Já contei e recontei a historia de meu batismo em preto e branco inúmeras vezes e, mesmo tendo passado tantos anos, mantenho vivos em minha memoria aqueles dois gols de Tomazinho, um craque goiano que brilhou com o manto sagrado entre a segunda metade da década de 50 até os primeiros anos da década de sessenta do século passado.
Ali entendi o que significava aquele brilho nos olhos do meu pai, todas as vezes que o Atlético era o centro de sua atenção. Para um garoto de apenas seis anos de idade a investidura desse sentimento de atleticanidade, até então algo apenas platônico, foi algo que só o galista consegue compreender e, melhor, vivenciar.
Mais que uma frase de efeito, aquelas palavras que ouvia ora de meu velho e saudoso pai, ora de um tio e padrinho, hoje também ausente e de tantas saudades, foram mais que compreendidas. Foram internalizadas como um princípio científico inquestionável: “todo mundo nasce atleticano. Alguns, entretanto, degeneram”.
Causos como o daquela senhora rica que, ao comemorar a derrota do rival no mundial de clubes diante do Borussia, cantou e dançou de mãos dadas, no alto da avenida Afonso Pena, com um morador de rua cuja única identidade era uma velha e surrada camisa preta e branca, expressam de forma vigorosa esse sentimento de atleticanidade que tomou conta de mim para todo o sempre, amém.
Aqueles dois seres, completamente diferentes, por alguns momentos que pareceram eternos, transpuseram todas as barreiras que a escala social lhes impunha e, acredite quem quiser, deram-se as mãos e bailaram juntos, cantando o hino mais lindo do mundo. Aqueles dedos sujos, cujas pontas eram cobertas por unhas enormes e enegrecidas, apertaram e foram apertados por mãos finas, bem cuidadas, ensimesmadas por unhas bem tratadas e coloridas por um vermelho grená, onde se destacava um anel com um valiosíssimo solitário.
Este e outros casos como o daquele atleticano que não acompanhou a mulher até a maternidade e só foi conhecer o filho recém-nascido depois do jogo do Atlético ou daquele outro alvinegro que não acompanhou o enterro da própria mãe por que no mesmo horário o Galo jogava no Mineirão, estão contados em detalhes e com pitadas de humor, no artigo “MARCAS DE UMA PAIXÃO EM PRETO E BRANCO. HISTÓRIAS OU ESTÓRIAS? QUEM SABE?”, publicado em minha coluna “PRETO NO BRANCO” no Fala Galo em 14 de abril de 2020.
As histórias que contei naquele artigo dão razão àqueles que sempre dizem que o Atleticano precisa ser estudado. E lembro uma vez mais que ele já foi estudado várias vezes. Teses antropológicas, cujo tema central era o torcedor do Atlético e sua paixão ímpar, já foram defendidas. Aqui renovo a sugestão para que elas sejam pesquisadas e lidas. Vale a pena.
Já escrevi mais de uma vez que os estádios de futebol haviam se tornado o espaço naturalmente mais democrático do país, onde o pobre e o rico, o branco, o negro e o índio, o analfabeto e o doutor, o crente e o ateu, o materialista e o espiritualista, o religioso e o agnóstico, o trabalhador e o capitalista, o patrão e o empregado, o chefe e o subordinado, o homem e a mulher, a criança e o adulto, o jovem e o velho e o hétero e o homossexual se misturavam e se igualavam na paixão, na alegria, na tristeza, na agonia e no êxtase, na frustração ou na redenção, na vitória e na derrota, no grito do gol ou no gozo de uma jogada genial.
Desculpem aqueles que a vida, por alguma razão infeliz qualquer, não os tornou atleticanos, mas não tenho nenhum pejo em afirmar que nenhuma outra arquibancada que não seja a do Atlético retrata essa discrição com tanta fidelidade.
Impossível não lembrar sempre daqueles que, enquanto estiveram entre nós viveram suas vidas em preto e branco, i.e., viveram o Atlético e nada mais importou. E, dentre eles, os mestres Roberto Drummond e Kafunga. O primeiro assim sintetizou a alma atleticana:
“Se durante uma tempestade, houver uma camisa preta e branca, pendurada em um varal, o atleticano torce contra o vento”. E, esteja onde estiver, o genial escritor e jornalista atleticano já percebeu que o vento perdeu.
