Me propus, na semana passada, a prosseguir neste primeiro texto de 2021 o relato iniciado na última 2020, sobre os jogadores que, com a camisa nº 2 do Galo, sentiram na pele o mesmo que Guga tem sofrido nos dias atuais. Isso mesmo: a lateral direita do Galo é uma posição muito exigida e sobre os jogadores que a ocupam pesa uma cobrança muito mais rígida do que a que é feita sobre jogadores de outras posições.
Eis aí, portanto, um mistério a ser esclarecido. No Galo, e respeitadas as devidas exceções, como bem definiu o amigo Paulo Peixoto na semana passada, essa tem sido uma posição “historicamente vulnerável”. Não consigo, e você provavelmente também não, entender o motivo da dificuldade que os clubes brasileiros têm para encontrar bons atletas capazes de brilhar numa das posições mais versáteis do futebol. O lateral direito (mais até do que o esquerdo), sabe-se lá por que, é um dos poucos jogadores que podem brilhar em qualquer posição do campo. Com o elenco do Galo não é diferente.
Ao longo da história atleticana, alguns laterais direitos souberam atacar e defender com tanta eficiência que Guga, com todo talento e inteligência que tem, nada perderia se revisse os videoteipes antigos para ver como eles jogavam. Se fizesse isso, aprenderia que o bom lateral é aquele que parte para o ataque sem deixar a defesa desguarnecida. Ou, se preferir, que marca com eficiência e, sempre que possível, vai ao ataque para armar jogadas vencedoras. Sim. O Galo já teve alguns nomes de primeiríssima linha nessa posição tão nobre.
Um dos primeiros times do Atlético que vi no Mineirão, já lá se vão cinquenta e poucos anos, tinha uma escalação que se iniciava com o goleiro Fábio (sim, o Galo já teve no gol um jogador com esse nome; a diferença entre ele e um certo homônimo mais recente é que nosso Fábio nunca jogava de costas para o ataque adversário), e o grande Humberto Monteiro na lateral direita…
Era impossível não admirar a elegância daquele sujeito esguio, negro como um rei Malê (quem vier me acusar de preconceito por essa definição vá, por favor, estudar a História do Brasil), com 1m80cm de altura, que jogava sério sem abrir mão, durante a partida, do sorriso que era sua marca registrada. Foi um dos primeiros laterais do futebol moderno a fazer das subidas para o ataque uma jogada de rotina e muito antes do enganador Cláudio Coutinho (que Deus o tenha) popularizar essa expressão, executava o “overlapping” melhor do que qualquer outro. Depois, caso o time perdesse a bola, retornava com velocidade e não permitia que os adversários fizessem a festa na retaguarda atleticana.
No anos de 1970 e de 1971, foi agraciado com a Bola de Prata como o melhor lateral direito do Brasil. O prêmio, que dava prestígio a qualquer jogador, era conferido pela Revista Placar ao melhor de cada posição. Qualquer pessoa que olhasse sem preconceito para as alternativas que o futebol brasileiro dispunha naquele momento seria capaz de afirmar que, se não fossem os critérios bairristas e provincianos que quase sempre marcaram as convocações da CBD (antecessora da CBF), Humberto teria lugar em qualquer seleção brasileira convocada no tempo em que ele jogou no Galo. Inclusive na de 1970, que foi Tri Campeã no México.
Se, dentro de campo, Humberto atuava sempre de cabeça erguida, nunca abrindo mão da elegância, fora dele, às vezes cometia exageros que não tardariam a lhe cobrar um preço elevado. Vaidoso, gastava muito dinheiro com roupas e badalação. Os “slacks” que ele vestia eram feitos sob medida nos melhores alfaiates de Belo Horizonte. O traje consiste numa espécie de jaqueta, de mangas curtas, com quatro bolsos e confeccionada no mesmo tecido das calças.
Inspirado nas roupas que os ingleses costumavam usar na Índia e nas colônias africanas, o “slack” esteve na moda um certo tempo no Brasil e Humberto tinha uma coleção deles. Para quem acha essa uma demonstração suficiente de esnobismo, escute essa outra: Humberto costumava chegar aos treinos no banco traseiro de um Ford Galaxie, conduzido por um motorista particular. Considerado um carro beberrão, que consumia um litro de gasolina para percorrer cinco ou seis quilômetros, o Galaxie era visto como o automóvel dos milionários — algo que Humberto, ainda que ganhasse um ótimo salário para os padrões da época, estava longe de ser.
