Confesso que me assustei, na semana passada, quando alguns Atleticanos que merecem meu respeito demonstraram afobação diante do que consideram demora da diretoria em achar um treinador para o lugar de Cuca. Em meio às discussões, houve até quem considerasse a resposta negativa que teria sido dada pelo português Jorge Jesus como um sinal de fraqueza do Campeão Brasileiro de 2021.
A falta de um posicionamento esclarecedor do clube, é verdade, abriu espaço para um monte de palpite sem pé nem cabeça. A diretoria, claro, atiçou a brasa das especulações ao soltar uma nova oficial mal redigida, vaga e amadora que não jogava o menor facho de luz sobre a situação. Teria sido melhor ficar em silêncio.
Em meio à falta de notícias, a rapaziada que comenta futebol na TV por assinatura chegou até mencionar num programa matinal da segunda-feira que Renato Gaúcho interessa ao Atlético. É de lascar o cano! Só quem não levou a sério a reação da Massa diante do convite feito por Alexandre Mattos ao elemento Thiago Neves, na temporada retrasada, pode atribuir à diretoria a intenção de trazer esse cidadão para a Cidade do Galo.
Tudo o que o Galo não precisa agora é de afobação! O anúncio do nome de um técnico à altura de Cuca é uma questão de tempo. Longe de mim, fazer o papel de Cândido, o protagonista ingênuo da sátira de Voltaire, que mostrava otimismo mesmo diante das situações mais tenebrosas. Mas, sincera e honestamente, imaginar que o Galo deixará de ser competitivo este ano só porque ainda não anunciou de bate pronto o nome do novo treinador me parece um absurdo.
Isso talvez se explique por um tipo de síndrome que pode ser chamada de TPT! Tensão Pré-Treinador. Mais do que títulos no currículo, o treinador que chegar, seja ele quem for, precisa ter boas ideias técnicas e vontade de aplicá-las. Telê Santana, quando chegou ao Galo pela primeira vez, em 1970, era um jovem de 38 anos que, tinha assumido o comando do Fluminense do Rio de Janeiro durante uma crise no ano interior e conquistado o campeonato carioca. Não tinha fama nem teve prestígio para ter seu contrato renovado pelo clube carioca. Mas desde que pôs os pés na Vila Olímpica, demonstrou respeito pelo ambiente que encontrou e pela torcida que o acolheu.
A história, sabemos, não se repete. Profissionais talentosos, estudiosos, atualizados, aplicados, dedicados, detalhistas e com a autoridade de Telê são raríssimos. O passado não volta, mas serve de lição. O novo treinador precisa presentear a Massa com uma temporada igual à de 2021? Acredito que não. Acho até que será muito difícil haver outro momento tão mágico quanto aquele. Cito, aqui, então, a grande lição deixada por Cuca depois daquela derrota para o Goianiense num momento em que já tinha gente achando o time imbatível: treinador nenhum pode assegurar que conquistará títulos. O que ele precisa é preparar e escalar o time da melhor maneira possível e entrar para ganhar em todos os campeonatos que disputar.
Quando Cuca chegou para substituir o careca Jorge Sampaoli, em março do ano passado, trouxe a grande virtude de saber montar equipes vitoriosas e o defeito de seu temperamento instável. A qualquer momento, ele poderia surtar, como surtou no Marrocos, virar as costas e dar no pé.
Tudo parecia caminhar bem, com o clube iniciando a temporada de 2022 sem ter que ir atrás de treinador, quando Cuca deu uma de Cuca, alegou cansaço e pediu para sair. Por que ele fez isso? Não sei e a essa altura, sinceramente, não quero saber.
Nenhum treinador de nenhuma equipe brasileira teve em 2021 condições de trabalho, qualidade de elenco e apoio da torcida iguais às que Cuca teve no Galo. Ele chegou disposto a trabalhar, mas usufruiu de uma estrutura que vem sendo construída tijolo por tijolo desde o início deste século. Diz a lenda que Emmerson Leão, quando chegou para sua primeira passagem pelo Galo, em 1997, rodou a baiana para ter um mínimo de privacidade no cubículo reservado ao treinador do time profissional na Vila Olímpica.
Naquela época, como o clube não oferecia nada em termos de estrutura, o técnico da vez sempre culpava o clube por seus erros e fracassos. As situação foi sendo posta no lugar e hoje, como é do conhecimento da Massa, o Atlético proporciona ao treinador e aos jogadores o que há de mais moderno em matéria de recursos e de condições de trabalho.