Baluartes da crônica esportiva mineira, Drummond e o velho, pré-histórico e emblemático ex-goleiro atleticano, cada qual à sua maneira e a bordo de sua verve peculiar, sustentaram o sentimento de atleticanidade durante décadas, arrostando uma narrativa predominantemente hostil ao Atlético que até hoje é destilada aqui ou ali. E deixaram um legado que hoje o guru Eduardo Ávila honra com maestria neste espaço.
Não sem razão a opinião de Kafunga era alvo de tentativas de desconstrução com aquela recorrente e abjeta observação, maldosamente dita e repetida até mesmo por seus pares na imprensa: “Ah! Mas o Kafunga é atleticano!” Era e é como se o fato de ser atleticano fosse um indicativo incontroverso de falta de credibilidade.
Mas, o saudoso Olavo Leite Bastos não foi o único alvo desta tentativa de desconstrução do sentimento de atleticanidade, que já perdura há décadas e é cada vez mais perceptível, até mesmo para o mais incauto dos observadores.
Não é de se estranhar que políticos, governantes, dirigentes de entidades diversas, artistas, empresários, jornalistas, etc., tenham a sua idoneidade questionada por não atleticanos, simplesmente porque, de fato, torcem para o Atlético. Vídeos e áudios circulam constantemente por aí “acusando” este ou aquele de ser atleticano. Mais que ridículas, essas “acusações” soam como uma espécie de criminalização desse sentimento de atleticanidade.
Embebido nesse sentimento que só o atleticano é capaz de entender, entendo que, nestes tempos em que um novo Galo parece surgir no horizonte, nada é mais propicio ao galista do que reinaugurar a sua relação com clube, se despindo daquele ranço de que se é Atlético tem que ser sofrido.
Não atoa, o hino do Atlético exalta o orgulho de ser atleticano e não a vaidade. Se a vaidade tem a ver com o que queremos que os outros pensem de nós, o orgulho está mais relacionado à opinião que temos de nós mesmos, à nossa autopercepção. Uma pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa, e é preciso destacar que, ao contrário da vaidade, nem sempre o orgulho é ruim. E a principal diferença entre orgulho e vaidade é que o primeiro é um sentimento, além de humano, positivo e natural, enquanto a segunda é um sentimento negativo.
Sim, somos todos atleticanos e com muito orgulho. E o time do Atlético somente manterá “ad eternum” a chama do orgulho de vestir e lutar pelo manto sagrado que nesses últimos jogos já começa transparecer no olhar e na postura de seus jogadores dentro de campo se e, somente se, fora dos gramados esse sentimento tiver correspondência no seio da massa. Uma retroalimentação sinergética. Um moto contínuo de paixão.
Não podia imaginar que viveria um primeiro dia da semana, pós derrota, sentindo um grande…
Quem diria! Confesso que, depois do terceiro gol alinhado a entrada do Kardec, não desliguei…
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Caros,
N vamos BAIXAR a guardar, de jeito nenhum. CUIDADO com o conversa MOLE, distraído! O jg contra a chapecoense é a próxima grande decisão...VAMOS JUNTOS!!!
OS DUELOS - (Oh! antigamente, tudo na mão):
o pobre e o rico,
o branco, o negro e o índio
o analfabeto e o doutor,
o crente e o ateu,
o materialista e o espiritualista,
o religioso e o agnóstico,
o trabalhador e o capitalista, (o contrário do TRABALHADOR é o CAPITALISTA é? Vixe mainha, esse tal CAPITALISTA é quem então?)
o patrão e o empregado,
o chefe e o subordinado,
o homem e a mulher, a criança e o adulto,
o jovem e o velho (futebol, dentro de campo, é negócio de JOVEM...se velho ñ pode ser ENTREGADOR DE RAPADURA...a pior coisa q pode acontecer ao VELHO é chegar nessa idade ENTREGANDO RAPADURA, dureza, viu!)
e o hétero e o homossexual (se politicamente correto a gente pode se expressar, nas resenhas apronto antes do clássicos, na externa do Mineirão, MARIA ñ passava de jeito nenhum no espaço demarcado JOÃO e vice versa, so prá constar).