Em 1972, depois de atuar por quatro anos no Galo e ajudar o time a conquistar o título brasileiro, Humberto foi negociado com a Portuguesa de Desportos. Dali foi para o Flamengo, do Rio de Janeiro, de onde retornou a sua terra natal, Vitória. Os excessos acabaram lhe custando caro. Em 1979, poucos anos depois de ter sido campeão brasileiro, o Atlético foi disputar um amistoso no Espírito Santo. Humberto foi reconhecido em estado de indigência por Ângelo, que na época tentava voltar ao futebol depois da agressão covarde que sobre de Neca e Chicão na final do Brasileiro de 1977.
De volta a Belo Horizonte, Ângelo pediu que a Associação dos Atletas Profissionais intercedesse por Humberto. O pedido foi aceito. Mas quando ele chegou a Minas Gerais para resolver sua situação e tentar conseguir a aposentadoria, passou mal e morreu. Tinha apenas 33 anos.
Houve outros jogadores grandes na posição. Dois anos depois da saída de Humberto, a torcida viu a posição ser ocupada por Getúlio — que muitos consideram ainda melhor do que ele. Formado na base alvinegra, ele chegou a desistir da carreira em 1971 — mas foi chamado de volta justamente para suprir a necessidade que o time tinha de um especialista numa posição tão delicada. Dono de um chute potente e preciso, firmou na posição foi negociado com o São Paulo em 1977. Estava, portanto, do lado errado na partida em que o Galo perdeu o título daquele ano.
Seu lugar no Atlético foi ocupado por Alves, um lateral rápido que nunca deu vida fácil para os ponta-esquerda da época. Quem frequentou os jogos do Galo entre 1977 e 1979 pôde ver, na arquibancada do estádio, sempre naquele espaço do Mineirão que os torcedores mais antigos identificavam como a “torcida do América”, uma faixa da torcida organizada criada para homenagear o lateral. O nove era um trocadilho infame: Torcida Alves-Negra. Foi criada por atleticanos de Esmeraldas, terra natal do jogador.
Depois de Alves foi a vez de Orlando —jogador que chegou ao Galo vindo da Caldense e que encantou a torcida quando despontou em 1980. Mais forte do que Alves, Orlando ganhou a posição depois de uma contusão do titular e não saiu mais do time. Chegou a ser convocado por Telê Santana para a Seleção Brasileira. Mas uma contusão o afastou do gramado e ele nunca mais voltou a exibir o mesmo futebol de antes. Mesmo porque, quando voltou, encontrou seu lugar preenchido por um jogador que muitos consideram o melhor que o Galo teve na posição: Nelinho.
A história de Nelinho com o Galo tem lances interessantes. Em 1972, depois da saída de Humberto, o Atlético foi bastar no Clube do Remo, de Belém do Pará, um lateral chamado Aranha. Vencedor da Bola de Prata daquele ano, Aranha abriu lugar no Remo, ao vir para o Galo, para seu reserva Nelinho. Nascido no Rio de Janeiro, com passagem pelo futebol português quando isso não era moda, Nelinho despertou o interesse de clubes do Sudeste do Brasil e teve o azar de ir parar logo na equipe vaidosa de Belo Horizonte. Uma mancha que ele levará para sempre em seu currículo. Já Aranha, não resistiu às cobranças de uma torcida exigente e não conseguiu se firmar no Galo. Logo teve o passe negociado.
Esse erro de escolha poderia ter sido motivo suficiente para afastar Nelinho definitivamente do Galo. Houve outros. Quis o destino que, como lateral direito que era, Nelinho, dono de um dos tiros mais precisos e potentes do futebol brasileiro, fosse o marcador do ponta-esquerda Éder Aleixo, do Galo, que disputava com ele a condição de melhor chutador do Brasil e, talvez, do mundo.
Em 1981, quando aquele time pelo qual jogava (como é mesmo o nome?) enfrentou o Galo no Mineirão, Nelinho se desentendeu com Éder Aleixo por um motivo de menor importância. Os dois discutiram e, de repente, Nelinho saiu pelo Mineirão perseguindo Éder Aleixo, que fugiu da briga. A torcida ficou sem entender o motivo de Éder, que não era dado a levar desaforo para casa, ter corrido do confronto ao invés de partir para cima do agressor.
