por Marcelo Seabra
A máxima “falem mal, mas falem de mim” não funciona muito para filmes. Quando o boca a boca não ajuda, o período de exibição costuma ser curto. Se, às vezes, apesar do que dizem, você decide assistir a determinado filme, vá rápido. Os exibidores não parecem muito dispostos a dar chances para que os filmes possam mostrar um bom resultado num segundo momento. Isso acontece inclusive com filmes não necessariamente ruins, mas que não tenham mobilizado o público. Caso, por exemplo, de Enterrado Vivo (Buried, 2010), ótimo suspense exibido no Brasil no fim do ano. Provavelmente querendo poupar as maiores estréias para o período pós-festas e sem ter o que exibir, algumas salas deram uma segunda chance ao longa, que conseguiu conquistar mais algum público. Aqui, acabou saindo de cartaz com pouco mais de 1100 espectadores e três semanas de exibição.
Na lista de piores filmes do ano, há certas produções que nem merecem figurar, tamanha a má fama de seus realizadores ou falta de fundos para apresentar um trabalho decentemente realizado. Normalmente, os destaques entre os piores devem ser os filmes que criam certa expectativa ou mesmo que envolvem bons nomes, mas entregam um resultado decepcionante. Há ainda um grau de curiosidade mórbida, que faz um indivíduo sair de casa para conferir se certo filme é tão ruim quanto parece. Na maioria das vezes, é. Todos estão sujeitos a um escorregão.
Fúria de Titãs (Clash of the Titans, 2010) e A Hora do Pesadelo (Nightmare on Elm Street, 2010) são duas refilmagens que deram as caras ns cinemas em 2010. Mas deveriam ter coberto o rosto, tamanho o papelão. A volta de Freddy Krueger seria até justificada, já que trata-se de uma série de certo sucesso no gênero terror que andava bem desgastada. Mas, se não se sabe como continuar, começa-se de novo. Assim, contratam novos e inexpressivos jovens, criam um roteiro menos ousado e original que o anterior e, o mais óbvio: recriam algo que era bom e não pedia uma nova visita. A volta ao Olimpo dos Titãs é ainda mais injustificada, já que o original (de 1981), apesar do ótimo elenco, já não era grandes coisas. O novo caiu na mesma vala: atores mais que competentes dirigidos por um profissional limitado e guiados por um roteiro formulaico, que mata quem precisa morrer apenas para efeitos dramáticos e resolve conflitos das piores maneiras possíveis. Dá a impressão de que os roteiristas sabem aonde querem chegar, mas nem imaginam como fazê-lo. Por isso, tomam os atalhos mais absurdos. E, inacreditavelmente, já podemos esperar por uma sequência.
Mudando para o gênero das comédias, um campeão de bombas é Rob Schneider. Mas, desta vez, a culpa não é só dele, já que a irmandade se reuniu para cometer Gente Grande (Grown Ups, 2010). Além de Schneider, estão lá Adam Sandler, Kevin James, Chris Rock e David Spade. Suspeito, inclusive, que pouca gente viu esse, já que não aparece com tanta freqüência quanto alguns dos já citados em listas de piores do ano. Com as mesmas piadas de sempre, uma falta de graça absurda e situações mais do que batidas, o longa acompanha o encontro de velhos amigos, agora casados e com filhos, reunidos para celebrarem a memória do falecido treinador de basquete do time da escola.
No campo da curiosidade mórbida, entram três produções de um mesmo gênero: a malfadada comédia romântica. Poderia ser dada como empate técnico a comparação entre Idas e Vindas do Amor (Valentine’s Day, 2010), Plano B (The Back Up Plan, 2010) e Sex and The City 2 (2010). O primeiro tenta ser a versão americana do britânico Simplesmente Amor (Love Actually, 2003), sem metade da simpatia apresentada pela equipe do diretor e roteirista Richard Curtis. Os vários personagens que aparecem na tela não são bem amarrados, não têm carisma e suas conclusões são bem forçadas, com raras exceções. O segundo, veículo para tentar levantar a carreira de Jennifer Lopez, parte de uma premissa até interessante, da mulher que conhece o homem de seus sonhos já grávida, logo após passar por uma inseminação artificial. Há elementos curiosos para se explorar, mas não seguram uma duração superior a um episódio de série de televisão. Diluindo-se o que há de bom, sobra um filme sem humor, desinteressante e cansativo, meio como uma novela mexicana.
Para fechar a lista, um longa do ano anterior que só chegou aqui em fevereiro: Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones, 2009). Talvez pelo fato de ser o primeiro drama do diretor Peter Jackson após a consagração por ter dado vida à Terra Média na Trilogia dos Anéis (entre 2001 e 2003), o trabalho era esperado. Não li o livro no qual ele é baseado, mas o roteiro é simplista, confuso em certos
Vale lembrar duas menções desonrosas do ano: Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme (Wall Street – Money Never Sleeps, 2010) e Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pilgrim Vs. The World, 2010). Dois longas que, por motivos diferentes, eram aguardados e acabaram não acrescentando nada. O segundo Wall Street consegue tirar a força do original, não dando espaço suficiente para o sempre competente Michael Douglas e focando mais nos dramas profissionais e amorosos do personagem de Shia LaBeouf, mais insosso que um talo de couve. E Scott Pilgrim, amado por uns, detestado por outros, é uma produção apontada como inovadora em sua linguagem, que utiliza elementos dos videogames. E? Uma historinha safada, de um jovem sem graça que deve derrotar os maléficos e superpoderosos ex-namorados da sua atual pretendente, uma canadense que parece chamar atenção apenas por ter o cabelo colorido e ser de outro país.
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Eu trocaria o Scott Pilgrim pelo Robin Hood. Gosto do Michael Cera e sou da geração nintendo. Mas no filme do Ridley Scott nada funciona.
A linguagem de Robert Rodriguez: imagens surrealistas e sangue espirrando por todos os lados - como no tiroteio dentro da igreja ao som da célebre "Ave Maria", do francês Charles Gounot. Bons atores e mulheres bonitas completam a gororoba cinematográfica. Não é prá ser levado a sério, mas vale como diversão. Influências sanguinolentas do diretor: Sam Peckinpah? Western à macarrão dos italianos?