A rivalidade exposta em números

Por Tércio Assunção, leitor assíduo

Prezados amigos, nas últimas semanas, a nossa Atleticanidade tem sido posta à prova. Estamos vivendo um estado de ressaca pela falta de conquistas emocionantes e pelas pequenas doses de sucesso alheio. Também fui acometido por essa ressaca logo após a classificação do rival à final da Copa do Brasil e vi muito comentário que eu mesmo poderia ter feito: “nós comemoramos vitórias, os outros comemoram títulos…”.

Esse pânico de voltar à condição de mero figurante e ainda suportar o sucesso alheio, me fizeram refletir sobre essa sensação de inferioridade e sobre esse ostracismo, depois de 4 anos em que estivemos sempre na pauta do dia do futebol brasileiro. Resolvi fazer um levantamento, uma espécie de análise de “Benchmarking”, que nada mais é do que você se balizar em uma empresa que possui resultados que você almeja ou em um concorrente que você quer superar. Pode ser útil para confirmar se o sucesso alheio é tão contundente assim ou se nossa história é tão sofrível quanto querem fazer parecer.

No levantamento, foram computados os títulos Mineiros, Internacionais, Copas do Brasil e Campeonatos Brasileiros, a partir da década de 70, quando, parafraseando nosso amigo Lugalo, o “verdadeiro” Campeonato Brasileiro começou a ser disputado. Foram contabilizados também os anos em que terminaram na 3ª/4ª colocação ou como vice-campeões no Campeonato Brasileiro. O resultado do levantamento vem a seguir.

E agora, vamos à análise.

Campeonato Mineiro – Roupa suja se lava em casa

Das cinco décadas em análise, fomos superiores em duas e nosso rival nos supera em três. Mas o que chama a atenção é a nossa superioridade na década de 80. Fizemos gato e sapato do rival nessa década. Apesar da vantagem deles, analisando década a década, no cômputo geral são 22 títulos a nosso favor, contra 21 do rival. Nada de baixar a cabeça então.

Títulos Internacionais

Este é um levantamento que me trouxe muito conforto. Mal acostumado com a década de 80, vi os rivais ganharem duas Supercopas, de cara, na década de 90. O Galo também não fez por menos e levou a Conmebol. Duas vezes. E os rivais fecharam a década de 90 com mais uma Libertadores e uma Recopa.

O problema é que sempre desdenharam das duas Conmebol e aceitamos isso. Entretanto, o torneio era disputado pelos integrantes do G4 de seus respectivos campeonatos.  Ou seja, times que haviam se qualificado bem nas suas respectivas disputas, enquanto a Supercopa era para os que já haviam ganho a Libertadores, o que não necessariamente significaria que eram qualificados à época do torneio. Ou seja, sempre muito vaidosos, soberbos e orgulhosos. E nós, humildes e com baixa autoestima. Inclusive o nosso atual Presidente que, infelizmente, não valoriza nossas conquistas. Mas, enfim, veio a nossa Libertação e, de quebra, uma Recopa, o que tornou o jogo equilibrado de novo. No geral, são 5 pra eles e 4 pra nós. Se vierem com esse papinho de “La Bestia Negra” (eu sempre rio com esse apelido besta), a coisa não é tão lá como eles desenham. Cadê essa superioridade toda?

Copa do Brasil

Sem comentários. Aliás, um comentário: a nossa foi em cima deles.

Campeonato Brasileiro

3º e 4º lugar – Quase lá!

É absurda a quantidade de vezes que batemos na trave antes de chegar à final nas décadas de 80 e 90. Só nessas duas décadas, são 8 vezes, contra 3 do rival. Se considerarmos que hoje o G4 classifica para a disputa da Libertadores, teríamos participado de 19 edições do torneio, ao invés das 9 em que estivemos presentes. É uma possibilidade sobre a qual se deve realizar um grande esforço para entender e buscar formas de se evitar. Em 2013, Kalil foi um gênio e muito da estratégia para a disputa daquele torneio pode ter sido responsável para que não ficássemos pelo meio do caminho.

Vice-Campeão – É, não deu!

Estamos na frente, 5 contra 4. Mas essas são as maiores chagas atleticanas. Estão nessa lista o Esquema Globo/CBF de Televisão e Futebol, operado em 77, 80, 99, 2012 e 2015. Não posso culpar só o esquema por nossos insucessos. Mas para quem atribui tudo somente à falta de competência, fica meio desleal derrotar não só o adversário, mas também o Esquema, dentro de campo.

É Campeão!!! – Mas só essa vez?!!

Todo mundo já sabe, não é novidade. E é aí que reside outro calo, e grande. Se passamos três décadas dizendo pra nossos algozes que aquele título eles não tinham, agora o jogo se virou contra nós.

Resumo da História

Na contabilidade geral, se consideramos apenas os títulos, temos 28 contra 34. Grande parte da diferença está em Brasileirões e Copas do Brasil. Se consideramos o desempenho, entrando aí o G4 e os vice-campeonatos, fica 45 pra nós e 44 pra eles. São, inegavelmente, mais eficientes, quando disputam o título. Mas também acho que tiveram menos má vontade contra, por parte do esquema.

Então fica o recado: Está aí o trabalho de Benchmarking. A meu ver, o quadro não é assim de desolação, mas a interpretação é de cada um. À diretoria atual e futuras do nosso Galo: Já sabem onde o calo aperta. Então tratem de repetir a estratégia de 2013 e trazer logo uns Campeonatos Brasileiros e umas Copas do Brasil, pois já estamos de saco cheio da soberba rival!