“O vencedor é o perdedor que não desistiu e tentou mais algumas vezes.” (Bernardinho, ex-técnico da seleção brasileira de Vôlei)
Nasci rico. Bem rico. Meu avô e meu pai eram ricos. Descuidaram-se dos negócios, perderam-se na farra e acabaram com tudo. Um foi passado para trás, o outro quebrou. Ficaram pobres. Ficamos pobres. Fiquei pobre. Naquele tempo, quando um empresário quebrava perdia tudo. Hoje, fica mais rico. Vejam Eike Batista e tantos outros por aí.
Eu tinha 3 para 4 anos. Meu pai tornou-se: vendedor de eletrodomésticos, corretor de imóveis, vendedor de móveis e, por fim, administrador em uma entidade de classe. Minha mãe foi servidora federal e depois municipal. Ambos estão aposentados. Ele recebe pouco mais de R$ 1 mil. Ela, cerca de R$ 3 mil. Não sei como, mas sempre proveram aos quatro filhos boa moradia, boa escola, boa alimentação, boa saúde e bom ambiente social.
Comecei a trabalhar aos 17 anos. Fui “caixa” no extinto Banco Nacional. Depois me mandei para São Paulo e fui fazer um teste em uma gigante multinacional alemã. Consegui o emprego, voltei a BH e tive uma carreira de sucesso. Com 30 anos resolvi empreender. Retornei a São Paulo e iniciei meu próprio negócio. Fui traído, enganado, escorraçado e quase quebrei a cara. Numa reviravolta doída, que me custou amores, reinventei a roda e não tombei.
Nunca fui um aluno brilhante. Nunca fui um trabalhador voraz. Nunca fui um empresário arrojado. Mas fiz escolhas certas, não remei contra a sorte e nunca fiz besteira. Me cerquei de gente honesta e fiel. Jamais prejudiquei deliberadamente alguém e sempre ajudei quem precisou. Como se diz no jargão popular: “Dei certo. Venci na vida!” Hoje olho para trás e só tenho o que agradecer. A quem agradecer. Mesmo àqueles FDPs que cruzaram meu caminho. Tudo foi importante para me tornar o que sou, quem sou.
Nunca recebi nada do Estado brasileiro. Jamais me beneficiei de uma mísera lei ou medida, sejam municipais, estaduais ou federais. Ao contrário! Só encontrei do Poder público perseguição, exploração, humilhação, barreiras, ineficiência, autoritarismo, lentidão, burocracia, atraso e prejuízo. Muito prejuízo! O maldito Estado sempre me foi uma âncora. Jamais um balão. E se eu consegui, você também pode conseguir. Qualquer um pode conseguir.
O Brasil passa por sua maior crise. Não financeira, mas moral, o que é muito pior. Já perdemos milhares de jovens, cabeças brilhantes que se foram em busca de ares respiráveis e um futuro claro. A cada pai e mãe que encontro, a expectativa é a mesma: formar bem os filhos e mandá-los para fora. Justamente quando mais precisamos de nossa elite intelectual, o país, ou melhor, aqueles que comandam o país, expulsam-na daqui. Isso precisa acabar!
Já pensei o mesmo, não vou mentir. Mas amigos que foram, voltaram. E todos pelo mesmo motivo: gostam daqui. Os que deixaram filhos estudando têm a certeza de que voltarão ao se formarem. Conheço vários que já voltaram. E a cada puxão de orelhas que lhes dava (pela estupidez de voltar!), recebia a mesma resposta: “aqui é muito melhor”. Difícil de acreditar, eu sei. Mas deve ser. De alguma forma… deve ser.
Outro dia, um amigo querido me disse:
“Ricardo, não somos tão ruins assim. Somos melhores que toda a América Latina e Central (salvo o Chile), que o México, que toda a África, que boa parte da Europa, que praticamente toda a Ásia. Perdemos para os Estados Unidos e Canadá, para Austrália e Nova Zelândia, para os tigres asiáticos e para a Europa Ocidental desenvolvida.”
Bem, ele tem toda razão e é um ponto de vista. É aquela história de “copo meio cheio ou meio vazio”. Pessoalmente, como sabem, sou da turma do “copo meio vazio”. Fui — e de certo modo ainda sou — tão castigado pelas injustiças do Estado, que minha visão tornou-se turva e fechada. Não consigo enxergar ao redor (as coisas boas) e só miro no que não presta. Talvez por isso nunca consiga perceber o que temos de bom (se é mesmo que temos algo de bom). O ideal seria essa minha viseira cair e me libertar o olhar. Poderia enxergar melhor e mais longe. Em 360° e não só em 15°. Me faria muito bem.
