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Saudades de Ronan, Paulo e Luís…

Ricardo Galuppo

Habituado, em temporadas passadas, a procurar motivos que inspirassem algum otimismo com o Galo, custo a conter minha euforia com o desempenho atual do time. Toda hora em que me lembro de que somos líderes do Brasileirão, semifinalistas da Libertadores e da Copa do Brasil, me lembro também das palavras de Cuca, ditas depois de cada vitória. 

Graças a Deus, está acontecendo nas três frentes, de chegar bem e com força”, disse o treinador depois da vitória sobre o Fluminen-C na quarta-feira passada. “A gente não sabe o que vai acontecer, mas tem vontade de chegar no fim em todas as frentes”. 

Nada está ganho e a massa inteira sabe disso. Mesmo assim, temos que nos dar o direito de curtir esse momento. Até porque, todo Atleticano sabe o quanto custou apoiar o Galo nas situações difíceis que ele enfrentou antes que o vento da tempestade, ao invés de ameaçar a camisa preta e branca pendurada no varal, passasse a soprar a favor dela. 

Não trago a realidade dos anos difíceis de volta por alguma satisfação em revivê-la. Não. Menciono nosso passado de dificuldades pensando numa marca que foi alcançada na vitória por 3 a 0 sobre o Sport no sábado passado sem que ninguém prestasse atenção a ela. Não me lembro de quantas vezes que, em campeonatos anteriores, os tais 45 pontos que alcançamos nesse jogo foram comemorados com alívio. O número, para quem não se lembra, marca a linha mágica que elimina os riscos de queda para a Série B (e que uns e outros hoje perseguem na tentativa desesperada de se livrar da Série C)… 

Em temporadas anteriores, os 45 pontos foram alcançados, aos trancos e barrancos, na reta final. Meu amigo Marcelo Costa Braga até mantinha uma contagem regressiva que muitas vezes só zerava nas rodadas finais. Agora, a estatística que fica é a de Luciano Santos Marques, atualizada a cada partida. Em 2021 foram, até aqui, 51 jogos, 36 vitórias, nove empates e seis derrotas. 

No Brasileirão, faltam 18 partidas, ou 54 pontos em disputa. Mantida a média de aproveitamento de 75% alcançada até agora, a festa será inevitável. Acho que a lembrança dos momentos amargos que vivemos ajuda a tornar mais saborosa a situação atual. 

OS ISENTÕES DO FUTEBOL

Há, de qualquer forma, muitos obstáculos no caminho até os títulos — e nem todos estão dentro das tais quatro linhas. Temos que vencer, além dos adversários, a desconfiança que muitos ainda insistem em fomentar em relação ao Líder. Tem comentarista com ar de quem sabe tudo que não consegue abrir a boca sem falar mal do Atlético e consegue ver defeito até no dinheiro que o empresário Rubens Menin pôs dentro do Clube. (Os pesadelos financeiros dos times normalmente são causados por gente que tira deles tudo que consegue. O Atlético é o único, segundo os “isentões do futebol” que tem problemas porque alguém resolveu investir nele!)

A sensação é que existe por aí uma turma que não mede esforços para atribuir ao time do Galo defeitos que ele não tem só para, depois, ter como justificar as armações habituais… Ouvindo o noticiário da chamada “Imprensa Esportiva Nacional” — que talvez seja a mais bairrista e provinciana de todas — e as “análises” dos isentões do futebol sobre o desempenho do Atlético na temporada deste ano, a sensação que dá é oposta ao que vejo em campo, durante as partidas. 

Os jogos que eles vêem são muito diferentes dos que eu vejo. Já há algum tempo, acompanho as imagens dos jogos pela TV, com o som aberto no aplicativo da Rádio Itatiaia. Se é para ouvir opiniões comprometidas com um dos lados, que pelo menos sejam as do Mário Henrique Caixa e as do Cláudio Rezende em apoio ao Galo.

O fato é que, em se tratando da tal “Imprensa Esportiva Nacional”, perdi o ânimo. Dificilmente vejo os programas ou leio o que esse pessoal escreve. Já não imagino mais a possibilidade de que um sopro inesperado de profissionalismo venha bafejar de uma hora para outra a consciência dessa turma que fala do futebol na TV por Assinatura e a impeça de continuar puxando de forma tão desavergonhada a sardinha para a brasa dos clubes mais chegados do Rio de Janeiro e de São Paulo. 

