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E se Sampaoli for embora agora?

Fotos: Pedro Souza / Atlético
Ricardo Galuppo

Sem intenção de brincar com assunto sério, às vezes acho que a relação da massa com os treinadores do Galo lembram os versos de um velho samba canção do capixaba Raul Sampaio: “Quem eu quero não me quer, quem me quer mando embora.” Melodramas à parte, o que tem acontecido com o argentino Jorge Sampaoli lembra o que houve no passado com outros treinadores: na hora das derrotas, recebe críticas tão eloquentes e imerecidas quanto os elogios que vêm com as vitórias. 

Enquanto estiver no Galo, isso não vai mudar. Ele só se tornará uma unanimidade quando for embora. Dias atrás, no calor de uma dessas notícias que volta e meia tentam transformar em balbúrdia tudo o que diz respeito ao Galo, espalhou-se que o careca teria se irritado com os protestos de uma ala da torcida e ameaçado sair. Não apareceu ninguém para mostrar a cara e dizer que ouviu a notícia da boca do próprio Sampaoli. Mesmo assim, a história se espalhou e isso bastou para que uma avalanche de mensagens de apoio desabasse nas redes sociais. 

Pois bem… Mais recentemente, mesmo com a instabilidade do Galo num campeonato que já esteve em suas mãos, Sampaoli manifestou a intenção de ficar até o fim do contrato. Para quê? Isso bastou para trazer à luz gente que adoraria ver o careca sair e levar com ele o goleiro Everson — que mesmo tendo tomado gols evitáveis (como o da derrota diante do pavoroso Goiás, na quarta-feira passada) não merece ser tratado como a reencarnação de Judas Iscariotes.

O PATRIC DO GOL

Por mais que meu primo Dênis Galuppo e meu amigo Paulo Caixeta, de Patrocínio, discordem, insisto que Everson está longe de merecer tanta implicância. Acho que a posição na tabela não seria diferente se Rafael fosse o titular. A maioria dos gols que o Galo tem levado são consequência de falhas infantis no sistema defensivo e não de erros individuais do goleiro — mas querer provar isso aos que já elegeram Everson como o grande culpado é pura perda de tempo. 

A diferença entre os dois goleiros, esclarece outro amigo, o jornalista Tércio Luz, é que “um usa barba e bigode e outro só barba, sem bigode…” Concordo com isso, sem a menor esperança de ver a ira contra Everson (insuflada por gente que viu seu poder de influenciar na escalação do Galo minguar desde a chegada do gringo) perder força. No ponto em que a coisa chegou, o preferido de Sampaoli se tornou uma espécie de Patric do gol: pode demonstrar o amor à camisa que for, pode se empenhar ao máximo, pode jogar com as mãos, com os pés, com o queixo ou com a barriga (só não de costas, por favor!). Não importa: sempre haverá alguém disposto a culpá-lo.

Fotos: Pedro Souza / Atlético
CONTRA O REBAIXAMENTO

Tudo bem. É verdade que, na hipótese de Sampaoli resolver se mandar agora, no fim do Brasileirão, o dano será menor do que teria sido se ele tivesse batido em retirada ali pelo mês de outubro, quando uma sucessão de maus resultados tirou o Galo de uma liderança tranquila. Se ele tivesse abandonado o barco àquela altura, o time estaria neste momento em luta contra o rebaixamento e não conservando chances de título. Elas são remotas, mas eu ainda acredito.

Tem gente que assegura que ele não fica. Um amigo muito bem informado telefonou na sexta-feira passada para dizer que já existe, inclusive, uma decisão tomada nesse sentido: nem ele quer permanecer nem a nova diretoria deseja que ele fique. A saída seria anunciada assim que o campeonato tivesse um desfecho. Será?

Pelo sim, pelo não, prefiro acreditar que depois de ter pedido a contratação de tantos jogadores e de ter feito um time à sua imagem e semelhança, Sampaoli não vai simplesmente apagar a luz de seu projeto e se mandar para França, para a China, para a Colômbia ou para qualquer outro lugar. Mas se ele fizer isso, o que vai acontecer? Essa é a questão.

Haverá uma mudança de rumo, mas logo ninguém mais se lembrará dele. Outro virá, ocupará o lugar e a era Sampaoli não passará de mais uma página virada na vida de um clube que, nos últimos anos, errou mais do que acertou quando se trata de escolher treinadores. Sim. O problema nunca é o treinador que sai, mas o que vem… 

O mais bem sucedido dos que passaram recentemente pelo túnel atleticano, Cuca, chegou sob descrédito geral em 2011, perdeu as primeiras seis partidas, conseguiu livrar o time da queda para a segunda divisão e encerrou a temporada com uma goleada indesculpável. No ano seguinte, montou um time competitivo, que se firmou como o melhor do Brasil depois da chegada de Ronaldinho Gaúcho e do goleiro Victor, em junho. 