Mas tem um detalhe: nem mesmo nos momentos mais críticos da história, encontrar técnicos com currículos mais ou menos atraentes nunca foi problema para o Galo. Quer exemplos? Vamos lá! Depois da tentativa de promover Humberto Ramos no início da temporada de 2000, o time passou pelas mãos do interino João Francisco, logo substituído por Márcio Araújo — que chegou a BH com o prestígio de ter sido auxiliar de Telê no Palmeiras. Não deu certo!
Para o lugar dele veio o enganador Carlos Alberto Parreira com aquele hábito de esconder a própria incompetência atrás da mais carioca das arrogâncias. De todos os funcionários que já passaram pelo Galo, Parreira talvez tenha sido, com sua visão Riocêntrica e provinciana do futebol, o que mais se colocou acima do clube. Não segurou o rojão e abriu vaga para Nedo Xavier — que pode até ter menos nome, mas é muito mais competente do que ele. .
A situação seguiu mais ou menos na mesma linha pelos anos seguintes. Sempre que um treinador ia embora, não faltavam nomes “experientes” ou profissionais “promissores” de olho em seu lugar. A fila sempre andava. Em 2004, foram quatro: Paulo Bonamigo, Jair Picerni, Mário Sérgio e Procópio Cardoso — que chegou na reta final do Brasileirão e conseguiu adiar a queda para a Série B. No ano seguinte, não teve jeito. Nas mãos do embusteiro Tite (outro figurão que não merece nosso respeito) e de Marco Aurélio, o Galo mergulhou para a Segunda Divisão.
Recordações como essas, é evidente, não trazem o menor prazer nem se destinam a tirar o direito dos cricríticos atuais de se queixar da demora para encontrar um treinador. Se menciono os nomes de Parreira e Tite, além dos de Geninho Mercenário, Dorival Júnior, Wanderley Luxemburgo, Paulo Autuori, Oswaldo de Oliveira e Rafael Dudamel, que deixaram rastros malcheirosos após suas passagens, é para lembrar que eles se foram e o Galo ficou. Por mais que tenham tentado, nenhum deles conseguiu destruir o Atlético! Sendo assim, por que razão esperar o desastre depois da passagem vitoriosa de Cuca?
A tal da TPT se cura com cerveja gelada, bebida em torno de uma mesa cheia de Atleticanos. O Galo encontrará um técnico capaz de dar sequência ao que foi feito em 2021? Claro que sim! Devo lembrar, porém, que os trabalhos mal feitos do passado sempre serviram de justificativa para o fracasso dos treinadores que vinham na sequência. Nesse caso, os trabalhos bem feitos recentemente reduzem o repertório de desculpas e elevam o grau de exigência para quem chegar agora.
O que a Massa não pode é, porque ganhou quase tudo no ano passado, cair no engodo de que a grandeza de um clube se reduz aos títulos que conquista. Precisamos nos benzer todos os dias para nunca reproduzir os exemplos de certas torcidas arrogantes e vaidosas que existem por aí. Nem passar a achar, como a vaidade faz supor, que as taças levantadas a qualquer preço representam grandeza. A história mostra que não é bem assim.
Ainda que a diretoria demore mais algumas horas ou dias para anunciar um nome que corresponda às ambições da Massa, o novo treinador chegará e terá o tempo necessário para conhecer o elenco e ajustar o time antes que se iniciem as competições mais importantes da temporada. A contar da reapresentação dos jogadores, marcada para o próximo dia 17, o técnico terá 79 dias (pouco mais de dois meses e meio) para preparar o time para a fase de grupo da Libertadores, prevista para começar no dia 6 de abril.
A abertura do Brasileirão acontecerá no dia 10 de abril, e da Copa do Brasil, no dia 20 de abril. Apenas para efeito de comparação: Cuca assumiu o Galo no dia 16 de março do ano passado e teve 36 dias — um mês e pouco menos de uma semana — para acertar o time para a estreia no torneio continental!
Antes do início da Libertadores, tudo o que o time tem a disputar é o campeonato mineiro — onde terá o América como principal adversário. Tem também aquele jogo caça-níqueis marcado para o dia 20 de fevereiro, que decidirá quem será o campeão da tal de Supercopa do Brasil. A rigor, essa taça deveria ser entregue ao Galo depois de uma partida do Galo (campeão do Brasileirão) contra o Galo (campeão da Copa do Brasil). Mas como a cartolagem parece não se conformar com a superioridade do alvinegro, resolveu dar ao Flamengaço Classificadaço a chance de medir forças com o melhor time do país.
