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A influência da imprensa

Quais seriam os limites éticos dos veículos de comunicação em períodos eleitorais.

Entra eleição, sai eleição, no Brasil e no mundo o debate não termina. A imprensa e seu papel no jogo político-eleitoral continuam sempre na berlinda. Não sem motivo, claro.

Eu sou um adepto convicto da transparência. Quem me conhece pessoalmente sabe muito bem disso. Sou daqueles sujeitos sem “papas na língua”, sem “meias-palavras”. Se é qualidade ou defeito, sinceramente ainda não descobri, mas pouco me importam tais rótulos; me sinto correto e isso é o que conta. Por isso defendo que os veículos de comunicação sejam da mesma forma. Acho que possuem o direito de posicionar-se politicamente, sim. Aliás, fosse eu um empresário do setor e jamais me furtaria ao debate.

Hoje o jornal Estado de Minas, do grupo Diários Associados, onde hospedo meu blog, no Portal UAI, saiu às ruas com uma propaganda paga em sua capa — uma espécie de “pré-capa” — estampando a revista IstoÉ. A manchete se refere à matéria sobre as dívidas pessoais e empresariais do candidato à prefeitura de BH Alexandre Kalil, tecnicamente empatado com João Leite na disputa deste domingo. Numa hora destas, qualquer fato novo pode definir a eleição; e o maior e mais influente jornal do Estado certamente possui extrema relevância neste sentido.

Um jornal é uma empresa. Possui acionistas e funcionários que dependem do seu sucesso para ganharem a vida e pagarem as contas. Um jornal vive principalmente de anúncios. Ora, se uma publicação como a IstoÉ deseja anunciar sua edição semanal, com uma matéria explosiva, na primeira página de um jornal, é porque aposta que terá sua edição muito bem vendida, o que é seu objetivo primário. Por isto buscou as páginas do Estado de Minas. A IstoÉ quer derrubar Alexandre Kalil e beneficiar João Leite? Não creio. Acho que estão muito mais interessados em vender revista. Mas ainda que estivessem, pergunto: Se não inventaram nada, não mentiram, não deturparam, qual a ilegitimidade? Fica parecendo a tal história de querer culpar o mensageiro pelo conteúdo da mensagem. Grosseiramente, é como a piada onde o marido traído manda jogar fora o sofá da sala onde a esposa recebe os amantes. Se os veículos de imprensa do Brasil tivessem a tradição de posicionar-se politicamente, numa hora destas a reportagem da revista seria apenas mais uma reportagem; e não seria acusada de propaganda pró ou contra qualquer candidato. Seria muito mais simples, honesto e eficiente, não acham? Eu acho.

Mas e o Estado de Minas com isto?

Foi “golpe sujo” aceitar a propaganda da revista? Foi uma prova que o jornal é contra Kalil e a favor do PSDB? Claro que não, pô. Repito: O jornal vive disto! E os enroscos de Alexandre Kalil são culpa dele, não do grupo E.M. Mais ainda: Se o jornal houvesse recusado a propaganda, não estaria, aí, sim, intervindo indevidamente no sufrágio? Deixaria de ganhar dinheiro — o objetivo e objeto da sua atividade empresarial — para omitir um fato que desabona um candidato apenas para poupá-lo da sua própria imagem e dos seus próprios erros? Isto, sim, na minha opinião seria indevido. Seria descumprir sua finalidade, seria servir a um lado. Não da forma como defendo, opinativa, mas de uma forma dissimulada abrindo mão da própria atividade empresarial. Como iria recuperar depois o dinheiro que deixou de ganhar honestamente, via publicidade?

Dizem que o Estado de Minas é “aecista”. Se é eu não sei. Estou como blogueiro no grupo há pouco mais de dois meses e quase não frequento a sede. Estive lá duas ou três vezes apenas. Mas como observador me pergunto: Se fosse, qual seria o problema? Pessoalmente jamais presenciei ou sofri qualquer tipo de influência, mas ainda que um dia eu sofra, considerarei normal, salvo se presencie algum tipo de ilegalidade, pois repito: Um veículo de comunicação não só pode — como deve! — ter opinião e posicionamento. Aliás, penso que só ajudaria, pois atrairia o público identificado com sua linha editorial, ao mesmo tempo em que despertaria interesse dos grupos contrários em busca de opinião. Mas quem sou eu para entender desta bagaça, não é verdade?

Que os profissas do ramo toquem seus negócios como consideram correto. A mim, me parece que o mimimi criado em torno da edição de hoje do Estado de Minas só serve para fomentar a patrulha contra a posição política dos grupos nacionais de comunicação, em nome de uma tal “independência” ou “imparcialidade”. Bobagem. Empresas possuem donos ou dirigentes, e estes são seres humanos como eu e você, leitor amigo, que sentem, pensam e devem se manifestar como, quando e onde quiserem, inclusive nas telas das TV’S ou nas páginas dos jornais e revistas.

O contrário de expressão é opressão!

Leia também.

Ricardo Kertzman

View Comments

  • Se você acredita no que escreveu, sua inocência é quase infantil (mas não acredito que você o seja). Conheço historias de bastidores da redação do EM e sobre a fortíssima influência dos Neves lá dentro. É óbvio que o EM faz propaganda pro João Leite

    Não há nenhum problema um jornal, revista ou TV se posicionarem politicamente. O Estadão é declaradamente de direita, assim com a Carta Capital é declaradamente de Esquerda. Embora o EM não se posicione abertamente, o leitor não é burro, é óbvio que o EM é um jornal ligado diretamente ao PSDB e usa isso a favor do partido pelo qual tem simpatia. Para mim isso faz parte do jogo. É assim aqui e em qualquer país democrático.

    Eu leio de tudo, do EM à Folha de São Paulo, da Veja à Carta Capital, do seu blog ao Brasil 247. Depois vejo o que me interessa e o que não. Separo o que é bom e o que é porcaria. Claro que gosto é subjetivo. O que é um lixo para mim, pode ser uma preciosidade para outros.

    Assim vamos seguindo.

    • Marco, se não acreditasse eu não escreveria; e não entendo porque seria inocência da minha parte. Enfim...

  • Cara, sinceramente, acredito que o Estado de Minas deveria defender em Editorial (no site e no impresso) sua posição, como fez, por exemplo, a revista 'Carta Capital'. Acredito que o eleitor médio não possui discernimento para apresentar um senso crítico frente a uma matéria originada de uma editoria com tendências. Particularmente em relação à revista 'Isto É', me lembro de outras capas de revista, tanto de 'Veja' quanto 'Isto É', publicadas às vésperas de eleições com o objetivo aumentar as vendas. No entanto, exatamente no fim de semana da eleição me parece temerário ter este tipo de manchete. Se a revista 'Isto É' tem provas de que sua afirmação é verdadeira, divulgá-la dessa maneira faz com que ela se torne somente uma peça de campanha e enfraquece o conteúdo. Me lembro da manchete da Veja sobre a corrupção nos correios que levou á descoberta do Mensalão: era uma barra superior de página. O mesmo vale para a Lava Jato que era uma Operação já em curso durante a eleição de 2014 mas não ganhava manchetes. A maneira como a informação é repassada ao leitor, se de maneira espetacular (como fez a Isto É) ou de maneira sóbria (como foi o Mensalão) faz toda a diferença.

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