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Parece, mas (ainda) não é a Casa da Mãe Joana

Temer, se foi mesmo gravado pelo ex-ministro, foi vítima de uma traição e talvez até mesmo de um crime

Vítima, sim — o que não apaga a gravidade das denúncias

Aqui e ali, eu vejo um monte de gente indignada com a observação que Michel Temer fez durante a entrevista coletiva deste domingo, dizendo ser absurda a atitude do seu ex-ministro ao gravá-lo. A indignação destas pessoas parte de uma falsa premissa, qual seja: Dilma também teria sido gravada e Temer não se manifestou contrário, à época. Bem, vamos acender algumas velas e iluminar o ambiente, pois é preciso.

Dilma jamais foi gravada! O ocorrido foi algo completamente diferente: A Polícia Federal, com autorização judicial, estava monitorando o telefone do ex-presidente Lula. A ex-presidente foi quem ligou para o mesmo, que estava sendo investigado — e hoje sabemos bem o por quê — para lhe informar sobre a maracutaia jurídica que estavam armando para tentar obstruir o caminho da justiça brasileira.

Mas ainda que fosse, uma coisa não guarda qualquer semelhança com a outra. Temer foi gravado ilegalmente por um… ministro! Imaginem qualquer um de nós ser clandestinamente gravado por alguém de nossa extrema confiança. Não havia autorização judicial para tanto, muito menos o Presidente da República é qualquer um, ora. O fato é gravíssimo por onde quer que se analise. É um atentado contra a segurança nacional. Conversas com o presidente não são conversas de botequim.

Mas também tem o seguinte, meus caros. Independentemente de a conduta ter sido absurda e até mesmo criminosa, os fatos relativos à gravação não podem nem devem ser esquecidos ou desqualificados. Ainda que o teor das conversas não sirva como prova criminal, já que obtida ilegalmente, sob o aspecto político — e moral — a gravidade permanece. Se Geddel, Padilha e Temer de fato uniram-se para pressionar o ex-ministro a uma decisão ilegal, todos devem ser imediatamente afastados, investigados e processados, caso a apuração corrobore com a denúncia do rapaz. É inadmissível que figuras tão altas na hierarquia da administração federal usem poder e influência em benefício próprio.

Mas que fiquem bem claras duas coisas, que motivaram este texto: 1) A gravação, se houve, foi ilegal e absurda, sim. E 2) Não há qualquer semelhança com o episódio envolvendo a criminosa (segundo o Senado Federal) afastada da presidência, e o tri-réu por corrupção Luis Inácio Lula da Silva.

Leia mais.

Ricardo Kertzman

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