Se o Galo vencer, ótimo. Se perder, não venham me dizer que tudo está errado, que o fim do mundo está próximo e que o Galo já não é mais o mesmo do ano passado! Perder é sempre ruim. Perder para o mais queridinho da cartolagem, pior ainda. Mas se existe um título do qual eu abriria mão em 2022, é o dessa tal Supercopa do Brasil. Podem ficar com ele, desde que depois não venham achar que isso tira as chances do Atlético na Libertadores, na Copa do Brasil e no Brasileirão. Bola pra frente! Aqui é Galo!!!
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JUAN PABLO VOJVODA É UM BOM NOME.
Técnicos europeus: voltarão para o velho continente, como Sampaoli e JJ na primeira oportunidade que tiverem para dirigir um clube qualquer!
Técnicos sul-americanos: Sonho é o Galhardo. Seja quem for tem que ter estofo para lidar com os personagens do Galo. Becacece seria minha segunda opção. Vojvoda ainda não está na estatura necessária.
Técnicos brasileiros: Renato ganhou um monte de títulos, por mais chato e desagradável que seja. Não consigo pensar em nenhum outro!
Ao contrario do escriba, penso que a supercopa É MUITO IMPORTANTE.
Primeiro porque vale 5k. Segundo porque é contra o Flamengo. Só isso já dá significativo a disputa, além de valer um título também. O Galo precisa urgentemente de um técnico, essa demora é irritante, a lentidão do Caetano é inexplicável. vai acabar sendo o Renato Gaucho, e se isso confirmar, tem que apoiar. Aqui é galo, torcemos pela instituição.
De acordo com o Breno galante que é um cara muito sensato os jogadores do Atlético gostam da ideia de Renato Gaúcho.
o diretor do Fortaleza teve competência para ir buscar um treinador que ninguém conhecia e agora a torcida do Atlético está querendo. Por que que o diretor do Atlético não tem a mesma competência para encontrar um treinador altura do galo?
Boa tarde amigos do Galo. Será que o NOSSO GALO já pensou em contratar o Juan Pablo Vojvoda, técnico do Fortaleza?
BOM DIA A TODOS.
ACHO QUE RODRIGO CAETANDO ESTÁ CONVERSANDO DEMAIS E LEVANDO O FORA DE ALGUNS TREINADORES SEM NECESSIDADE.
ORA , TÉCNICO SE CONTRATA É EM SIGILO , QUEM CONVERSA DEMAIS DÁ BOM DIA A CAVALO.
É COMPLETAMENTE DESNECESSÁRIO ESSE DESGASTE , QUE VAI SENDO ALARDEADO POR ESSA MÍDIA PÔDRE .
ESSA É A MINHA OPINIÃO.
Eu não ouvi o Rodrigo Caetano abrir a boca. Tudo que está saindo na mídia é especulação deles mesmos. A diretoria do Galo está trabalhando em silêncio. Como deve ser. Agora é impossível impedir a especulação que vem de fora do Galo.
Ufa!!! Como é bom ler uma crônica coerente e sensata! Parabéns, Ricardo Galuppo pela serenidade da análise. É isso aí, o Galo está buscando um treinador com critério para minimizar a chance de erro. Enquanto isso, os caça-cliques ficam criando especulações malucas e anunciando o Apocalipse. O torcedor do Galo precisa saber separar o joio do trigo. Basta de dar espaço a oportunista!
Parabéns, Galuppo, pelo excelente texto. É sempre bom leituras inteligentes, sensíveis e, principalmente,bem informadas, sobre o nosso querido e amado galão da massa!
Prezado Domingos Sávio,
Exatamente conforme você pensou: técnico europeu no Atlético é varada n'água, justamente pelos seus argumentos.
Que assunto treinador está desgastante, está, pelos tantos "NÃOS" recebidos.
Como a lista dos distribuidores de camisa só reduz, não é absurdo cogitar que o treinador que chegar poderá ser do tipo "vocês vão ter que me engolir".
Renato Gaúcho, por exemplo.
Como você é da turma que não engole o RG, bom será começar a ruminar o nome dele como novo treinador do Galo…
Ou isso nunca?