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O Brasil, os brasileiros e a culpa pelo fracasso

Desde 1500 o Brasil nos é vendido como o país do futuro. Mas nunca chegamos ao prometido paraíso das nações

Alexandre Costa, Professor de Direito Tributário, Advogado, Doutor em Direito Público e Amigo deste blog

O que nos impede de cumprir o destino traçado?

Com todos os escândalos de corrupção a que diuturnamente somos apresentados, associados à total dissociação entre os interesses da classe política e da opinião pública, o dedo da culpa poderia certamente ser apontado aos políticos. Afinal de contas eles sempre legislam em causa própria e somente demonstram preocupação com os interesses da população no período eleitoral, quando estão em busca dos votos necessários a sua manutenção no poder. Mas em que pese ser a classe política titular de uma grande culpa, é necessário que reconheçamos não ser ela a maior e nem mesmo única culpada.

Poderíamos, então, culpar o capitalismo e os empresários brasileiros?

Bem, embora existam inúmeros os exemplos de empresários inescrupulosos e gananciosos no Brasil, como nos mostram os escândalos da carne, do leite, do pão, etc, entendo que a resposta a esta pergunta há de ser negativa. A história mundial mostra que a melhoria das condições sociais da humanidade advêm do crescimento econômico e, consequentemente, dos lucros. Toda a evolução tecnológica, científica e econômica é decorrência do sistema capitalista e sua busca pelo lucro.

Pense em tudo aquilo de que se serve no dia a dia e veja se encontra algo que seja invenção do sistema comunista e/ou socialista. Seu smartphone, seu tablet, a internet, a penicilina, a medicina moderna são todos fruto do sistema capitalista. Nada que nos seja essencial no viver foi inventado pelos socialistas. Ao contrário do que os esquerdistas pretendem nos fazer crer, auferir lucro não é crime em lugar nenhum do mundo, salvo nos seus paraísos ideológicos como Cuba, Coreia do Norte e Venezuela, onde inexiste liberdade de expressão e de pensamento e de onde, na primeira oportunidade que têm, os cidadãos pretendem fugir por falta de condições dignas de vida.

Será o caso, então, de atribuirmos tal culpa aos demais países, que desejam o nosso mal, temerosos que são do nosso brilhante futuro?

A se considerar verdadeira esta alternativa, como explicar o sonho que é para todos eles de ter acesso ao mercado consumidor brasileiro? Como explicar o respeito que nossa diplomacia gozava até o início do Século XXI? O crescimento mundial não é como um jogo de tênis onde deve sempre haver um vencedor, mas sim como um jogo de frescobol onde ambos os jogadores desejam manter a bola em jogo pelo maior tempo possível e que, quando ela cai, perdem ambos. Ou seja, a economia mundial deve ser sempre um jogo onde todos ganham.

Seria forçoso, como nossa última alternativa, concluir ser o Estado o grande problema do Brasil?

Um Estado controlador e paquidérmico que é capaz até mesmo de proibir que os restaurantes deixem um simples saleiro na mesa dos clientes por entender que os cidadãos não têm condições de consumir sem causar danos à própria saúde. Que é capaz de fazer os cidadãos trabalharem por cinco meses do ano exclusivamente para colher os tributos que lhe são cobrados e, depois disso, ainda têm de pagar para obter, de maneira privada, aquilo que seria obrigação do próprio Estado lhe fornecer, mas não fornece. Estado burocrático onde a abertura de empresas consome, em média, 150 dias e o seu encerramento é capaz de levar anos. Onde o empreendedor é visto como sonegador de impostos, e não como gerador de riquezas para o país? Onde são constantes as notícias de desperdício do dinheiro público, pois este é visto como um dinheiro sem dono, ao invés de ser visto, como de fato deve ser entendido, como um dinheiro que possui centenas de milhares de donos e que deve ser bem utilizado em seu benefício. Este Estado que desde o seu descobrimento sempre foi visto como uma forma de beneficiar os seus poderosos, ou seja, os amigos do Rei. Ocorre que, apesar de todas as mazelas que podemos atribuir ao Estado brasileiro, entendo não ser ele o principal impeditivo a que possamos alcançar o Olimpo das Nações ou que possa o Brasil ser considerado o Paraíso da Terra em razão da nossa qualidade de vida, das nossas belezas naturais e da gentileza e hospitalidade do nosso povo.