Na questão do tal Flamengo, então, trata-se de um caso patológico. Falam do time sem olhar para os lados, justificam as atitudes oportunistas da diretoria com um  “peso político” que eles mesmos ajudaram a construir e demonstram um nível de arrogância que lembra a dos fabricantes do Titanic, antes que o barco zarpasse para sua única viagem. Assim como aquele navio, o time carioca é apontado como indestrutível. Do barco, falavam que era tão poderoso que nem Deus poderia afundá-lo. Deu no que deu…

“CATANDO AGRIÃO NA VALA”

Tudo o que sinto nos poucos momentos em que ainda me permito ouvir essa gente, além de um absoluto desinteresse pelas bobagens que falam com ar de quem está revelando um segredo, é saudade. Sendo mais específico, saudade de Ronan Ramos de Oliveira, de Luís Carlos Alves, de Paulo Celso, de Fernando Sasso, de Kafunga, de meu queridíssimo amigo Roberto Drummond… Fico por aqui com a lista, já me desculpando pelas omissões que cometi.

Foi por intermédio de profissionais desse gabarito, pelas ondas da Rádio Guarani, pelas imagens meio trêmulas da TV Itacolomi e pelas páginas do Estado de Minas que comecei, durante minha infância, em Corinto, a me informar sobre futebol. Ou melhor, sobre o Clube Atlético Mineiro. O Galo foi a chave que despertou minha curiosidade para o mundo que havia além dos horizontes acanhados de minha infância. Não foi a única, mas por muito tempo foi a mais frequente. 

Cada um dos profissionais que mencionei tinha uma característica marcante e eu poderia ficar horas falando deles. Mas vou chamar atenção para um, que certamente foi o menos jornalista de todos: Kafunga. O lado folclórico e as expressões singulares que ele criava eram capazes de puxar o torcedor para dentro do jogo. 

Jogador flagrado em impedimento, para Kafunga, estava “catando agrião na vala”. O atacante que entrava com bola e tudo, embu&$t@va para dentro do gol. Mas, como ele dizia, embu&$t@va “no bom sentido”. Quem fazia besteiras, segundo ele, era um “braquicéfalo”. A palavra originalmente se refere às pessoas com o crânio em formato ovalado. No linguajar peculiar de Kafunga, porém, era sinônimo de tolo, bobo ou algo que o valha. Mesmo com todos os cacoetes e maluquices, Olavo Leite Kafunga Bastos, além de um grande goleiro atleticano, foi o melhor comentarista de arbitragem que vi e ouvi em ação.

Para ele, as leis do futebol existiam para serem cumpridas, não para serem interpretadas. Gol legal era “gol barra limpa”. O contrário, lógico, era o “gol barra suja”. Os interesses que Kafunga levava em conta eram sempre os do jogo, dos jogadores e dos torcedores — nunca os da turma do apito.  

Hoje em dia, é comum que as emissoras mais poderosas da TV e do rádio deleguem a missão de falar de arbitragem a ex-apitadores, que agem mais como advogados de defesa do que como críticos das lambanças que a turma faz em campo. Transformados em comentaristas, adotam atrás dos microfones os mesmos critérios obscuros dos quais se valiam para fabricar resultados favoráveis aos interesses que defendiam. Ouvi-los falar me provoca uma certa preguiça… e uma enorme vontade de tirar o som da TV. 

O LADO POLÍTICO

Deixa essa gente para lá. Tenho dito com uma certa insistência que a maneira de o Galo superar o problema crônico do favorecimento do apito aos preferidos da cambada será por meio de uma demonstração inquestionável de superioridade em campo. E cuidar para não ser surpreendidos por decisões favoráveis aos “mais chegados”. O time tem que jogar o fino e, ao mesmo tempo, se mostrar atento à “parte política” do futebol e não ser vítima de armações e safadezas. Algo que ele, convenhamos, nunca soube fazer direito. Quando fez, fez mal. 

Prova disso é que, durante cerca de dez anos, o Galo foi representado junto à CBD e depois à CBF por um sujeito chamado Sérgio Pereira Ayres, conhecido como Sérgio Peralta. Era um carioca sem qualquer ligação com o clube, que passou para a história como um dos envolvidos no roubo da Taça Jules Rimet, em 1983. É bom ficarmos atentos a esse lado de nossa memória: o Atlético, que teve grandes times no passado, sempre achou que a superioridade em campo bastasse para fazer valer seus interesses junto às entidades do futebol. E assim, por nunca ter dado muita bola para o tal “lado político” sempre foi vítima das armações mais tenebrosas. 

Com tanto dinheiro investido no projeto de um time vencedor e poderoso, passou da hora de o Galo ficar mais atento, também, aos ambientes em que se tomam as decisões que o afetam. E de mostrar que, por mais que a turma esperneie e continue vendo com naturalidade as vantagens concedidas ao Flamengaço Classificadaço em função de suas “conexões políticas”, seria muito melhor se o futebol fosse disputado em situações em que os benefícios concedidos fossem estendidos aos demais. 

