Habemus Papam, e ele é um Bórgia

por Marcelo Seabra

Com o fim de The Tudors (2007 – 2010), o canal Showtime tratou de conseguir outra série de conspirações e intrigas históricas. O diretor, produtor e roteirista Neil Jordan (Fim de Caso, Entrevista com o Vampiro, Traídos pelo Desejo, entre outros) é o criador e maestro de The Borgias, a nova família a ser retratada na televisão. Mas, como é já usual, com qualidade de cinema, incluindo equipe técnica e elenco.

Os Bórgia são apontados como uma família de criminosos, talvez a primeira célebre. Apesar de muitas histórias, sempre recontadas devido ao teor apimentado, pouco é comprovado do que diz respeito às atividades ilícitas da família. Dentre os supostos crimes e pecados, estariam a morte de rivais por envenenamento, o enriquecimento por meios desonestos, incesto, luxúria e a defesa de interesses próprios.

Rodrigo Bórgia (ilustração ao lado) era sobrinho do Papa Calisto III, que o colocou como protegido e o nomeou cardeal quando tinha apenas 25 anos. Mesmo após a morte do tio, Rodrigo continuou a crescer na hierarquia e era tido como um grande administrador, que trouxe muita riqueza para a Igreja e para si próprio. Ele ocupou a função de Vice-Chanceler da Igreja e foi um grande diplomata por mais de trinta anos.

Em 1492, com a morte de Inocêncio VIII, Rodrigo foi eleito Papa pelo conclave. Dizem as más línguas que ele havia pago os colegas, prática conhecida como simonia, mas nada ficou atestado. De forma geral, era admirado pelo povo, os poucos problemas ligados a jogos e a mulheres que apareceram nos anos anteriores foram logo esquecidos. Inclusive, fazia-se vista grossa ao fato de ele ter uma amante e aos quatro filhos do casal.

Com a proposta de restaurar a ordem a Roma, Alexandre VI chegou a interferir na justiça, julgando casos populares, melhorou a proteção física da cidade e do Vaticano contra possíveis conflitos, reconstruiu a Universidade Romana, garantiu liberdade religiosa aos judeus e até mediou disputas entre países. A mais notável foi entre Portugal e Espanha, evitando que a discussão quanto aos territórios recém-descobertos na América pudesse originar uma guerra na Europa.

Claro que, na ficção, as coisas não poderiam parar por aí. Na pele e talento de Jeremy Irons (Appaloosa, de 2008), Rodrigo Bórgia busca o poder acima de qualquer coisa, justificando que Deus está a seu lado. Na série, sua eleição é claramente comprada e ele ganha vários inimigos poderosos entre os demais cardeais. Para resolver seus problemas, conta com seus filhos, tendo um, César (François Arnaud, de Eu Matei a Minha Mãe, de 2009), ao seu lado como bispo e o outro, Juan (David Oakes, da série Os Pilares da Terra, de 2010), como chefe da força militar papal. Seus dois filhos mais novos, Lucrécia e Jofre, seriam usados para cimentar alianças políticas através de casamentos.

O piloto da série foi editado junto com o segundo episódio e exibido nos Estados Unidos em 3 de abril. Por aqui, ainda não há previsão. O canal Showtime disponibilizou os episódios na Internet e eles são facilmente encontrados. Se o padrão de excelência visto neles se mantiver, será certamente a melhor série do ano. As tramas elaboradas e cenas mais ousadas (como a acima) não deixam nada a dever a The Tudors.

Na mesma época em que foi feito o anúncio oficial da produção pelo Showtime, o francês Canal Plus divulgou contrato fechado para contar a mesma história, na série Borgia. Além dessas duas séries, que vão disputar o público, a família já foi retratada em produtos de diversas mídias, sendo os mais famosos o livro Os Bórgias, de Mario Puzo (autor de O Poderoso Chefão, que teria sido inspirado em César Bórgia), o filme espanhol Los Borgia, de 2006, e o jogo Assassin’s Creed: Brotherhood (abaixo), para as plataformas PlayStation 3 e Xbox 360.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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