Perdeu o campeonato por força de uma armação abjeta a favor do Fluminense, mas no ano seguinte, conquistou um dos maiores títulos da história alvinegra, a Libertadores de 2013. Ídolo da torcida, pôs tudo a perder quando mostrou sua verdadeira face na decisão do campeonato mundial, no Marrocos. Errou a escalação, falou um monte de besteiras e, depois de chegar à glória, saiu do Galo pela mesma porta que tinha entrado. A dos fundos.

foto: Bruno Cantini

Tem gente que já se esqueceu da instabilidade permanente de Cuca e dos apagões que ele tinha quando desaparecia e deixava a equipe aos cuidados de seu irmão e anjo da guarda, Cuquinha. Tanto se esqueceu que, agora, tem gente dizendo que, maluco por maluco, seria melhor ter o Cuca do que o Sampaoli. Não sei.

Só sei que essa história de repatriar quem já fez um bom trabalho que ficou incompleto, não costuma ser uma boa ideia. Há vários exemplos, como o de Levir Culpi, que fez um trabalho de destaque em 1994 e 1995. Depois, trocou o clube (veja só!) pela Portuguesa de Desportos e, meses mais tarde, apareceu do outro lado da lagoa para treinar um time que, hoje em cia, se esforça para manter a vaidade na segunda divisão. 

O treinador foi e voltou algumas vezes. A torcida será eternamente grata a Levir que, em 2006, aceitou o desafio de treinar o Galo que, com dignidade e sem faniquitos, havia caído para a segunda divisão no ano anterior. Depois, ele conquistou com brilho a Copa do Brasil de 2014, mas na sequência, se perdeu num time que, em campo, parecia perdido como uma barata tonta.

Poderia falar de muitos outros treinadores mais ou menos afamados, que chegaram com pinta de vitoriosos, foram embora sem deixar saudade e abandonaram para trás equipes desfiguradas e desmotivadas por seus conceitos absurdos. Poderia falar, por exemplo, de Emmerson Leão, que não conseguiu, ao voltar para o Galo, repetir a passagem promissora de 1995, quando ainda procurava mostrar seu valor como treinador. 

http://globoesporte.globo.com/
BIRUTA DE AEROPORTO

Também poderia falar daquele tal Geninho — que voltou a ser contratado pela diretoria mesmo depois do papelão que protagonizou em 2002. Só para recordar: naquele ano, o Galo enfrentou o Corinthians pelas quartas de final do último campeonato disputado antes da fase dos pontos corridos. Depois de começar a partida perdendo por 2 a 0, o time se acertou e, com gols de Michel e Mancini, encerrou o primeiro tempo empatado em 2 a 2. No intervalo, Geninho cuidou de desfazer o que os jogadores tinham feito em campo e abriu uma avenida para que o Corinthians fizesse mais quatro gols. 

A torcida perdoou, porque olhava para o conjunto da obra e, apesar daquela lambança atribuída à “fatilidade”, aprovava o trabalho feito até ali. E contava com ele para a temporada de 2003 quando soube que, a convite de um parente com quem se encontrara em BH na véspera do vexame de 2002, se tornaria treinador do mesmo Corinthians. A mudança escancarou o tamanho do caráter de Geninho e, desde então, sua carreira embicou ladeira abaixo. Nem a tentativa de “pagar a dívida com a torcida”, feita em 2008, devolveu a ele o prestígio perdido.

Poderia acrescentar muitos nomes a essa lista, mas não é o caso. O prestígio de Sampaoli junto à torcida parece uma biruta de aeroporto: muda de direção ao sabor dos resultados. Se o time ganha, ele é o melhor e o mais competente do mundo. Se perde, é um inventor de moda que exige muito e entrega pouco. A verdade dessa história não está de um lado e nem de outro. 

Se eu fosse ele, não iria embora agora que a diretoria está preenchendo a lacuna de experiência que faltava em posições chave no elenco de 2020. Mas se for, paciência: outro virá e, caso resista às cornetadas de uma torcida que (nas palavras do ex-presidente Alexandre Kalil) às vezes prima pela chatura, poderá colher as glórias pelo trabalho que ele iniciou. O Galo está no limiar de uma nova era, isso é evidente. E sempre será maior do que qualquer treinador que ocupe o banco ou do que qualquer jogador que vista a camisa alvinegra.

