreito, derrotar os exércitos do Rei Robert e entregar a coroa a Viserys. A ameaça ao trono de Robert, no entanto, não vem apenas de além mar. Dentro de sua própria casa há aqueles que conspiram contra ele. Entre seus mais dissimulados inimigos estão os Lannisters, ex-aliados de Aeryen Targaryen. O patriarca da família, Tywin, havia sido a “Mão” de Aeryen, mas acabaram aderindo à rebelião de Robert. Dentre os principais membros do clã dos Lannister estão a rainha Cersei (Lena Headey, de 300, de 2006), esposa de Robert, seu irmãos Jaime (Nikolaj Coster-Waldau, de Cruzada, 2005), o “Regicida”, aquele responsável por desferir o golpe fatal em Aeryen, e Tyrion (Peter Dinklage, de As Crônicas de Nárnia – O Príncipe Caspian, de 2008), o “Duende”, apelido lhe dado pelo fato de ser um anão. Todos eles têm suas agendas particulares, sendo que os objetivos de Tyrion são os mais obscuros. Ora ele se alia aos Stark – inimigos históricos dos Lannister – ora conspira a favor de sua família.

Como dito acima, os principais aliados dos Baratheon são os Stark. Além de Ned, a família é composta por Catelyn Stark (Michelle Fairley, de Harry Potter e as Relíquias da Morte, de 2010) e seus filhos Robb (Richard Madden), Sansa (Sophie Turner), a prometida do príncipe Joffrey (Jeff Gleeson), o primogênito de Robert e Cersei, Arya (Maisie Williams), Bran (Isaac Hempstead-Wright), e Rickon, que, até o momento, foi apenas mencionado na série. O clã dos Stark tem, ainda, a presença de Jon Snow (Kit Harington), filho bastardo de Ned que acaba sendo enviado, por opção própria, para A Patrulha da Noite, uma unidade de monges guerreiros que se vestem de negro e cuja principal função é proteger o extremo norte de Westeros. Lá, há uma gigantesca muralha que separa Westeros das terras selvagens, onde criaturas inomináveis espreitam e esperam apenas a chegada do inverno.

Mapa de Westeros

Game of Thrones é uma história com diversas camadas, onde cada episódio revela uma nova conspiração, e apresenta novos personagens, sejam eles aliados, sejam inimigos da coroa, e é brilhantemente realizada. A produção soube bem adaptar situações e cenas para que cada temporada coubesse em pouco mais de dez episódios e fosse mesmo mais palatável para o público, no momento em que, por exemplo, as idades das crianças Stark são elevadas (Bran, por exemplo, tem 8 anos no livro e 10 na série; Robb é um garoto de 14 anos no original e um jovem adulto na tv). Por outro lado, cenas fortes de sexo, estupro, incesto e assassinato não foram sequer suavizadas em sua maioria.

Um empreedimento ambicioso da HBO, a série tem tudo para agradar tanto fãs de fantasia como O Senhor dos Anéis quanto aqueles que adoram histórias que envolvam conspirações e lutas pelo o poder, quanto aquelas mostradas em Roma, série da própria HBO. Game of Thrones é baseada no livro homônimo do romancista norte-americano George R. R. Martin e é o primeiro capítulo de As Crônicas de Gelo e Fogo, série prevista para durar sete livros, dos quais quatro já foram lançados nos Estados Unidos. O quinto chega nas livrarias de lá no dia 12 de julho. Os dois primeiros livros da série, As Crônicas de Gelo e Fogo e A Fúria dos Reis, foram lançados no Brasil recentemente pela editora LeYa, que já prometeu que o terceiro volume, A Tormenta de Espadas, para setembro.

Uma última nota relacionada: a influência da obra de George R. R. Martin também chegou ao mundo da música. Os alemães do Blind Guardian gravaram uma faixa intitulada War of the Thrones em seu mais novo álbum, At the Edge of Time, justamente baseada na obra do escritor.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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