CORAGEM PRÁ DIZER A VERDADE:
Torcer contra o VENTO, derrotar o VENTO é glorioso? NOSSO HINO, NOSSA LETRA, na contra mão! fato! Quem vos fala Prova e BOTA FOGO, qnd queiram? Viva o YOUTUBE, a Grande Literatura Brasileira e as velhas e amareladas colunas do JB/EM!
Tá na hora de fazer valer o LUTAR LUTAR LUTAR (dizem sofrer 3x) e o VENCER VENCER VENCER! O tempo é agora!!! Ñ tá na hr da dispersão! SINERGIA TOTAL, ñ tá na hr do lullu, tá na hr do Pitbull, e se ninguém é dono da verdade, ninguém vai nos ensinar a torcer pelo NOSSO GALO, esse o NOSSO LEMA!
O Brasileiro tá fora do prumo, .... segunda é NOIS!
Abs aos Atleticanos de Coração (Desse Ano ñ passa, vai Explodir! Segura, velho guerreiro!)
Caro, trabalhei até nesse exato momento. Aprovei seu comentário, como em outras ocasiões, fazendo leitura rápida.
Relendo, como pode perceber, cortei duas partes. RELIGIÃO (AINDA MAIS DA FORMA DEBOCHADA QUE FEZ) E POLÍTICA (POR MAIS SUBLIMINAR QUE SEJA E NEM FOI) FOGE AO PROPÓSITO DESSE ESPAÇO.
Recentemente, como sabe, atirei na lixeira dois comentários vindos com essa mesma conotação. Como hoje, em função do meu trabalho profissional, passei batido então optei por editar. Ainda que intempestivo. Deveria ter, a exemplo dos anteriores, atirado na lixeira.
Se o espaço deixar de ser lugar pra expor nossa Atleticanidade, não faz sentido.
Estou blogueiro por amor ao Galo, sobre política e religião - que tenho minhas convicções - evito aqui no blog. E tem quem me provoque diariamente querendo minha manifestação. Mas o foro é outro.
Respeite, por favor, e não provoque. Só te peço isso.
boa tarde Eduardo e massa e Max pereira. em primeiro lugar os jornais portugueses anunciam que Benfica pretende contratar o melhor lateral esquerdo do Brasil o arana por 6 milhões de euros. não acredito que esta diretoria vai doar mas um jogador se isto acontecer que interna todos no hospícios. rsrs. no mínimo arana vale 25 milhões de euros porque qualquer jogador meia boca vale dezenas de milhões de euros aqui na Europa . sobre ser galo não tive influências de familiares comecei torcer para o galo ouvindo jogos no rádio de pilhas do meu irmão escondido porque ele não gostava de futebol. aí surgiu um galo doido. ótimo final de semana a todos amigalos. vai galooo.
Pois é! Todo mundo é atleticano. Mas vejo hoje anúncio de como serão os mega festejos da inauguração da arena. Será que a massa atleticana vai ter acesso? Clube que tem dono é isso mesmo. Capacidade para 40.000 é claro que não dá prá todos num só dia, Mas será que não teriam uma outra forma de exatamente na inauguração programarem eventos, de graça, ou preços módicos que dessem prá cobrir as despesas básicas apenas, a fim de que aqueles que construiram na verdade este grandioso clube de futebol pudessem dizer em alto e bom som: estive na inauguração da arena do galo? Talvez eu até esteja habilitado financeiramente a ser um dos pagantes dessa mega inauguração. Mas se a massa não puder ir, não vou.
Olá amigos da bola!
A meu ver, Emanuel Carneiro disse tudo sobre o Galo em seus comentários ontem! Comentários pertinentes.....
O Galo sofre muito para vencer, Com baita elenco que tem, era para ser bem fácil... se tivéssemos treinador!...
Esquema tático do Cuca é ridículo para esse baita elenco
Vence, sofre muito! Muito retraído, não agride adversário. Toma porrada tempo todo, até quando dará certo?
Até quando dará certo?
Esse elenco merece treinador melhor, ofensivo/argentino!
Cuca é pequeno para o Galo/elenco
André e amigos,
Estou resistindo a comentar os diversos posts aqui postados em relação à forma reativa de jogar que o Atlético está adotando a partir do momento em que consegue uma vantagem no placar.