A razão era simples: o técnico da seleção, Telê Santana, que não aceitava indisciplina, assistia a partida no estádio. Éder sabia que, se tomasse qualquer atitude que desagradasse ao treinador, poderia ficar fora do grupo que disputaria o Mundial da Espanha, no ano seguinte. Optou por dar no pé — no que fez muito bem.
O certo é que, depois da Copa em que Eder foi considerado um dos destaques, Nelinho se cansou de um ambiente em que não era respeitado e, no auge da fama e da forma, se transferiu para o Galo. Ali, encerrou a carreira em 1988 — quando já exercia o cargo de deputado estadual pelo PDT. Como atleta, fez um trabalho brilhante e, mesmo tendo passado por aquele time lá, conquistou o coração da massa pelo talento, pela seriedade e pela elegância com que defendeu as cores alvinegras.
Não foi o único e, certamente, não será o último. Depois dele, vieram outros e, entre eles, Marcos Rocha tem um lugar especial. De todos, talvez é o que tenha uma carreira que mais possa ser comparada à de Guga. Antes de se firmar e tornar ídolo da massa, Marcos Rocha cansou de ser vaiado pelos mesmos corneteiros que hoje não têm a paciência com o jovem lateral.
Cria da base do Galo, foi emprestado ao Uberlândia, ao CRB, à Ponte Preta e até ao América (pode uma coisa dessas?) antes de se firmar definitivamente como ídolo do Galo. A cena de Diego Tardelli (camisa 9) ao lado dele (camisa 2), para mostrar, num jogo disputado em 2014, o placar da maior goleada já aplicada num confronto entre dois clubes de Belo Horizonte foi um dos maiores sinais de identificação com a massa dado por um jogador nos 112 anos, nove meses e onze dias de vida do Galo. O gol de Jô, depois no passe preciso que Rocha deu para Ronaldinho Gaúcho no primeiro jogo da Libertadores de 2013 mostra o que significa ter no time um jogador que usa todos os recursos permitidos pelas regras do futebol para fazer o melhor para seu time. Viva Marcos Rocha!
Em sua história centenária, o Galo teve jogadores exemplares na posição. Caso se inspire neles e procure, aí, uma fonte de inspiração, Guga conseguirá se firmar se tornar o que tem tudo para ser, mas ainda não é: ídolo da torcida alvinegra.
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Boa noite amigos do Galo. Parabéns a nova diretoria do NOSSO GALO pela demissão do Diretor de Futebol, acho que este assunto deveria voltar a ser debatido aqui no blog.
HUMBERTO MONTEIRO E NELINHO , OS DOIS MAIORES LATERAIS DIREITOS DA HISTÓRIA DO GALO.
MAS , CORRETAMENTE OS EXCELENTES ORLANDO , GETÚLIO , ALVES , MARCOS ROCHA , TAMBÉM FORAM CITADOS.
Bom dia a todos Galistas do Blog ! Só um pitaco desse excelente comentário sobre os laterais.Eu me lembro que Humberto Monteiro,chegou ao Galo,um desconhecido,fez sua estréia no Mineirão,ele foi matar uma bola e matou na canela,a torcida ficou apreensiva,depois,recebeu uma bola na lateral e saiu correndo coma bola,tropeçou na mesma e caiu na pista de corrida,aí,levou uma sonara vaia.Depois é o que o excelente Ricardo Galuppo escreveu em sua crônica.Bons tempos.Tem um lateral direito que para mim,foi muito bom.Marcelino,ele fazia o que o Marcos Rocha faz hoje,arremessar a bola dentro da área com as mãos.
Neste jogo de 1981 o Edmar foi agredido com o "banquinho" do gândula,Cerezo sofreu agressão covarde, o bomba foi pisoteado covardemente após sofrer uma falta tudo isto pq o GALO TetraCAMpeão colocou as *cremosas* refrigeradas na roda.
Temos "iBagens"...se liga!
https://youtu.be/q_peTtsYOyU
Nelinho e Getúlio jogaram muita bola,mas penso q o Orlando foi um lateral mais completo q os dois, opinião!
Créditos do link: Acervo do Galo
Cristiano Pacheco.
Saudações Alvinegras
O Guga é ruim de bola. Eu assistia os jogos com meu pai na "Torcida do América".