Para piorar, tenho uma sensibilidade em relação ao sofrimento alheio muito acima do normal. Assim, a cada velho abandonado na rua; a cada moleque pelado na estrada; a cada pai e mãe desesperados em um hospital; a cada adolescente estuprada; a cada senhora assaltada num ponto de ônibus, me enclausuro ainda mais no meu porão de raiva e ressentimento em relação ao país. Me torno mais rude e monotemático. Só que eu estou errado! Não em ser quem sou ou sentir o que sinto. Mas em não buscar sair da armadilha em que os “homens maus” me colocaram.
Este texto é uma simples mensagem. Uma mensagem aos pais e filhos que me leem e que planejam sair do Brasil:
Por favor, não façam como eu! Não se deixem aprisionar, como eu me deixei. Lutem! Não fujam! Vocês são muito maiores e melhores que os “homens maus”. O país é seu. É meu. É nosso também, não é só deles; só para eles. Juntos, aqui, poderemos mudar. Separados, lá, jamais deixaremos de ser o que somos, o que nos tornamos. Não saiam do Brasil. Mudem o Brasil!
Acreditem, meus caros: se seguirem este meu conselho, estarei lhes economizando o tempo (e o dinheiro) que irão gastar para descobrir o que tantos já descobriram, ao ir e voltar: que aqui é muito melhor!
*Unidos resistimos, divididos tombamos.
(Texto originalmente publicado na versão impressa do jornal Estado de Minas, em 21 de agosto de 2017)
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Esta crise existêncial lhe fará bem.
Bom, eu me formei no Brasil, trabalhei bastante por aqui, depois de um tempo, acabei me mudando para a europa para fazer algumas especializações (e também porque era um desejo), e terminei morando por alguns anos e trabalhando.
Retornei ao Brasil em meio a uma grave crise, porém, já voltei com emprego garantido, afinal só retornei, devido a excelente proposta de trabalho que recebi e também em partes por estar de saco cheio do tédio que é morar na europa (sim, é tedioso, passar férias é ótimo, morar é outra história) , além da saudade dos meus pais, amigos e da cidade natal.
Na europa como um todo, a coisa não está tão boa, amigos irlandeses, portugueses e de outras nacionalidades, passaram perrengue com emprego recentemente também, alguns deles mais de um ano sem emprego.
Sair do país não é para quem quer, não é simples e não é garantia de nada.
Se tenho vontade de sair do Brasil outra vez? Tenho, mas acredito não ser o momento.
A cidadania italiana que eu e minha esposa temos, ajuda, mas faltam no momento, opções de países europeus que estão bem de economia e empregos, e que não esteja correndo risco de ter algo sendo explodido por lá, esse também é um fator que estamos pesando bastante, a europa está bem insegura.
Parabéns, pelo comentário. Mas sinceramente gostaria de saber pq esta visão de correr atras do emprego, aqui ou lá. Empreender não é uma opção?Tédio? Não entendi?
Uma vida "normal" não é o que procuramos? E o que é normal, um trabalho recompensador, ou um empreendimento que tenha como se manter ou até mesmo crescer, pois existe demanda para serviços e produtos na economia. Isto é tédio?
Amigo, quando eu me refiro ao tédio de se viver na europa, eu me refiro ao tempo sempre chuvoso, nublado, lojas fechando as 18 horas, poucas pessoas na rua, nada a se fazer a não ser ir pra casa, um clima de solidão sem fim, que só quem já morou em alguns países da europa entende o que é isso.
Era ótimo viver e trabalhar por lá? Claro. Era plenamente feliz? Não.
Como eu disse, estar na europa como turista é outra história.
Empreender é algo realmente bom, mas eu ainda não me encontrei como empreendedor, infelizmente, mas pode ser que isso mude em breve.
Mas, preciso deixar registrado aqui, trabalho para uma empresa com negócios na América Latina, Ásia e Europa, sou bem remunerado (acima da média do mercado), bem valorizado, faço o que gosto, tenho horário flexível, faço home office quando quero, só tenho feedback positivo da gerência e diretoria.
Então, por hora, fica bem mais fácil ser funcionário do que empreendedor.