Virou mote para um próximo artigo. Por hora, alerto para os comentários de formadores de opiniões sempre hostis aos interesses do Galo.
Saudações alvinegras.
Boa tarde amigos do Galo.O Vasco anuncia venda de Talles Magno para o New York City por um valor próximo da R$62.000.000,00 . Talles Magno ainda é uma promessa, tem 18 anos e recentemente passou por uma séria contusão . Guilherme Arana, 24 anos, experiência internacional, melhor lateral direito do Brasil, ótima forma física, atleta muito profissional. Aí me aparece o Benfica e faz uma proposta de R$ 39.000.000,00? Alguém consegue me explicar isto?Com base no valor da negociação do jogador do Vasco, o Arana, pelo fubebol que joga e o momento que está vivendo no NOSSO GALO, tem que ter valor de mercado de no mínimo R$90.000.000,00. Ou por ser jogador do Galo vale menos?
P.S. Eu penso que ele deve ficar por aqui no mínimo até o final de 2021.
Tem outra coisa fácil de explicar o Arana é lateral esquerdo e o Talles Magno é atacante, ou seja muito mais valorizado no mercado mesmos o Arana sendo melhor do que ele
Concordo com sua indignação, Ricardo Divinópolis, mas uma retificação é necessária: R$ 39 milhões seriam apenas, o valo da proposta feita pelo Benfica e não o valor da venda (possível venda). Abraços!
Em esportes que envolvem combate entre duas partes, a postura de atacar o tempo todo só é eficiente quando há importante superioridade técnica e física. Caso contrário, a vitória está no ataque ao erro do oponente. Ano passado o Galo perdeu o título porque o burro do Sampaoli não conseguia perceber isto; alías, perdeu em contra-ataques fatais.
Bom dia a todos!
Belíssimo e poético texto MAX!
Parabéns!
Renaldo, boa tarde.
Muitíssimo obrigado.
Sinval, Afonso e Osvaldo
Mexicano, Zé do Monte e Haroldo
Lucas, Ubaldo, Joel, Gastão (TOMAZINHO) e Amorim
Esse foi o time-base do Galão que conquistou o primeiro tri-campeonato da nossa história (1952/1953/1954). No jogo final derrotamos o Cruzeiro por 2 X 0, gols de Ubaldo (não tenho certeza) e Joel (esse eu cravo!), que veio de Divinópolis para o Galão. Abraços!
Por hoje é só!
Galooooooo!!!!!!!!!
Enquanto não sairmos dessa balela de que tudo tem que ser sofrido no Galo não vamos ganhar nada. Em algum momento esse fatídico 1x0 vai dar com os burros n'água, como foi contra o Fortaleza.
Quando meu pai veio de Dores do Indaiá com esposa, filha e este que vos fala a caminho, há 63 anos, torcia para o Vasco e com o tempo se tornou cruzeirense, mas nunca tentou influenciar os filhos em relação a isso. Quando colegas do trabalho queriam me levar para o estádio, não deixava porque não queria que eu ficasse fanático.
Os vizinhos gêmeos univitelinos César Augusto e Augusto César (que já chegaram em casa de braço quebrado e que se alistaram na Marinha, tudo sem o outro saber, entre outras histórias) me deram o empurrão para ser tão atleticano. Mas naquele tempo criança brincava na rua e só aos 11 anos, antes da Copa de 70, eu comecei a seguir o Galo sem jamais ter parado. Dei sorte para a seleção no ano que nasci com o primeiro titulo e para o Galo ao quebrar o penta que o falido tinha.
Quem viu esquadrões jogando muito sem voltar bola para o goleiro não se conforma com o futebol atual. E não é só do Galo, falo isso do futebol que tenho visto na Eurocopa e na Copa América, tudo mais do mesmo, com raras exceções.
Saudações Alvinegras.
GALÃO rumo ao topo e em busca de todos os títulos, elenco forte e dito em verso e prosa por todos como um time chato de ser batido e Cínico como andam nos chamando, um time cirurgíco.
Bica Bicudo
GALÃO É SÓ ORGULHO , SÓ ORGULHO
Feliz por ser Atleticano.
Forjado na dor, nas injustiças e no Amor