Não entendo como o nobre colunista, com entendimento enciclopédico, pôde deixar de citar o maior e mais habilidoso lateral direito do nosso galo?
P
A
T
R
I
C.... o Lahm de MG.
Seria interessante fazer uma lista de quantos gols tomamos nesse campeonato, por falha direta ou indireta do Guga.
Só em recuos errados para o goleiro foram dois: Corinthians e Bahia.
Guga não tem a menor condição de ser lateral do Galo, muito menos o titular. Jogador fraquíssimo, péssimo no ataques horroroso na defesa.
Amigalos….
temos que entender que o GALO está passando por um processo de transformação – do clube social, do amadorismo, para o clube empresa, do profissionalismo. a formalização se dará em breve…. Estão costurando isso, preparando o terreno, enxergando um pouco mais na frente…. O futebol brasileiro vai ter que ter gestão empresarial, seja clube-empresa, s.a., ou qualque outra denominação que tenha.
Temos que entender que quem está comandando e colocando dinheiro, são pessoas do mais alto gabarito empresarial e empreendedor… Não são bobos e querem lucrar com o futebol…Enxergaram que esse esporte é o trampolim para meganegócios e mega-lucros…..A nossa sorte é que são Atleticanos da Gema, e o que estão fazendo no GALO, o que é desejo de todos os clubes do Brasil…. A inveja anda matando a mídia e as outras torcidas e os simpatizantes…. Os caras sabem o que fazem e sabem onde querem chegar…. Já disseram que vão transformar o GALO em uma potencia mundial, entre os 4 maiores clubes do Brasil…E eles vão fazer isso.
Temos que parar de ficar questionando sobre almoço grátis…..vocês já perceberam que ao longo da historia do GALO tivemos “N” dirigentes que, ao invés de porem dinheiro, levaram dinheiro…. enriqueceram através do GALO? exemplos recentes temos de sobra… uns até viraram políticos.
Quanto ao Alexandre Matos, acredito que houveram motivos para que os 4Rs o trocassem… Se O AM estivesse bem alinhado com os objetivos e resultados, com certeza seria mantido….
Os caras não vão trazer ninguem incopetente… a grana deles está em jogo…. Então amigalos, tenhamos certeza de que os caras vão fazer e acontecer… vão errar sim, mas vão acertar muito mais….
O GALO será muito maior do que é hoje…. e sua torcida deixará de ser regional para ser mundial….. Pode demorar, mas o que vai acontecer é isso. E nós, que já sofremos, rimos e ficamos felizes com esse time, com certeza colheremos os bons frutos dessa nova era do GALO.
vamos para de achar feijão podre em prato de restaurante caro.
Seguimos em frente…..
GALO SEMPRE….
#fechadocomos4Rs, #fechadocomogalo
Ótimas lembranças! Recordo que até 1993, nosso lateral direito usava a camisa 4. Em 1994, ano da famigerada selegalo, luis carlos winck passou a usar a camisa 2, mantida até os dias de hj pelo jogador da posição. SAN
Boa tarde Galupoo. Respeitando sua opinião esse Guga ao chegar no Galo, na primeira entrevista já disse com todas as letras que não sabe marcar. Pra mim se assemelha ao lateral George Lucas que veio do Grêmio para o Galo. Um enganador. Do mesmo naipe pedi Mailson que não consegue ser titular do lanterna do Brasileirão e do Diego Macedo que chegou em BH dizendo ter um futebol moleque. E outras inconhas já ocuparam a nossa lateral direita tais como Rafael Cruz, Patrick, Dinho, Bruno, Alex Silva, etc. A torcida tem é paciência demais com tanta tranqueira que já vestiu a camisa 2 do Galo. Quantos gols o Guga fez no atual Brasileirão? Quantas assistências para gols? Se não me falha a memória, esse lateral deu duas assistências para gols adversários estando com pleno dominio da bola e o seu reserva completou as patacoadas dos pseudolaterais no jogo contra o Santos, no lance que provocou a expulsão do goleiro Rafael. Na minha avaliação estamos à pé de laterais direitos. Penso até que o Talison do Sub20, deve ser melhor que Guga e Mariano. Para mim Guga, Rever, Mariano, Bueno,Victor ( aquela atuação contra o Santos não pode ser esquecida), Marquinhos precisam sumir do nosso Galo.