Hoje eu deito tranquilo com a cabeça no travesseiro, se fosse empreendedor, não sei como estaria o meu sono, talvez não muito bom, dependendo do ramo da empresa.
Reconheço sim um certo comodismo, mas eu não reclamo de patrão, nem da empresa, nem quero esmola do governo, entretanto, tenho tentado amadurecer ideias par poder empreender. Talvez retornar para a europa por mais um tempo e tentar trazer alguma ideia que caiba aqui no nosso Brasil.
Mas afinal , com essa descrição toda que você faz , em que PAÍS da Europa você morou ???
Irlanda e Bélgica
Olá Inundado, "até que os leões comecem a falar as caçadas serão as versões glamourizadas dos caçadores". No mais é saber que o ódio não edifica coisa boa. Boa semana a todos.
Você realmente precisa ler "A Revolta de Atlas". Está falando como a personagem principal do livro.
Li recentemente, e me identifiquei muito com todo aquele ambiente. Afinal o que queremos não é LIBERDADE? Sem a tutela do estado? Independencia? Porque não encaramos este espírito libertário do livro e deixamos de lado nossa tendencia a ser sempre orientado pelo grande irmão ESTADO, que normalmente é incompetente, mal intencionado.
Pobre menino rico
Acho que vc não entendeu uma palavra do texto.
Conseguiu escrever um texto sem falar o nome do Lula !!!! Corre prá farmácia que seu remédio acabou e você não se deu conta.
Acho que isso de querer voltar é porque ser classe média aqui no Brasil é muito melhor e mais fácil do que ser classe média na Europa ou EUA.
Quanto a não se beneficiar do Estado, sua mãe não era servidora federal ? então de alguma forma você também mamou na tetas do Estado.
Mamou? A pessoa trabalhar e receber um salário é mamar.
kkkkkkk
Mildeus!
Ricardo, seus textos sempre foram estúpidos, desinformados, partidários e enraivecidos. Mas este seu texto bobão realmente me deixou surpreso. Você agora inaugurou a fase da hipocrisia!
Fosse eu um "filho do Lula", teria dito que o texto é meu, tamanha semelhança com a minha realidade e maneira de viver e enxergar a vida!
Conforta, não o fato de estar acompanhado nessa prisão (ou cegueira??? não sei...), mas em saber que, certo ou errado nessa maneira de viver e encarar a realidade, tem gente que pensa e age como eu! E é sofrida essa nossa vida, onde, a descrença, o medo de entrar num beco sem saída, ou até mesmo tristes situações do cotidiano (situações pela qual certamente não somos responsáveis, muito pelo contrário), nos tiram o sono e atrapalham nossa vida, nossas relações.
Isso é (ou talvez seja) pior do que apenas sobreviver...
Mas conforta saber também, ao diariamente dar de cara com comentários de alguns idiotas frequentadores aqui do blog, que oPTam por enxergar o óbvio por um outro prisma.
O meu caso (o seu, e agora também acredito no de mais gente) pode ser clínico, psicológico, algo como uma falha na nossa bomba central (tb conhecida como coração) ou no campo cerebral (seja lá qual for que comande essas características), mas que prejudica apenas a si mesmo, enquanto estes outros, a falha é no caráter, e essa destrói mais do que Hiroshima e Nagasaki juntas!
A nossa falha, talvez possa ser corrigida um dia, num estalar de dedos divinos (ou terrenos), que os tire desse mundo paralelo, já a outra falha, a de caráter não há quem dê jeito!!!
complementando a frase para dar o sentido adequado:
Mas conforta saber também, ao diariamente dar de cara com comentários de alguns idiotas frequentadores aqui do blog, que oPTam por enxergar o óbvio por um outro prisma, "que existe cegueira pior que a nossa"!
Ricardo...bem interessante o texto...e muito oportuno para nossa reflexão. No entanto sou tomado também pela visão do copo "meio vazio". Não há democracia sustentável, não há forma de governo, sistema político, sistema de gestão pública, não existem lideranças (temos?) que me pareçam capazes de mudar este lamentável estado de coisas no Brasil. E a cada dia, temo por um cenário crescente de desrespeito às leis, desrespeito aos valores e às regras da cidadania.......chegando a um ponto inevitável de ruptura sócio-política que dificilmente, poderá ser conduzida fora das hostes militares de tão triste memória e efeitos à liberdade de expressão, idéias e ideais.