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Um tiro no pé. De todos

Não há vitória na derrota. Ou: Renan Calheiros perdeu e arrastou consigo o Supremo

Meia Renan, meia STF. Indigestão na certa

O STF é atualmente uma das instituições mais suspeitas e sem credibilidade do país. Ouso dizer que a população acredita menos nos togados que nos congressistas. Vou além: Acredita mais no executivo que no judiciário.

É claro que não tenho qualquer base científica para tal, por isso o “ouso”. Mas sou um sujeito que viaja muito pelo país, que conversa com muita gente, de todas as camadas sociais. Por isso, costumo acertar muito mais que errar nos meus palpites e opiniões. Acho que o motivo deste Blog ter feito tanto sucesso, assim como já havia feito a nossa página no FB, é essa minha similaridade de pensamento com a grande maioria — diria até, absoluta maioria — de vocês. Reparem na quantidade de leitores e amigos que me dizem: “Ricardo, você coloca em palavras o meu pensamento”.

Não, meus caros, não sou mágico, adivinho ou superdotado. Apenas, como eu disse, converso com muita gente e consigo formar uma opinião mais ampla e abrangente, só isso. Mas sigamos com o que importa…

Conforme noticiou o Portal UAI, o STF acaba de manter Renan Calheiros no cargo de Presidente do Senado. É claro que é uma decisão que nos decepciona, apesar de não ser das piores — seja no mérito ou na consequência. Mas o fato, senhores, é que não houve um só vencedor neste imbróglio. Ao contrário, só perdedores. Explico melhor:

Renan perdeu. E perdeu feio. Até então era intocável, alguém jamais desafiado frontalmente. Reparem que possui mais de dez inquéritos criminais dormitando no STF. Marco Aurélio Mello, certo ou errado, por bons motivos ou não, foi a primeira autoridade a lhe cravar uma faca no peito. Se não matou o cangaceiro, ao menos lhe feriu de morte. Renan perdeu força, perdeu prestígio (entre os seus, claro) e perdeu, sim, o ímpeto. Irá diminuir até desaparecer. Me cobrem!

Temer perdeu. E perdeu feio. A grande imprensa ainda não se deu conta, ou ao menos ainda não noticiou, mas em breve todos leremos e ouviremos que Michel Temer manobrou — e forte — politicamente, junto ao STF, para que Renan não fosse afastado. Inclusive, hoje pela manhã, Renan e Temer se reuniram no Palácio do Planalto. Certamente não discutiram a novela das oito. A imagem de Temer, que já não é lá grande coisa, sairá ainda mais arranhada deste episódio.

Marco Aurélio Mello perdeu. E perdeu feio. Arrogante como sempre e confiante como nunca, chegou a declarar que o placar de hoje seria goleada em favor de sua tese — duvidosíssima, por sinal. É um ministro que olha primeiro para si, depois para si, depois para os seus e só depois para as leis. Como entende como poucos de Constituição, consegue dar embasamento legal para quase tudo. Porém, quando desafiado e contraditado, costuma perder. No voto e na esportiva, diga-se. É uma espécie menos chiliquenta de Joaquim Barbosa, hehe.

Dias Toffoli perdeu. E perdeu feio. Se não fosse sua manobra meramente procrastinatória, em favor de Renan Calheiros, no julgamento do mérito da ação que ensejou a liminar julgada hoje, nada disso haveria acontecido. Mas Toffoli é sempre Toffoli, como Lewandowski é sempre Lewandowski, e como um petista é sempre um petista. Todos sabem o que precisam e o que não precisam fazer, e fazem sempre o que não se deve fazer. Argh!!

O STF perdeu. E perdeu feio. Mais uma vez, certo ou errado, não importa, passou a imagem de uma instituição à serviço de alguém: De Renan, do governo, de si próprio, do papa; de qualquer um menos a sociedade. É impressionante a dissonância entre a Suprema Corte e os cidadãos. Esses (e essas) Capas Pretas parecem mesmo conspirar o tempo todo em desfavor do povo brasileiro. Se era a intenção, hoje tiraram nota dez, com louvor.

Por fim, o Brasil perdeu. Mas não perdeu feio. É certo que terá de suportar Renan por mais alguns dias úteis, porém ganhou um rito melhor no Senado, algo muito importante nestes tempos. É certo também, que viu sua Suprema Corte se apequenar um pouco mais, sobretudo diante um sujeito tão unanimemente asqueroso assim, mas igualmente verá a pressão popular, sobre estes calhordas todos, aumentar na mesma medida.

Talvez a maior derrota seja mesmo, como sempre, a nossa. Afinal, de forma clara como “nunca antes neste país”, a justiça nos mostrou que é uma, para os cidadãos comuns, e outra, para a classe política apaniguada. Experimente você, leitor amigo, se recusar a assinar uma intimação judicial. Isso, sim, é o mais triste neste episódio todo. Mas já estamos — literalmente, no meu caso — carecas de saber disso, não é mesmo?

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Ricardo Kertzman

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  • Prezado Ricardo; infelizmente temos que nos contentar com o menos ruim! Seu texto está muito bom e descreve com precisão o que sentem os que têm capacidade de enxergar um palmo além da ponta do nariz. É tanto o que tem que ser mudado, que frustra, desanima, decepciona. A primeira e mais importante prática a ser modificada em minha opinião, é exatamente aquela que define os critérios para a escolha dos membros do Supremo Tribunal Federal. Não deve e não pode mais ser pela escolha solitária do ocupante da Presidência da República. Ministro do Supremo tem que ser escolhido dentre os que de fato, possuem notável saber jurídico, submetidos a testes de comprovação de capacitação; ou seja: concurso, onde serão avaliados e aprovados os mais aptos. Perdoe-me se sou mais um que é dado a devaneios, mas, como se diz por aí, sonhar não é pecado.

  • Caro Ricardo: é público e notório que há diversas justiças por esse "brasilzão" afora. Só não uma justiça comprometida com a seriedade, com a ética e com valores morais. Dessa os guardiães da Constituição há muito se esqueceram.

  • Ricardo: como já noticiado vc acertou em cheio: o Temer tramou, e também o FHC e também o Pt, por incrível que pareça. É nojento.
    Abraços.

  • Que triste, deprimente saber que nós, mortais, não temos, voz, vez, oportunidades, nada! Só temos que sustentar tudo isso, mais nada. E quem mais perde Ricardo, mas somos nós, que ralamos feito loucos e que sustentamos tudo isso e no final é quem menos importa na história.

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