Em verdade o grande culpado do nosso subdesenvolvimento somos nós mesmos, o cidadão brasileiro.

Nossos políticos e recorrentes escândalos de corrupção somente são possíveis em razão da nossa conivência e leniência com os desvios éticos. Nossa classe política nada mais é do que um reflexo da nossa sociedade. Somos capazes de nos indignar contra os escândalos de corrupção e, concomitantemente, nos calar quando recebemos um troco a maior. O brasileiro é extremamente egoísta, apesar de pretender se vender como altruísta. Só se preocupa com aquilo que pode lhe beneficiar diretamente, e não com aquilo que possa ser benéfico aos interesses da nação brasileira. Quando confrontado com os limites da lei adora falar: “Você sabe com quem está falando?!?!?” O brasileiro quer levar vantagem em tudo como muito bem retratado na Lei de Gérson: fura fila, desrespeita os demais cidadãos e a lei por ter certeza da sua impunidade. E, na sua grande maioria, detesta trabalhar duro, pensando sempre no próximo feriado, na melhor forma de faltar ao trabalho sem ser punido, tal qual Ferris Bueller no filme Curtindo a Vida Adoidado.

É chegado o momento do brasileiro pôr a mão na consciência e reconhecer sua culpa por todas as mazelas que nos afligem, ao invés de sempre culpar terceiros por todo o mal que nos atinge.

Ricardo Kertzman

View Comments

  • Ricardo, sua ampla análise praticamente esgota o assunto.
    Se olharmos para outros países, a título de comparação com nossa situação geral e, em particular, com os tópicos apontados no seu texto, encontramos na Suécia o contraponto perfeito ao Brasil.
    Economia de mercado, com mínima participação ou intervenção do Estado.
    Estado de tamanho mínimo e sem despesas dispensáveis. Por exemplo, lá o equivalente ao nosso deputado federal não tem salário, não tem assessores (sequer uma secretária), não tem verbas disto ou daquilo, não tem veículos oficiais etc. Trabalha quase sempre em casa e leva às reuniões seus estudos, suas propostas etc. Dedica à coletividade (e a si próprio, pois é parte dela) uma parcela do seu tempo e, por não ser “político profissional”, não se empenha na sua perpetuação na função pública, nem cria um feudo familiar na política.
    Através da tributação criteriosa, o Estado retira da renda e do lucro parcela suficiente de recursos para oferecer a todos os cidadãos serviços essenciais de alta qualidade, como saúde, educação, transporte, segurança pública etc.
    Mas, lá o cidadão trabalha muito e tem noção clara de cidadania. Lá não há espaço para a Lei de Gerson. Basta dizer que, há poucos anos, a classe de trabalhadores da indústria sueca, tendo recebido uma proposta de um aumento substancial de salários, reuniu-se, analisou profundamente a generosa oferta e... recusou-a. Com a recusa, a explicação: o aumento oferecido refletiria no custo dos produtos industrializados e a Suécia perderia competitividade no mercado internacional, o que, a médio e longo prazos, resultaria em prejuízo para toda a população.
    O dia em que o povo brasileiro deixar de ser o mais esperto do mundo, o mais inteligente do mundo, o “MAIS MAIOR DE GRANDE” em tudo, e aceitar a ideia de que “pouco trabalho e muito salário” é um sonho inviável, e entender que o atalho entre a pobreza e a riqueza passa necessariamente pela via do crime – não importa se crime hediondo ou um “mero caixa 2”, então estará começando a se formar aqui um povo... uma nação. Depois, com mais um ou dois séculos de trabalho sério, chegaremos aos padrões sociais escandinavos.

  • creio que tem o fato do Brasil não ter sido colonizado e sim, explorado pelos portugueses que além de roubarem nossas riquezas ainda trouxeram os degredados que junto com os africanos e indígenas originou um caldeirão de pessoas que nos deixaram os genes da “esperteza” da lei de Gérson que vem dos degradados portugueses,da preguiça e indolência dos índios e da subserviência dos escravos

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