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As tristes e sombrias ruas de Brasília

Os gabinetes e casas legislativas tornaram-se abrigos de prostituição barata. A diferença está no tipo de mercadoria

Essa ao menos não engana ninguém

Comprar alguém é algo verdadeiramente baixo. Mas nem se compara a aquele que se vende. Notem: não há procura sem oferta. Não há compra se não há produto. Por mais que eu queira uma estrela só para mim, vou ficar querendo para sempre, me entendem?

Se jamais saberemos quem surgiu primeiro, o ovo ou a galinha, sempre saberemos quem originou a corrupção: o vendido. Vender-se é humilhante; talvez o gesto da maior falta de autoestima possível. Quem se vende se despreza, trata a si mesmo como reles mercadoria.

Não sem razão, os corruptores da Odebrecht tratavam os corrompidos por apelidos tão toscos, tão desprezíveis. Cada novo político ou governante vagabundo merecia um apelido à altura. Fico imaginando as gargalhadas dos vagabundos a cada nova alcunha.

Fico também imaginando estes safados todos tomando ciência de como era tratados pelos executivos. Fico imaginando-os, pela manhã, barbeando-se ou maquiando-se, frente ao espelho, e mirando os próprios olhos a pensar: era assim que me tratavam! E eu que imaginava que eram meus amigos, que me respeitavam.

Tolinhos, estes malditos ladrões. Realmente achavam que gozavam de algum respeito. Boca-Mole, Todo-Feio, Coxa, Nervosinho são da mesma classe das meretrizes de cais de porto no que tange a respeito. São carnes de terceira sendo consumidas por gente de terceira. Simples assim. Triste assim.

Como o neto do penta-réu criminal o enxergará quando crescer? Aliás, como enxergará o próprio pai?, seja o Luleco ou o Lulinha. Imagino a credibilidade que passará um Sérgio Cabral a seu filho, quando lhe der algum conselho: “meu filho, seu maior bem é seu nome”.

Marcelo Odebrecht poderá dar lições às suas filhas? Se uma delas seguir o caminho da prostituição, poderá o mafioso lhe repreender por estar vendendo o próprio corpo? Justo ele, um comprador de corpos — e consciências? Acho que não, né? Provavelmente, não.

Todos estes vendidos passarão. Deixarão este mundo como todos. Mas sua memória e seus nomes restarão gravados para sempre. Não em um Hall da Fama, mas da infâmia. Não em um monumento ou praça, mas na lama. Não como orgulho dos seus descendentes, mas como uma mancha a ser escondida e renegada.

Leia mais.

Ricardo Kertzman

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