por Marcelo Seabra
Na trama, acompanhamos a arara azul Blu (na dublagem original, com voz de Jesse Eisenberg, de A Rede Social, 2010) em sua viagem ao Brasil, saindo de uma pequena e apagada cidade norte-americana. Sua dona, Linda (Leslie Mann, de Funny People, de 2009), é procurada por um ornitólogo, Túlio (voz do galã Rodrigo Santoro), para que eles salvem a espécie da extinção promovendo um encontro entre Blu e a sua Jade (Anne Hathaway, apresentadora do último Oscar e atual namorada de Hollywood). Enquanto todos eles estão se conhecendo, aparecem criminosos dispostos a ganhar dinheiro com as aves e a confusão começa.
A história não foge do previsível, mas ela não é o mais importante aqui. Rio tem ótimos coadjuvantes, como o buldogue Luiz (Tracy Morgan, da série 30 Rock), que proporcionam momentos bem engraçados. Os macaquinhos lembram o rei Julien e seus súditos de Madagascar (2005 e 2008) e também divertem, e o filme explora bem a riqueza da fauna brasileira, com tucanos, periquitos etc. Talvez por isso, o que mais chame a atenção é a exuberância das imagens. Além dos animais, praias e demais belezas naturais, bairros como a Lapa e Santa Tereza servem como cenário e os personagens chegam a passar até por um fantástico desfile na Marquês de Sapucaí. Não podia faltar o Cristo Redentor, claro!
Ainda sobre a trama, é interessante reparar que Rio não segue o que parece ser uma tendência geral: animações que se preocupam muito com o público adulto fazendo várias referências ao mundo pop, o que a criançada deixa passar. Podemos observar algumas homenagens, como uma hilária cena que lembra o clássico Nosferatu (de 1922), mas tudo é bem simples, no geral. E o humor é acessível a vários tipos de público, de diferentes faixas etárias, deve agradar a todos. E, se pelo trailer, temos a impressão de que a trama se desenvolve rapidamente, sem períodos mornos, confirmamos isso após a sessão.
Uma campanha da prefeitura do Rio de Janeiro não traria um resultado tão bom para o turismo. O filme mostra tudo o que o estrangeiro quer ver, pode-se dizer que é o outro lado do que é visto nos dois Tropa de Elite (de 2007 e 2010) e em Cidade de Deus (2002). A favela aparece, assim como criminosos – no caso, traficantes de aves – mas o forte aqui são as cores, as belezas do Rio e a alegria que parece tomar conta de todos que estão lá. Os ritmos latinos não poderiam faltar, cortesia dos músicos contratados para cuidar da trilha: a produção executiva é assinada por Sérgio Mendes (compositor de, entre outras, Mas Que Nada, que toca no filme) e há participações especiais de Carlinhos Brown e Bebel Gilberto.
Rio chega aos cinemas brasileiros na próxima sexta-feira sem grandes concorrentes, o que deve garantir um ótimo número de espectadores. E Saldanha merece ser prestigiado, com ou sem 3D, mostrando novamente que é um dos grandes nomes da animação mundial. Acaba tirando um pouco o foco da Pixar, que já deve estar acostumada a receber a atenção da maior parcela do público, e aumentando a relevância dos estúdios Blue Sky, de onde ainda deve sair muita coisa boa. A próxima produção deles deve ser Ice Age: Continental Drift, mais uma continuação de A Era do Gelo.
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