Dizem que os olhos são a janela d’alma. Pode ser. Mas prefiro os sorrisos
Poucas coisas me encantam mais que sorrisos. E poucas coisas me emocionam mais também. Choro como bebê com cólica diante certos dentes escancarados
Recentemente, um ‘bellman’ (como são chamados os gentis e prestativos funcionários dos hotéis, que nos ajudam com a bagagem), um senhor negro, cabelos brancos, meio curvado pela idade, me socorreu com minha ‘mudança’. Ao receber o pagamento (gorjeta), abriu um largo e afetuoso sorriso de gratidão. Pronto! Lá se vão alguns ‘emieles’ de água salgada.
Há alguns anos, também vindo de um senhor negro – que me fritou um dos mais perfeitos ovos com gema mole que já comi -, após eu agradecer pela iguaria, respondeu ‘de nada’ e mostrou todo o resplendor daqueles dentões brancos perfeitos. Há sorrisos e há sorrisos. Os que me tocam são aqueles que vêm do fundo da alma, carregados de afeto.
Acabo de me lembrar de uma velhinha. Curiosamente, era pretinha, pretinha. Se minha mãe estivesse aqui, ela, que era ligada ao espiritismo (uma judia espírita!), diria que tenho ligação com os pretos(as) velhos(as), símbolos de boas almas desencarnadas e que permanecem por aqui, de algum modo, ajudando e cuidando dos vivos. Foi outro sorriso inesquecível!
E o que falar das gargalhadas fofas, gostosas e ‘enooormes’ dos bebês? E dos sorrisos das crianças diante do que gostam? Da expressão facial de um(a) filho(a) ao ver o pai ou a mãe na porta da escola? Putz! Como não se encantar e se emocionar com os sorrisos francos, olhinhos estreitos e marejados dos nossos pais (quando idosos) e avós?
Sorrir de verdade, com sinceridade, com emoção, não é uma arte; é um dom. Um dom de quem possui paz de espírito e consciência tranquila; de quem possui amores e é amado. É simplesmente um momento sublime onde tudo aquilo que fazemos e sentimos vem à tona e mostra – na verdade, entrega! – quem somos e o que estamos sentindo.
Já conheci e recebi muitos sorrisos. Vários deles sinceros, vários falsos, vários honestos, vários protocolares. Sorrisos que me fizeram chorar e sorrir junto também. Mas poucos me tocaram – sempre me tocavam! – como os do nosso querido e eternamente saudoso Selmo Geber. Quem o conheceu intimamente, sabe muito bem do que estou falando.
A cada vez que nos víamos (e nos víamos muito pouco), a face dele enrubescia como a bandeira do Flamengo; os olhões azuis dilatavam tanto, mas tanto, que pareciam querer saltar do globo ocular. E seguia-se, então, um dos mais francos sorrisos da face da Terra. Putz! Que saudade vou sentir desse cara e dos seus sorrisos iluminados.
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