Ou, ainda, num ambiente em que os árbitros, além de serem honestos, parecessem honestos (o que não acontece nem com os que apitam nem com os que comentam as partidas). Enquanto esse dia não chega, o negócio é continuar torcendo e esperando que, em campo, o Galo faça o suficiente para passar por cima de tudo e de todos. Eu acredito!

Blogueiro

View Comments

  • TEOBALDO ,

    entendeu agora o motivo pelo qual o MANSO é considerado o maior técnico das galáxias ?

    Não adianta !
    Já foi lançado até o "vocês vão ter que engolir o Cuca" quando formos campeões .

    Seremos, como você disse , APESAR dele .

  • MUITO BOA A REMISSÃO AO VELHO KAFUNGA. QUE FORA DO FUTEBOL DIZIA: "NO BRASIL O ERRADO É QUE ESTÁ CERTO". SÁBIAS PALAVRAS.

  • Boa tarde, risonhos e felizes atleticanos

    Parabéns Ricardo Galuppo pelo brilhante texto, que mistura saudosismo bem humorado de nossa história, com as mazelas da CBF e o bairrismo da imprensa do eixo Rio-SP com seus times de estimação.

    A solução é “simples”: ganhar os jogos de forma implacável.

    Como?

    Fazendo gols inquestionáveis e se defendendo de forma impecável.

    Aliás, fazer gol no Galo hoje em dia é tarefa hercúlea. Há muitos e muitos anos não víamos um sistema defensivo tão consistente. Bom demais.

  • É PRECISO FRISAR TAMBÉM QUE ESSA IMPRENSA MINEIRA , PRINCIPALMENTE A ESPORTIVA TEM UM CERTO COMPLEXO DE INFERIORIDADE EM RELAÇÃO À MÍDIA DO EIXO.
    A IMPRENSA MINEIRA PARECE TER MÊDO , SE SENTEM INFERIORES A ELES.
    ONTEM , FOI UMA VERGONHA , DEPOIS DE 12 MINUTOS DE PRORROGAÇÃO , OS LOCUTORES E COMENTARISTAS DA GLOBOLIXO QUERIAM MAIS 5 MINUTOS E SAÍRAM CRITICANDO O JUIZ.
    NÃO PODEMOS ESQUECER O QUANTO JÁ FOMOS ROUBADOS POR ESSA GENTE.
    É SÓ DAR UM GOOGLE ,
    ""O MAIOR ROUBO DA HISTÓRIA DO FUTEBOL"".
    LÁ APARECE O NOME DE "JOSÉ ROBERTO RATO" , ASSALTANDO O GALO NO SERRA DOURADA , COM O APOIO DESSA EMISSORA CARIOCA.
    INCLUSIVE O "RATO" FOI RECOMPENSADO COM UM EMPREGO NA DITA CUJA.
    PORTANTO É HORA DE LIGAR O ALERTA MÁXIMO.
    TEMOS QUE GANHAR NO CAMPO E NÃO DEIXAR O APITO NOS TIRAR A VITÓRIA.

  • Bom Dia. Cronica de hoje sessacional. Me levou ao passado, pelo que ja passamos e hoje estamos sonhando. Lembrar destes jornalistas foi espetacular. Alem Deles vale lembrar, Willy Gonzer, Paulo Roberto Pinto Coelho e do não jornalista o eterno dir. de futebol Fabio Costa. Obrigado por brindar a todos nós com este comentario de hoje e a todos os torcedores que comentaram depois, me deliciei com cada um deles. Obrigado AQUI É GALOOO

  • Bom dia, Massa, Galuppo Guru,

    Caro Galuppo, como diz o ditado “antes ouvir merda do que ser surdo”. Estes ataques da imprensa do eixo, juntamente com a ajuda ao classificadasso deveriam ser utilizados nas preleções para que nossos jogadores sintam o que eles precisarão enfrentar, além dos seus pares em campo.
    Não, não é para colocar pilha até porque, o que mais precisamos no momento é tranquilidade e foco, mas este tipo de coisa pode ser um motivo a mais para mostrar a nossos jogadores o quanto precisamos destes títulos em jogo.
    E ontem ouvi o técnico do Palmeiras na maior cara de pau dizer que somos favoritos porque gastamos dinheiro montando nosso elenco. E eles não gastaram? Qual elenco é o mais valioso?

    Ai respondo pro português : quer me enganar me dá bala portuga!

  • Eu sei que aqui é só Galo, mas como não comemorar a inauguração, no Maracanã, do Recreio dos Gaúchos? O Flamengaço classificadaço que de acordo como GALUPPO tem muito a ver com o Titanic, não conseguiu nem na prorrogação, livrar-se de mais uma derrota para os gaúchos. Toda soberba será castigada.

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