Blogueiro

View Comments

  • VIVA OS 4 R.
    COMANDADOS POR RUBENS E RAFAEL MENIN , RICARDO GUIMARÃES E RENATO SALVADOR.
    MAS , ELES QUE ESTÃO COMANDANDO O GALO PRECISAM COBRAR E EXIGIR MAIS DOS SEUS COMANDADOS.
    E NÃO DAR LIBERDADE PARA TÉCNICO NENHUM COMANDAR CONTRATAÇÕES DE JOGADORES.
    O PREJUÍZO QUE O DOIDO DO SAMPAOLI VAI DEIXAR NÃO SERÁ PEQUENO.

    • E essas contratações, compramos jogadores de idade avançada caros e depois vendemos pela metade, se não sairem de graça

  • O técnico incompetente Sampaoli foi pai esta semana. Todo pai novo tem direito a folga. Ele podia ficar em BH e deixar ir comandar o time no Rio com o CBFLU o seu auxiliar, acho que seria melhor.
    Ah, esquece Cuca (no mundial avisou antes do jogo que ia sair e deu no que deu), Renato não bem quisto por nós Atleticanos.
    Aqui é Galo p****

  • Sampaoli escala mal, não vê o jogo, toma nós táticos com frequência, mexe mal. Mas é endeusado por parte da imprensa chapa-branca.
    O que me preocupa é essa história de dinheiro infindável dos Mecenas. Isso sempre acaba mal. Acaba na série B.

  • Se realmente o Sampaoli recebe R$ 1.600.000,00 como o Jaeci Carvalho noticiou já passou foi da hora de ele ir embora. Nem no 3o. Lugar vamos ficar.

  • Saiu a lista dos convocados pra o jogo de amanhã. Zaracho está fora pq está fora de forma. Será que é isso mesmo ou será que Sampaoli percebeu que seu conterrâneo não vale a chuteira que calça!?

    Amanhã não assistirei ao jogo pq o time vai entrar em campo com Everson, Allan e aquela maldita camisa branca.
    Se o Galo vencer, assumirei que eu era o pé frio e me comprometo a não assistir a mais nenhuma partida nesse campeonato. Quem sabe assim o Galo não se sagra campeão!?

  • O Galo continua RUMO ao que PLANEJOU : ser FORTE , VINGADOR E VENCEDOR !

    Ué , ele não é isso tudo ainda ?
    A gente canta o quê há décadas ?

    É cada uma que parece duas ...

    E podem criticar à vontade a cornetagem pois que sempre existiu e vai continuar a existir , queira a NOVA ORDEM ou não .

      • Quer que eu seja bem sincero:
        Prefiro ficar cem anos sem ganhar o brasileiro, do que dois anos...quiçá mais na série B.
        É muito vexame, pra quem se julgava o Barcelona das Américas.

  • Sapaolli que ir embora? Sem problemas: pague a multa contratual (se é que ela realmente existe) e vá embora!

    Nessa relação Sampaolli X Atlético, eu não entendo um ponto: o cara tem contrato até o final de 2021 com multa de 5 milhões por quebra. Por quais motivos os Donos do Atlético querem estender o contrato até o final de 2022?

    Éverson, o Chama-gol é frangueiro, catador de borboleta (saudações, Kafunga!!) inseguro e, além de tudo isso, tem uma barba horrorosa e anti-higiênica é muito feio! Baseado em tudo isso, só digo uma coisa: Fora do meu Galo! E leve junto a sua esposa para acalentar-te! Pronto, falei... quer dizer, digitei e quem quiser discordar, fique à vontade!

    Os textos do blog e os comentários estão ficando por demais longos. Vocês estão pensando que o meu patrão ne paga apenas para ficar lendo as bíblias que são publicadas no blog?? O Paulo Silva publica o Netflix (ri demais dessa, Barata!); O GalOppo vem com testamentos que precisam ser publicados em duas partes (pela manhã e às 13:13h) e vários amigos com textos quilométricos... Sem essa, moçada!! Vamos sintetizar, pô!!!

    ps.: ironic mode on!!!

    • Teobaldo, realy, ironic mode on.
      Você achou o Netflix ótimo.
      Pois eu ri demais com o Dádó.
      Ser corneteiro tem essa vantagem,
      nós temos senso de humor.
      Abraço.

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